VIII Um homem não é um ser que tem a postura ereta.
O homem é um ser em processo de transformação.
Quando mais ele se capacita a si mesmo a vir a
Ser,
mais ele dá cumprimento à sua verdadeira
missão”.
Rodolph Steiner
Acordou com o toque do telefone. Olhou as horas. Dez e trinta.
Pegou de má vontade o aparelho e com voz ainda sonolenta atendeu.
-
Clara? É Lúcia. E aí, vamos dar uma caminhada?
-
Nem pensar, Lúcia. Fui dormir
muito tarde, ainda nem levantei.
-
O que? Mas você acorda tão
cedo! Aconteceu alguma coisa?
- Nada. Eu e João conversamos um
tempo e depois fiquei aqui pensando na vida....não estou pensando em sair.
- Então vou dar uma volta na praia, pegar um sol. Tem certeza que não
quer ir?
Clara queria ficar sozinha. Tinha muito o que pensar. Gostava de ficar
assim, quietinha, deitada enquanto relembrava os acontecimentos. Mais uma vez,
juntou os dedos e os levou à testa. Ficou assim, quieta, lembrando do “Irmão”.
Começou a sentir uma sensação de formigamento nas mãos e na testa. A sensação
crescia à medida que prestava mais atenção nela. Uma espécie de calor que se irradiava por todo o corpo.
De repente, pareceu que ouvia as
palavras dele na sua mente:
“ As coisas acontecem na hora certa, nem antes e nem depois.”
- Que coisas? - Se pegou
perguntando. – O que significam essas palavras? Será que vai acontecer alguma
coisa que não sei? E essa sensação na testa, será algo bom ou mau?
Tantas perguntas para as quais,
Clara não tem respostas lógicas. Onde
buscar essas respostas? Alguém deve saber me responder.
-
Claro! De repente, levantou-se. É claro! Vou à floresta.
Em poucos minutos saía de casa, comendo uma maçã.
- Lúcia pode pensar que não quis a sua companhia. Mas depois explico
porque mudei de idéia.
Já
caminhava pelo bosque quando percebeu aquela ansiedade sua conhecida. Ele
estaria lá? Se não o encontrasse teria que
continuar sem respostas para suas dúvidas, isso não a agradava.
Dirigiu-se
imediatamente para o local onde o encontrara.
Ao se aproximar, que
desilusão! Não estava lá. Olhou
ao redor. Nada! Nem nas proximidades. Um desencanto tomou conta de Clara.
Estava certa que hoje o encontraria. Sentou-se no velho tronco com ar desolado,
disposta a esperar. O sol já estava alto e ele não apareceu.
Começou a caminhar por ali, como querendo aliviar a ansiedade e a decepção. Sentia-se
frustrada. Mais que isso, muito sozinha. Sentia uma estranha sensação de
saudade.
- Queria tanto vê-lo! – pensou,
sentindo-se triste. Tenho tanto a
perguntar-lhe. Ele disse que eu poderia
encontrá-lo. Mas como?
Quase sem perceber dirigiu-se para a trilha que percorreu com quando
ele a levou até a gruta. Mas por mais
que andasse, não encontrou o caminho.
Resolveu seguir o percurso do pequeno riacho. Tinha certeza que ele passava ao lado da
casinha do velho. Em alguns momentos precisou molhar os pés, entrando na beira
do riacho. Estranhamente, já havia andado algum tempo e não chegava.
- Parece que essa gruta está oculta por algum véu ou alguma coisa que
não permita que seja vista. Não é possível, meu Deus! Onde está, Irmão? Preciso
tanto vê-lo! Preciso falar-lhe, Senhor!
Com um jeito meio infantil, levou os dedos à testa. Ficou assim alguns
segundos na esperança que ele aparecesse. Depois sentou-se numa pedra ao lado
do pequeno rio. Estava cansada. Emocionalmente cansada.
Ficou ali, quieta, esperando por muito tempo.
Já era tarde quando voltou para
casa. Precisava dormir. Tanto o corpo quanto a mente necessitavam descanso. Tão
logo se deitou e adormeceu. Quantas
horas se passaram? Já estava escuro. O
som do telefone estava muito longe. Queria ficar assim, quieta, não queria
conversar com ninguém.
Um movimento ao seu lado fez o coração bateu mais forte. Aquele gnomo que parecia ser um chefe do grupo
que já havia visto estava ali, ao seu
lado. Nas mãos tinha algumas pequenas
pedras, de cor verde. Muito
bonitas, luminosas. Uma delas de tom verde esmeralda parecia projetar uma luz
belíssima que iluminava todo o quarto.
