terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Atravessando o Portal do Tempo VIII


VIII           Um homem  não é um ser que tem a postura ereta.
                O homem é um ser em processo de transformação.
            Quando mais ele se capacita a si mesmo a vir a Ser,
       mais ele dá cumprimento à sua verdadeira missão”.
                                                                                               Rodolph Steiner

Acordou com o toque do telefone. Olhou as horas. Dez e trinta.
Pegou de má vontade o aparelho e com voz ainda sonolenta atendeu.
-          Clara? É Lúcia. E aí, vamos dar uma caminhada?
-           Nem pensar, Lúcia. Fui dormir muito tarde, ainda nem levantei.
-          O que?  Mas você acorda tão cedo!  Aconteceu alguma coisa?
-  Nada. Eu e João conversamos um tempo e depois fiquei aqui pensando na vida....não estou pensando em sair.
- Então vou dar uma volta na praia, pegar um sol. Tem certeza que não quer ir?
Clara queria ficar sozinha. Tinha muito o que pensar. Gostava de ficar assim, quietinha, deitada enquanto relembrava os acontecimentos. Mais uma vez, juntou os dedos e os levou à testa. Ficou assim, quieta, lembrando do “Irmão”. Começou a sentir uma sensação de formigamento nas mãos e na testa. A sensação crescia à medida que prestava mais atenção nela. Uma espécie de  calor que se irradiava por todo o corpo.
De repente,  pareceu que ouvia as palavras dele na sua  mente:
“ As coisas acontecem na hora certa, nem antes e nem depois.”         
- Que coisas?  - Se pegou perguntando. – O que significam essas palavras? Será que vai acontecer alguma coisa que não sei? E essa sensação na testa, será algo bom ou mau? 
 Tantas perguntas para as quais, Clara  não tem respostas lógicas. Onde buscar essas respostas? Alguém deve saber me responder.
-          Claro! De repente, levantou-se. É claro! Vou à floresta.  
Em poucos minutos saía de casa, comendo uma maçã.
- Lúcia pode pensar que não quis a sua companhia. Mas depois explico porque mudei de idéia.
            Já caminhava pelo bosque quando percebeu aquela ansiedade sua conhecida. Ele estaria lá? Se não o encontrasse teria que  continuar sem respostas para suas dúvidas, isso não a agradava.
            Dirigiu-se imediatamente para o local onde o encontrara.
Ao se aproximar, que  desilusão!  Não estava lá. Olhou ao redor. Nada! Nem nas proximidades. Um desencanto tomou conta de Clara. Estava certa que hoje o encontraria. Sentou-se no velho tronco com ar desolado, disposta a esperar. O sol já estava alto e ele não apareceu.
Começou a caminhar por ali, como querendo  aliviar a ansiedade e a decepção. Sentia-se frustrada. Mais que isso, muito sozinha. Sentia uma estranha sensação de saudade.
- Queria tanto vê-lo! – pensou,  sentindo-se  triste. Tenho tanto a perguntar-lhe.  Ele disse que eu poderia encontrá-lo. Mas como?
Quase sem perceber dirigiu-se para a trilha que percorreu com quando ele a levou até a gruta.  Mas por mais que andasse, não encontrou o caminho.  Resolveu seguir o percurso do pequeno riacho.  Tinha certeza que ele passava ao lado da casinha do velho. Em alguns momentos precisou molhar os pés, entrando na beira do riacho. Estranhamente, já havia andado algum tempo e não chegava.
- Parece que essa gruta está oculta por algum véu ou alguma coisa que não permita que seja vista. Não é possível, meu Deus! Onde está, Irmão? Preciso tanto vê-lo! Preciso falar-lhe, Senhor!
Com um jeito meio infantil, levou os dedos à testa. Ficou assim alguns segundos na esperança que ele aparecesse. Depois sentou-se numa pedra ao lado do pequeno rio. Estava cansada. Emocionalmente cansada.
Ficou ali, quieta, esperando por muito tempo.
Já   era tarde quando voltou para casa. Precisava dormir. Tanto o corpo quanto a mente necessitavam descanso. Tão logo se deitou e adormeceu.  Quantas horas se passaram? Já estava escuro.  O som do telefone  estava muito  longe. Queria ficar assim, quieta, não queria conversar com ninguém.
Um movimento ao seu lado fez o coração bateu mais forte. Aquele  gnomo que parecia ser um chefe do grupo que  já havia visto estava ali, ao seu lado. Nas mãos tinha algumas pequenas  pedras, de cor verde.  Muito bonitas, luminosas. Uma delas de tom verde esmeralda parecia projetar uma luz belíssima que iluminava todo o quarto.
Então ele, fez aquele gesto que ela aprendera com  Irmão: juntou  os dedos e os levou à testa, depois uniu as mãos e levou-as ao peito num  gesto de respeito. Aproximou-se de Clara,  pegou as suas mãos  e depositou nelas as pedras  que trazia.  A sua voz era doce quando disse que o verde é o raio da cura.  E que seria muito bom se ela aprendesse sobre o poder da cura dos cristais verdes, e colocasse esse saber à disposição de que precisa. Ela podia sentir  o calor emitido pelos cristais....
Clara tocou  lençol, procurando as pedras.  Elas tinham que estar ali. Tinha certeza! Não, não queria acreditar que aquilo fora mais um sonho.
Olhou o relógio e viu que era hora de se arrumar para trabalhar. Havia dormido direto.
- Ótimo! Foi muito bom, estava precisando descansar. Mas que pena....
Levantou com uma desagradável sensação de frustração.

A primeira cliente era Joana, uma menina doce de seis anos que sofria de asma. Chegou com olhar maroto dizendo que trouxe um presente lindo para a doutora. Lindo! Repetiu várias vezes.
Clara abraçou  a menina e recebeu o pequeno embrulho. Ao abrir, não pode disfarçar a surpresa. O presente  era um saquinho de tecido transparente  contendo algumas  pedras verdes. Não sabia o que falar.
-          Não são lindas? – perguntou a menina.
Não sabia o que responder, ou melhor não podia falar, perdera a voz.
Ficou parada, olhando aqueles olhinhos que brilhavam diante dela esperando uma resposta.
-          Claro, querida, são lindas.
Beijou carinhosamente a pequena Joana e por mais que tentasse não conseguiu retomar a  naturalidade. Que coisa estranha. Muita coincidência!
O dia passou rápido. Felizmente tinha  muitos pacientes para atender. Dessa maneira, não pode pensar muito em tudo que vinha acontecendo. Mas e o gnomo? E a menina dando-lhe as pedras? Teria sido usada como instrumento pelo gnomo? Dizem que o Plano invisível faz essas coisas.
Por mais que tentasse não encontrava respostas.
Já  se preparava  para deitar  quando João Carlos telefonou. Queria saber como estava, como passara o domingo. Ao final de meia hora de papo, combinaram um encontro durante a semana.
Sentia um carinho muito grande pelo novo amigo. Tinha poucos, na verdade.  Sempre foi muito seletiva com respeito às amizades. Amigo, para ela, era alguém em quem possa confiar. E confiava nele.
Enquanto se ajeitava nas cobertas, relembrou os últimos acontecimentos.
 Não sabia bem o que pensar, como avaliar. Sabia apenas que nas últimas semanas  parecia-lhe que havia perdido completamente a capacidade de discernimento.  Chegara mesmo a  se perguntar se alguns fatos eram  realidade ou fantasia. Teria perdido a bússola?

Pensou novamente em João Carlos. Também ele parece ter passado por experiências bem estranhas.  Nesse caso, ela poderia acreditar estar vivendo também um momento semelhante? Realmente, tudo isso  fugia à sua capacidade de compreensão.  Pelos menos, o amigo tinha o pai para responder às suas indagações.  E ela?
Pensou em Lúcia.  Era sua  amiga e agora mais amadurecida mostrava ser bem confiável.  Não.  Não gostava  de ficar assim, dependendo a todo momento de alguém para ajudá-la a pensar.  Precisava encontrar um outro meio de encontrar respostas. 