Então ele, fez aquele gesto que ela aprendera com Irmão: juntou
os dedos e os levou à testa, depois uniu as mãos e levou-as ao peito
num gesto de respeito. Aproximou-se de
Clara, pegou as suas mãos e depositou nelas as pedras que trazia.
A sua voz era doce quando disse que o verde é o raio da cura. E que seria muito bom se ela aprendesse sobre
o poder da cura dos cristais verdes, e colocasse esse saber à disposição de que
precisa. Ela podia sentir o calor
emitido pelos cristais....
Clara tocou lençol, procurando
as pedras. Elas tinham que estar ali.
Tinha certeza! Não, não queria acreditar que aquilo fora mais um sonho.
Olhou o relógio e viu que era hora de se arrumar para trabalhar. Havia
dormido direto.
- Ótimo! Foi muito bom, estava precisando descansar. Mas que pena....
Levantou com uma desagradável sensação de frustração.
A primeira cliente era Joana, uma menina doce de seis anos que sofria
de asma. Chegou com olhar maroto dizendo que trouxe um presente lindo para a
doutora. Lindo! Repetiu várias vezes.
Clara abraçou a menina e recebeu
o pequeno embrulho. Ao abrir, não pode disfarçar a surpresa. O presente era um saquinho de tecido transparente contendo algumas pedras verdes. Não sabia o que falar.
-
Não são lindas? – perguntou a menina.
Não sabia o que responder,
ou melhor não podia falar, perdera a voz.
Ficou parada, olhando aqueles olhinhos que brilhavam diante dela
esperando uma resposta.
-
Claro, querida, são lindas.
Beijou carinhosamente a pequena Joana e por mais que tentasse não
conseguiu retomar a naturalidade. Que
coisa estranha. Muita coincidência!
O dia passou rápido. Felizmente tinha
muitos pacientes para atender. Dessa maneira, não pode pensar muito em
tudo que vinha acontecendo. Mas e o gnomo? E a menina dando-lhe as pedras?
Teria sido usada como instrumento pelo gnomo? Dizem que o Plano invisível faz
essas coisas.
Por mais que tentasse não encontrava respostas.
Já se preparava para deitar
quando João Carlos telefonou. Queria saber como estava, como passara o
domingo. Ao final de meia hora de papo, combinaram um encontro durante a
semana.
Sentia um carinho muito grande pelo novo amigo. Tinha poucos, na
verdade. Sempre foi muito seletiva com
respeito às amizades. Amigo, para ela, era alguém em quem possa confiar. E
confiava nele.
Enquanto se ajeitava nas cobertas, relembrou os últimos acontecimentos.
Não sabia bem o que pensar, como
avaliar. Sabia apenas que nas últimas semanas
parecia-lhe que havia perdido completamente a capacidade de
discernimento. Chegara mesmo a se perguntar se alguns fatos eram realidade ou fantasia. Teria perdido a
bússola?
Pensou novamente em João Carlos. Também ele parece ter passado por
experiências bem estranhas. Nesse caso,
ela poderia acreditar estar vivendo também um momento semelhante? Realmente,
tudo isso fugia à sua capacidade de
compreensão. Pelos menos, o amigo tinha
o pai para responder às suas indagações.
E ela?
Pensou em Lúcia. Era sua amiga e agora mais amadurecida mostrava ser
bem confiável. Não. Não gostava
de ficar assim, dependendo a todo momento de alguém para ajudá-la a
pensar. Precisava encontrar um outro
meio de encontrar respostas.
Ah! Se pelo menos tivesse encontrado o bom velhinho do bosque! Ele parecia saber tudo aquilo que estava
gerando angústia. Angústia! Pela primeira vez teve plena consciência do
sentimento que sentia. Angústia e ansiedade. Definitivamente não era
curiosidade. Essa sensação desagradável
vinha do coração e não da mente.
Sentia-se vazia. Olhou as mãos e lembrou das pedrinhas que havia ganho
da pequena cliente. Levantou-se e pegou o embrulho na bolsa. Pensou novamente
no gnomo do sonho e no colorido das pedras que ele lhe dera. Eram mais bonitas, brilhantes e luminosas do
que estas. Durante um bom tempo ficou
assim, parada, segurando as pedras e pensando. Lembrou de artigos lidos
em revistas falando a respeito de pedras e cristais.