Ah! Se pelo menos tivesse encontrado o bom velhinho do bosque!  Ele parecia saber tudo aquilo que estava gerando angústia. Angústia! Pela primeira vez teve plena consciência do sentimento que sentia. Angústia e ansiedade. Definitivamente não era curiosidade. Essa  sensação desagradável vinha do coração e não da mente. 
Sentia-se vazia. Olhou as mãos e lembrou das pedrinhas que havia ganho da pequena cliente. Levantou-se e pegou o embrulho na bolsa. Pensou novamente no gnomo do sonho e no colorido das pedras que ele lhe dera.  Eram mais bonitas, brilhantes e luminosas do que estas. Durante um bom tempo ficou  assim, parada, segurando as pedras e pensando. Lembrou de artigos lidos em revistas  falando  a respeito de pedras e cristais.
- Dizem que têm poder curativo e de harmonização de ambientes.
Lavou-as deixando a água correr durante bastante tempo sobre elas.
 Passou os dedos pelas pedras, tocando-as  de uma forma carinhosa.  Lembrou da casa de   Lúcia e das  pedras de várias cores e tamanhos espalhadas pela  casa. Engraçado! Nunca havia se interessado pelo assunto.
Enquanto as idéias fluíam, sentiu que  a  mão que segurava as pedras,  começava a ficar mais quente. Bem mais quente que a outra. Colocou as pedras sobre  a mesinha de cabeceira e deitou-se,  bastante impressionada com o calor que elas emanavam.
- E João?  Essa  história que me contou.... não será um pouco de fantasia? Qual será sua intenção ao me contar, se me conhece tão pouco? 
- Bem.... ele disse que sentiu vontade de me contar.  Isso é legal. Confiou  em mim.  Gosto tanto de conversar com ele! Parece  que o conheço há séculos, gosto dele!
-          E o velho do bosque? Por onde andará?
Uma  sensação  estranha de ternura tomou conta dela quando  pensou no “Irmão”, aquela figura estranha que surgiu não se sabe de onde.  Lembrou no  modo tão carinhoso e especial com que lhe falara. Levou os dois dedos à testa e depois as mãos ao coração.
-          Boa noite, Irmão!
Adormeceu levando consigo o  Irmão,  João Carlos,  gnomos,   pedras......

Estava mais uma vez na sua clareira.   Lá estavam também outras pessoas.  Homens e mulheres. Estavam calados, com os olhos semicerrados, parecendo muito atentos, como se esperassem algo que  estava para  acontecer.  E muitos, muitos  seres da natureza. Todos sentados num grande círculo.  Clara se aproximou e imediatamente abriram espaço no círculo para que se sentasse.  Acima deles, uma fantástica lua cheia parecia ocupar todo o espaço celeste.
Acomodou-se e naturalmente fechou os olhos. Uma agradável sensação de paz tomou conta dela. Há muito não se sentia assim, tão calma, tão bem. Não havia mais vazio.  Estava quase feliz.
Mesmo de olhos fechados, percebeu que chegara alguém. Parecia que estavam apenas esperando pela chegada dela para iniciar alguma coisa.
Lentamente abriu os olhos e seu coração  quase saiu do peito. Era Ele! Ele estava ali! Uma forte emoção tomou conta dela e  algumas lágrimas furtivas rolaram pelo seu rosto. Mais que emoção, era um  sentimento de amor... saudade,  uma coisa estranha!
-          “Irmão” ‘o Irmão! -  foi só o que pensou.
Que significava isto? Que fazia ali o seu velho  amigo? E aquelas  pessoas e os seres da natureza? 
O  que iria acontecer na clareira? Seria uma reunião dessas que dizem secretas? E ela por que estava ali? 
O Irmão ocupou o centro do círculo.           
            “Filhos queridos!
            Que felicidade estar aqui com vocês!
            Hoje queremos falar mais uma vez sobre o Amor.
            Notem que disse Amor e não amor.  Há uma grande diferença entre esses sentimentos. Infelizmente o homem ainda não compreendeu bem que é essa diferença que faz a diferença entre a alegria e  a felicidade ou a tristeza  e  o sofrimento”.