- Dizem que têm poder curativo e de harmonização de ambientes.
Lavou-as deixando a água correr durante bastante tempo sobre elas.
Passou os dedos pelas pedras,
tocando-as de uma forma carinhosa. Lembrou da casa de Lúcia e das
pedras de várias cores e tamanhos espalhadas pela casa. Engraçado! Nunca havia se interessado
pelo assunto.
Enquanto as idéias fluíam, sentiu que
a mão que segurava as
pedras, começava a ficar mais quente.
Bem mais quente que a outra. Colocou as pedras sobre a mesinha de cabeceira e deitou-se, bastante impressionada com o calor que elas
emanavam.
- E João? Essa história que me contou.... não será um pouco
de fantasia? Qual será sua intenção ao me contar, se me conhece tão pouco?
- Bem.... ele disse que sentiu vontade de me contar. Isso é legal. Confiou em mim.
Gosto tanto de conversar com ele! Parece
que o conheço há séculos, gosto dele!
-
E o velho do bosque? Por onde andará?
Uma sensação estranha de ternura tomou conta dela
quando pensou no “Irmão”, aquela figura
estranha que surgiu não se sabe de onde.
Lembrou no modo tão carinhoso e
especial com que lhe falara. Levou os dois dedos à testa e depois as mãos ao
coração.
-
Boa noite, Irmão!
Adormeceu levando consigo o
Irmão, João Carlos, gnomos,
pedras......
Estava mais uma vez na sua clareira.
Lá estavam também outras pessoas.
Homens e mulheres. Estavam calados, com os olhos semicerrados, parecendo
muito atentos, como se esperassem algo que
estava para acontecer. E muitos, muitos seres da natureza. Todos sentados num grande
círculo. Clara se aproximou e
imediatamente abriram espaço no círculo para que se sentasse. Acima deles, uma fantástica lua cheia parecia
ocupar todo o espaço celeste.
Acomodou-se e naturalmente fechou os olhos. Uma agradável sensação de
paz tomou conta dela. Há muito não se sentia assim, tão calma, tão bem. Não
havia mais vazio. Estava quase feliz.
Mesmo de olhos fechados, percebeu que chegara alguém. Parecia que
estavam apenas esperando pela chegada dela para iniciar alguma coisa.
Lentamente abriu os olhos e
seu coração quase saiu do peito. Era
Ele! Ele estava ali! Uma forte emoção tomou conta dela e algumas lágrimas furtivas rolaram pelo seu
rosto. Mais que emoção, era um
sentimento de amor... saudade,
uma coisa estranha!
-
“Irmão” ‘o Irmão! - foi só o que
pensou.
Que significava isto? Que fazia ali o seu velho amigo? E aquelas pessoas e os seres da natureza?
O que iria acontecer na clareira? Seria uma
reunião dessas que dizem secretas? E ela por que estava ali?
O Irmão ocupou o centro do círculo.
“Filhos
queridos!
Que
felicidade estar aqui com vocês!
Hoje
queremos falar mais uma vez sobre o Amor.
Notem
que disse Amor e não amor. Há uma grande
diferença entre esses sentimentos. Infelizmente o homem ainda não compreendeu
bem que é essa diferença que faz a diferença entre a alegria e a felicidade ou a tristeza e o
sofrimento”.
“Falamos
de Amor, um sentimento maior, próprio de
Deus. O Amor é como uma ponte, por onde o homem, o habitante da
Terra, pode seguir se deseja sentir a Presença do seu Eu
Superior e se reconectar à sua Essência Divina”
“Não é por acaso que estamos
reunidos mais uma vez.
Já sabemos que acaso não
existe. Entre tantas Leis que regem o Universo, uma das mais importantes talvez
seja a de causa e efeito.
Por isto estamos aqui. Como
efeito de causas ou acontecimentos do passado. Talvez possam pensar que foram
escolhidos para participar deste encontro. Não! Ao contrário! Foram vocês, meus queridos
filhos, que escolheram estar aqui. Assim
fizeram uso de outra Lei. A Lei do Livre arbítrio. Todos os homens estão
sujeitos às Leis Cósmicas e todas estão diretamente relacionadas aquilo
que estamos falando, o Amor”.
“O homem tem feito mau uso da Lei de Livre
Arbítrio. Todos vocês estão cansados de
ouvir falar de amor e têm oportunidade
diária de ver o que é feiro em nome desse sentimento, o amor. O fato de estarem
aqui, já significa que são capazes de distinguir os sentimentos terrenos,
puramente materiais, voltados para os interesses e desejos, daqueles que elevam o Homem na direção da Verdade, de
Deus”.