            “Falamos de Amor, um sentimento maior, próprio de   Deus. O Amor é  como uma   ponte, por onde o homem, o habitante da Terra,  pode seguir  se deseja sentir a Presença do seu Eu Superior e se reconectar à sua Essência Divina”
“Não é por acaso que estamos reunidos mais uma vez.
Já sabemos que acaso não existe. Entre tantas Leis que regem o Universo, uma das mais importantes talvez seja a de causa e efeito.
Por isto estamos aqui. Como efeito de causas ou acontecimentos do passado. Talvez possam pensar que foram escolhidos para participar deste encontro. Não!  Ao contrário! Foram vocês, meus queridos filhos, que  escolheram estar aqui. Assim fizeram uso de outra Lei. A Lei do Livre arbítrio. Todos os homens estão sujeitos às Leis Cósmicas e todas estão diretamente relacionadas aquilo que  estamos falando, o  Amor”.
 “O homem tem feito mau uso da Lei de Livre Arbítrio.  Todos vocês estão cansados de ouvir falar de amor e  têm oportunidade diária de ver o que é feiro em nome desse sentimento, o amor. O fato de estarem aqui, já significa que são capazes de distinguir os sentimentos terrenos, puramente materiais, voltados para os interesses e desejos, daqueles que  elevam o Homem na direção da Verdade, de Deus”.
“ O Amor e a Verdade são duas energias poderosas que impulsionam para cima, para a elevação da Alma e do Espírito. Para a Sabedoria
O Amor está além da razão, por isso não tentem compreender esse sagrado sentimento fazendo uso de palavras, conceitos ou qualquer outra coisa que passe pelo mental. Procurem no coração.  É lá que encontrarão o verdadeiro Amor.  Sentimento que une Homens e Anjos. E, é claro, todas as formas de vida. O Amor que transcende o amor e a matéria”.
“Deus é Amor, Amor é Sabedoria, Sabedoria é Poder, Poder é Amor!
Entendem bem o Poder que  emana do  conhecimento do verdadeiro Amor?  É isto que esperamos de vocês.  A prática do Poder do Amor”.
Talvez amanhã, quando despertarem, não se lembrem do que agora estamos falando.  Isto não tem importância porque  vosso inconsciente é como um arquivo, onde são registradas todas as experiências vividas por vocês. Dessa maneira, mesmo de forma inconsciente, sem saber porque,  vocês poderão  colocar em prática os ensinamentos que estão recebendo e poderão atender ao nosso pedido de levar adiante o que estamos falando”.
“Eis a tarefa que lhes entrego agora: Ensinem o que sabem sobre o Poder do Amor.  Ofereçam ao próximo o que lhes ofereço como meu Amor! Tornem-se Deus em ação! Vocês são agora, Cristo em ação!”   
“Vocês vieram até  aqui em corpo astral.  Logo voltarão para o lugar onde deixaram  o corpo físico, o veículo que tão bem lhes serve para esta passagem pelo planeta Terra. Lembrem-se, no entanto, que por mais importante que esse corpo seja, já que  precisam dele para viver nesta esfera de vida, e por isso mesmo precisam e devem cuidar dele com atenção e amor,  o físico é também um limitador  para suas possibilidades e capacidades”. Por que? Ele  prende o homem à matéria,  impede o vôo.”
“Vejam:  Vocês estão agora numa esfera fora do Plano físico Não poderiam vir até aqui, vestindo o corpo  físico. Pensem nesse corpo como uma roupagem adequada apenas ao plano em que vivem.  Com ele só podem transitar pela terceira dimensão. O corpo que está sendo usado por vocês agora é o astral, já que esta  reunião está acontecendo numa   dimensão mais sutil, noutro tempo e espaço,  no Plano Astral”.
“Vão, amados filhos. Logo teremos oportunidade de estar juntos outra vez. Aguardem o chamado”.

Clara olhou ao redor. Estava no seu quarto. Imediatamente o rosto do Irmão veio até ela. O gesto de unir as mãos e levá-las ao coração que ele fez quando desapareceu como por encanto logo que se despediu. Recordou o seu olhar amoroso.
-          Foi um sonho!  Deus, foi um sonho!
            Não queria aceitar a idéia de que tudo fora apenas um sonho.
As imagens estavam ainda claras diante dela. O Irmão, as pessoas em círculo, tudo muito nítido. E o sentimento de Amor que fluiu durante todo o tempo da reunião. Desconhecia essa emoção que tomava conta dela.
-          Amor!
Clara pensava agora na diferença entre o amor e Amor. E como podia fazer o que Ele havia pedido. O coração lhe dizia  que havia estado  diante de um grande Mestre, desses que Lúcia falava tanto. Mas ela? Por que ela? Não sabia nada, não tinha conhecimentos sobre o misticismo. Pouquíssima coisa havia lido a respeito e se não fosse por Lúcia e algumas poucas pessoas que ouvira falar sobre esses assuntos, poderia dizer que não sabia absolutamente nada. E agora João Carlos, que havia falado algumas coisas sobre espiritualismo e esoterismo. 
- Não sei nem a diferença entre espiritualismo e esoterismo! Meu Deus! O que está acontecendo comigo?
Levantou da cama e  foi pegar um copo de água.
Sentou na sala e devagar foi recapitulando passo a passo tudo que viu e ouviu no sonho.
- Ele disse  “estavam mais uma vez reunidos”. Como assim? Não me lembro de nenhuma outra vez.  Geralmente não recordo os sonhos.  Ou não sonho. Mas a ciência diz que todos sonham! Por que não recordo ?
Ficou lá, sentada, pensando, analisando, questionando ...até adormecer novamente .

Estava agora num belo jardim. Muitas flores ao redor. O aroma exalado era leve e agradável.
Em meio a um imenso  canteiro, sentado numa grande pedra estava aquele gnomo com aparência de Mestre dos seres do elemento terra.
Ao seu lado, espalhados pelo chão, cristais belíssimos.  E a uma distância razoável outros pequeninos seres. Parecia que estavam recebendo do mestre, ensinamentos relacionados aos cristais.  Todos em silêncio, olhar fixo no mestre,  ouviam com atenção suas palavras. 
“Nossa função é bem maior que muitos de vocês acreditam. Só os tolos são capazes de negar a importância dos seres da natureza. Afinal, somos participantes ativos da criação. Digamos, cocriadores da vida ao redor. Quando  cuidamos amorosamente do ambiente, do verde, estamos servindo ao homem. Infelizmente, a maioria deles não é capaz de nos perceber, por isto negam nossa existência. Vejam quanta destruição à nossa volta. É o resultado da ação irresponsável de alguns homens”.
“Nossa tarefa, portanto, é cuidar da natureza, preservá-la, trabalhar para restaurar  os estragos feitos. A natureza que pode oferecer todos os recursos para uma vida saudável e feliz a esses seres que neste tempo passam pela Terra” .
“ Vejam a água! Diariamente jogam resíduos de todo tipo nos rios e mares. Esquecem que não existe vida onde não há água. Estão matando a água. No entanto aí estão os elementos fundamentais para qualquer forma de vida. Olhem ao redor! Tudo que vêem é uma forma de manifestação do Criador. É Sua  criação. Energia em ação. É  vida!”
“Vejam estas pedras....São seres vivos também”.
Nesse ponto, aqueles seres, pareciam estar tomando consciência da sua importância no Universo.  Uma energia de força e amor circulava em todo aquele espaço.
O mestre dos seres da natureza, continuava falando, enquanto Clara via e ouvia tudo com muita clareza.  Estranhamente nada do que era dito a surpreendia. Como se fosse algo que conhecia muito bem. A sua postura era de quem compreendia e concordava com as palavras do sábio gnomo.
Então ele se abaixou e pegando uma pedra  de cada vez, continuou falando. Chamando a atenção do grupo para a sua cor e o tipo de energia.