“ O Amor e a Verdade são
duas energias poderosas que impulsionam para cima, para a elevação da Alma e do
Espírito. Para a Sabedoria
O Amor está além da razão,
por isso não tentem compreender esse sagrado sentimento fazendo uso de
palavras, conceitos ou qualquer outra coisa que passe pelo mental. Procurem no
coração. É lá que encontrarão o verdadeiro
Amor. Sentimento que une Homens e Anjos.
E, é claro, todas as formas de vida. O Amor que transcende o amor e a matéria”.
“Deus é Amor, Amor é
Sabedoria, Sabedoria é Poder, Poder é Amor!
Entendem bem o Poder
que emana do conhecimento do verdadeiro Amor? É isto que esperamos de vocês. A prática do Poder do Amor”.
Talvez amanhã, quando
despertarem, não se lembrem do que agora estamos falando. Isto não tem importância porque vosso inconsciente é como um arquivo, onde
são registradas todas as experiências vividas por vocês. Dessa maneira, mesmo
de forma inconsciente, sem saber porque,
vocês poderão colocar em prática
os ensinamentos que estão recebendo e poderão atender ao nosso pedido de levar
adiante o que estamos falando”.
“Eis a tarefa que lhes
entrego agora: Ensinem o que sabem sobre o Poder do Amor. Ofereçam ao próximo o que lhes ofereço como
meu Amor! Tornem-se Deus em ação! Vocês são agora, Cristo em ação!”
“Vocês vieram até aqui em corpo astral. Logo voltarão para o lugar onde deixaram o corpo físico, o veículo que tão bem lhes
serve para esta passagem pelo planeta Terra. Lembrem-se, no entanto, que por
mais importante que esse corpo seja, já que
precisam dele para viver nesta esfera de vida, e por isso mesmo precisam
e devem cuidar dele com atenção e amor,
o físico é também um limitador
para suas possibilidades e capacidades”. Por que? Ele prende o homem à matéria, impede o vôo.”
“Vejam: Vocês estão agora numa esfera fora do Plano
físico Não poderiam vir até aqui, vestindo o corpo físico. Pensem nesse corpo como uma roupagem
adequada apenas ao plano em que vivem.
Com ele só podem transitar pela terceira dimensão. O corpo que está
sendo usado por vocês agora é o astral, já que esta reunião está acontecendo numa dimensão mais sutil, noutro tempo e
espaço, no Plano Astral”.
“Vão, amados filhos. Logo
teremos oportunidade de estar juntos outra vez. Aguardem o chamado”.
Clara olhou ao redor. Estava
no seu quarto. Imediatamente o rosto do Irmão veio até ela. O gesto de unir as
mãos e levá-las ao coração que ele fez quando desapareceu como por encanto logo
que se despediu. Recordou o seu olhar amoroso.
-
Foi um sonho! Deus, foi um
sonho!
Não queria aceitar a idéia de que
tudo fora apenas um sonho.
As imagens estavam ainda claras diante dela. O Irmão, as pessoas em
círculo, tudo muito nítido. E o sentimento de Amor que fluiu durante todo o
tempo da reunião. Desconhecia essa emoção que tomava conta dela.
-
Amor!
Clara pensava agora na diferença entre o amor e Amor. E como podia
fazer o que Ele havia pedido. O coração lhe dizia que havia estado diante de um grande Mestre, desses que Lúcia
falava tanto. Mas ela? Por que ela? Não sabia nada, não tinha conhecimentos
sobre o misticismo. Pouquíssima coisa havia lido a respeito e se não fosse por
Lúcia e algumas poucas pessoas que ouvira falar sobre esses assuntos, poderia
dizer que não sabia absolutamente nada. E agora João Carlos, que havia falado
algumas coisas sobre espiritualismo e esoterismo.
- Não sei nem a diferença entre espiritualismo e esoterismo! Meu Deus!
O que está acontecendo comigo?
Levantou da cama e foi pegar um copo de água.
Sentou na sala e devagar foi
recapitulando passo a passo tudo que viu e ouviu no sonho.
- Ele disse “estavam mais uma vez reunidos”. Como assim?
Não me lembro de nenhuma outra vez.
Geralmente não recordo os sonhos.
Ou não sonho. Mas a ciência diz que todos sonham! Por que não recordo ?
Ficou lá, sentada, pensando, analisando, questionando ...até adormecer
novamente .