“ Cada pedra,  seja  preciosa, ou  cristal em estado bruto, vibra numa determinada freqüência, tem um tipo de vibração e   função específica. Podemos utilizar melhor sua energia se temos o conhecimento necessário. Muitas pessoas  colocam  pedras na casa para enfeitar. Isso é muito bom.  Mas algumas vezes, por ignorância, deixam de aproveitar melhor as propriedades que têm as pedras para equilibrar e harmonizar as energias  daquele ambiente.  Lamentamos esse fato, porque, se usadas de modo consciente, as pedras ou cristais podem mais. Muito mais.  Podem até mesmo curar doenças”.
“Por isto, digo, que é preciso cuidar bem e com amor do solo, da terra, dos cristais que são formados pela cristalização da energia da Terra em contato com a energia que vem do Cosmos.  Compreendem? “Vejam então a importância dos seres da natureza, do nosso trabalho.
“ A quantidade de raios solares que  é captada pela rocha ou pedra vai determinar de alguma forma, a sua cor. Entendem?  Já  sabemos da importância da cor da pedra.  Isso vai nos remeter aos ensinamentos que recebemos a respeito da cor como recurso de cura. Lembram-se?  Se for necessário, podemos voltar a esse assunto para recordar.”
“ Cada cor tem uma função específica tanto para harmonizar o ambiente como o homem.  Nós estamos falando de vibração, de irradiação de energias.
“Numa situação de  desequilíbrio, por exemplo, os cristais são apenas uma das inúmeras formas de tratamento vibracional. Sem qualquer dúvida, é uma das mais eficientes e bonitas maneiras de ajudar as pessoas a restabelecer a harmonia. E já sabemos que a doença tem uma função: ela surge como um sinal, avisando que  o sistema entrou em desequilíbrio. Isto vale tanto para o homem como para o ecossistema”. 
“ Os cristais têm o poder de restaurar o corpo, renovar suas energias, restaurar tecidos.....Além disso reequilibra  o sistema  de chacras de maneira rápida e harmoniosa, porque  dissolve qualquer  bloqueios no campo energético,  permitindo que a energia flua adequadamente”.
“O uso de  cristais  ou qualquer outro recurso que permita harmonizar o sistema energético, requer conhecimentos. Não basta boa intenção, é preciso estudo, conhecimentos e então, sim, colocar em prática.  É indispensável o saber antes do fazer. Ter sempre em mente alguns conceitos e informações antes de começar a usar. Assim, não pode haver erro. Aprender para fazer bem. Depois então, realizar a tarefa”!

“Realizar a tarefa”! Aprender para realizar a tarefa!
Acordou muito bem. Uma sensação muito boa. O corpo e a mente em equilíbrio. Paz. Era assim se sentia Clara hoje, em paz.
Lembrava dos sonhos com  todos os detalhes.
Provavelmente estava recebendo informações e  conhecimentos muito importantes durante o sono. Era uma oportunidade que não podia desperdiçar. Aprender tantas coisas através de sonhos.  E impressionante!  Cada palavra, gesto, olhar, tudo....tudo estava muito nítido,  como se estivesse assistindo um filme,  agora.  No coração uma certeza:  Aquilo que vinha acontecendo era algo muito,  muito importante para ela.  Não era a mente que lhe dizia isso, era o coração.
Esse  sentimento que se apoderava dela  não era normal, nunca havia se sentido assim. Parecia que ao invés de sangue, o que corria pelas suas  veias e por todo o corpo,  era  paz.
Com certeza, estava recebendo algum tipo de ajuda do alto.
Ela que sempre pensou que sua vida era sem graça, que a única coisa importante era o trabalho, começava a acreditar  na felicidade. Isso que sentia era felicidade.
Estava decidida a  fazer a sua parte, da melhor maneira possível!
Precisava analisar o caminho que vinha percorrendo, saber o que queria da vida. O que esperava alcançar. A realização  que buscava estaria mesmo no trabalho? E a vida pessoal, tão pobre se emoções...era isso mesmo que queria para ela?
            - Estarei sendo uma boa médica? Uma boa amiga? Uma pessoa boa? Será que estou certa em acreditar que não preciso de um companheiro para dividir, compartilhar, trocar? Isto não será uma forma de egoísmo? Não querer dividir espaço, compartilhar? Ou medo de enfrentar as diferenças de personalidades?
            - Não, casar, não. Posso crescer por outras áreas, sem precisar de ter uma família. Com certeza!
           
Saiu cedo de casa.  Queria começar logo para terminar mais cedo. Precisava fazer algumas compras e pretendia passar por um Shopping para ver o presente de Lúcia, que aniversaria na próxima semana. Aproveitaria para ver alguma coisa para ela.  Precisava  renovar algumas peças do guarda roupa. Normalmente não era vaidosa, mas sentia vontade de alguma coisa mais alegre. Queria variar, suas roupas são quase todas em tons de terra,   marrons... talvez fosso bom mudar um pouco.
              A manhã passou rápido e logo estava na creche onde trabalha uma ou duas vezes por semana, conforme a necessidade. É aí que se sente melhor. As crianças têm um jeito muito especial, cuidar delas  dá o maior prazer. Antes mesmo de terminar a Faculdade já ajudava essa Instituição que atende crianças de famílias pobres. As mães deixam os filhos ali antes de sair para o serviço e as pegam no final do dia, alimentados e bem cuidados.
             Clara costuma agradecer a Deus essa oportunidade de ajudar as crianças. Se pudesse, gostaria de construir   um centro de atendimento para crianças e jovens. Mas por enquanto não havia condições de fazer um trabalho dessa natureza. Mas quem sabe mais tarde? Esta Creche é bem estruturada, todos que lá trabalham, o fazem  apenas pelo prazer de ser útil, com  amor e  sem desejar qualquer retorno material.  Isto lhe dá prazer de trabalhar lá. Depois de examinar as crianças e ver que estão bem,  não necessitando de maiores cuidados, satisfeita, Clara já sai para as compras.

            Chegou em uma boa hora, as lojas estavam praticamente vazias, podia ver o que queria sem atropelos.
            Andou pelos largos corredores, sem pressa, com uma serenidade que lhe era desconhecida. Caminha olhando as vitrines que oferecem  mil possibilidades de pagamento e  uma decoração que  estimula as pessoas a consumir mais do que podem.
            Entrou numa grande Livraria à procura de um livro para presentear a aniversariante. Queria alguma coisa relacionada à Psicologia, talvez um livro de Jung. Ela gostava dele e agora estava estudando sonhos e os Arcanos. Alguns trabalhos de Jung abordam esses assuntos.  Acabou por escolher um  de Contos e  Metáforas, provavelmente  iria agradar. Lúcia gostava de  usar histórias e metáforas no trabalho como psicóloga. Dizia que dessa maneira, seu cliente tinha acesso mais fácil às suas questões  e dificuldades. 
Viu diante dela uma prateleira com livros  sobre  Terapias Alternativas.  Quantos assuntos ligados a esse tema. Nunca havia prestado atenção a esse fato. Quantos autores, brasileiros e estrangeiros se dedicam ao assunto. Livros  Ufologia, de Mestres, de Exercícios de Respiração, Corpos, Planos... Que  variedade!
Ficou parada se perguntando como pode uma pessoa como ela, sem qualquer experiência escolher algum. É realmente muito difícil e as probabilidades de erro são muitas. Tantas quanto o número obras que estão ali à disposição. Ficou alguns minutos ali, sem saber por onde começar. Um de capa vermelha chamou a sua atenção.  Pegou o livro e não pode disfarçar o riso. Falava sobre cristais e seu uso terapêutico.  Pareceu bem  interessante. Pegou outros da mesma autora e de autores diferentes. Escolheu dois  que pareciam ser de leitura mais fácil,  sem grandes dificuldades de compreensão. 
Pegou  um de Inteligência Emocional, que já estava querendo ler e continuou a visita à Livraria.  Um livro de capa azul e letras amarelas a chamou. Chegou mais perto e viu que tratava da Medicina Vibracional.
- Parece legal!  Vamos ver o que diz, o que posso aprender com ele.
“Aprender para realizar a tarefa” -  essas palavras surgiram mais uma vez na sua mente.

Quando saiu da loja, segurando a sacola, sentia-se como  se estivesse  refazendo uma relação que havia sido interrompida. Pensou no Irmão e mentalmente pediu que a ajudasse a entender e compreender.
Uma loja de artigos esotérico chamou a sua atenção.  No chão, num dos cantos, havia uma ametista enorme.   A cor bem violeta, quase lilás, era realmente linda! Parou observando a pedra e admirando a sua beleza.
-          Parecida com a que Lúcia tem na sala. – pensou.
- Tem o poder de transmutar as energias  do ambiente. É  muito bom ter em  casa  um cristal destes. Traz paz e tranqüilidade.
Clara se voltou e viu uma senhora ao seu lado.  Sorria carinhosamente enquanto a olhava. 
- Desculpe, mas você estava tão distraída olhando a ametista. Gosta de pedras? Costumo vir aqui para comprar as minhas.  Não devemos comprar em qualquer lugar, concorda?
Clara olhou a senhora e sorriu.
- Eu não tenho muito conhecimento sobre  o assunto. Estava olhando porque é muito bonita e chamou minha atenção. Na verdade não sei nada a respeito. Acabei de  comprar livros sobre cristais.   Não sei se são bons, mas é um começo.
- Quando comprar cristais, lembre-se de limpá-los logo ao chegar em cassa. Nos seus livros vai encontrar como fazer isso.
A senhora se despediu e Clara entrou na loja.
Aproximou-se da ametista. Era muito  bonita, decidiu comprá-la. Ficaria bem na sala. A funcionária garantiu que poderia mandar entregar em casa no dia seguinte.
Quando já saía viu na vitrine um pequeno gnomo.
- Que gracinha, assim vestido! Vou me dar de presente.
Clara sorriu feliz diante do gnomo. Ele tinha um capuz de tecido vermelho, barbas longas e calças e botas marrons. Estava em pé, sobre uma placa com seu nome:  Haroldson. Seus olhos meio fechados pareciam rir dela. Tinha a sensação  que ele a escolhera, e não o contrário.
Saiu da loja feliz,  alegre, parecia uma criança que havia ganhado um brinquedo muito desejado.  Estava radiante. Haroldson! Gostou dele.
O celular tocou quando saia da loja onde comprou algumas roupas.
-          Clara, é João Carlos. Por onde anda menina? Já  jantou?

Quando Clara chegou ao restaurante, ele já a esperava.
-          Que convite agradável! – falou Clara enquanto se abraçavam.
-  Acabei de sair do escritório, hoje foi um daqueles dias em que não há tempo nem para um telefonema, quando vi já era noite. Não deu tempo de ligar antes para marcar mas  queria saber de você, conversar um pouco.  
- Foi uma ótima idéia. Estou na rua desde cedo. Jantar numa companhia tão interessante é um presente. Ah! Deixe-me mostrar o que acabo de me dar presente.
Pegou a saca de embrulhos e mostrou o gnominho ao amigo
-          Não é lindo?
Mostrou os livros e com entusiasmo, falou da ametista.
- Estou tão contente....faz muito tempo não me sinto tão bem.
Começou a rir. João Carlos a olhava  com carinho.
- Você está estranha, menina! O que aconteceu com você? Está até mais bonita! Uma beleza diferente, que vem do interior. Parece mais forte!
            Clara sorriu sem jeito.
            - Eu mesma me sinto estranha. Estou me desconhecendo. Também não é para menos... parece que estou virando pelo avesso, tantas  coisas acontecendo ao mesmo tempo. 
Nesse momento tomou a decisão que faltava: abrir totalmente seu coração.
- Queria muito poder contar-lhe tudo que vem acontecendo. Preciso que me oriente, você vai saber me explicar o que é isso, entende?  Sei que você pode me ajudar. Você  tem sido tão legal comigo...
- Estou aqui,  conte-me tudo, parece com medo de algo....
- Não, não se trata de nada que implique em perigo.  É a minha cabeça. Ou quem sabe...o coração! Sei lá! Ouça:
Clara sente-se  aliviada por poder abrir-se para um amigo em quem pode confiar.
continua...

MCCA

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