Estava agora num belo
jardim. Muitas flores ao redor. O aroma exalado era leve e agradável.
Em meio a um imenso canteiro, sentado numa grande pedra estava
aquele gnomo com aparência de Mestre dos seres do elemento terra.
Ao seu lado, espalhados pelo
chão, cristais belíssimos. E a uma
distância razoável outros pequeninos seres. Parecia que estavam recebendo do
mestre, ensinamentos relacionados aos cristais.
Todos em silêncio, olhar fixo no mestre,
ouviam com atenção suas palavras.
“Nossa função é bem maior
que muitos de vocês acreditam. Só os tolos são capazes de negar a importância
dos seres da natureza. Afinal, somos participantes ativos da criação. Digamos,
cocriadores da vida ao redor. Quando
cuidamos amorosamente do ambiente, do verde, estamos servindo ao homem.
Infelizmente, a maioria deles não é capaz de nos perceber, por isto negam nossa
existência. Vejam quanta destruição à nossa volta. É o resultado da ação
irresponsável de alguns homens”.
“Nossa tarefa, portanto, é
cuidar da natureza, preservá-la, trabalhar para restaurar os estragos feitos. A natureza que pode
oferecer todos os recursos para uma vida saudável e feliz a esses seres que
neste tempo passam pela Terra” .
“ Vejam a água! Diariamente
jogam resíduos de todo tipo nos rios e mares. Esquecem que não existe vida onde
não há água. Estão matando a água. No entanto aí estão os elementos
fundamentais para qualquer forma de vida. Olhem ao redor! Tudo que vêem é uma
forma de manifestação do Criador. É Sua
criação. Energia em ação. É
vida!”
“Vejam estas pedras....São
seres vivos também”.
Nesse ponto, aqueles seres,
pareciam estar tomando consciência da sua importância no Universo. Uma energia de força e amor circulava em todo
aquele espaço.
O mestre dos seres da
natureza, continuava falando, enquanto Clara via e ouvia tudo com muita
clareza. Estranhamente nada do que era
dito a surpreendia. Como se fosse algo que conhecia muito bem. A sua postura
era de quem compreendia e concordava com as palavras do sábio gnomo.
Então ele se abaixou e
pegando uma pedra de cada vez, continuou
falando. Chamando a atenção do grupo para a sua cor e o tipo de energia.
“ Cada pedra, seja
preciosa, ou cristal em estado
bruto, vibra numa determinada freqüência, tem um tipo de vibração e função específica. Podemos utilizar melhor
sua energia se temos o conhecimento necessário. Muitas pessoas colocam
pedras na casa para enfeitar. Isso é muito bom. Mas algumas vezes, por ignorância, deixam de
aproveitar melhor as propriedades que têm as pedras para equilibrar e
harmonizar as energias daquele ambiente. Lamentamos esse fato, porque, se usadas de
modo consciente, as pedras ou cristais podem mais. Muito mais. Podem até mesmo curar doenças”.
“Por isto, digo, que é
preciso cuidar bem e com amor do solo, da terra, dos cristais que são formados
pela cristalização da energia da Terra em contato com a energia que vem do
Cosmos. Compreendem? “Vejam então a
importância dos seres da natureza, do nosso trabalho.
“ A quantidade de raios
solares que é captada pela rocha ou
pedra vai determinar de alguma forma, a sua cor. Entendem? Já
sabemos da importância da cor da pedra.
Isso vai nos remeter aos ensinamentos que recebemos a respeito da cor como
recurso de cura. Lembram-se? Se for
necessário, podemos voltar a esse assunto para recordar.”
“ Cada cor tem uma função
específica tanto para harmonizar o ambiente como o homem. Nós estamos falando de vibração, de
irradiação de energias.
“Numa situação de desequilíbrio, por exemplo, os cristais são
apenas uma das inúmeras formas de tratamento vibracional. Sem qualquer dúvida,
é uma das mais eficientes e bonitas maneiras de ajudar as pessoas a
restabelecer a harmonia. E já sabemos que a doença tem uma função: ela surge
como um sinal, avisando que o sistema
entrou em desequilíbrio. Isto vale tanto para o homem como para o
ecossistema”.
“ Os cristais têm o poder de
restaurar o corpo, renovar suas energias, restaurar tecidos.....Além disso
reequilibra o sistema de chacras de maneira rápida e harmoniosa,
porque dissolve qualquer bloqueios no campo energético, permitindo que a energia flua adequadamente”.
“O uso de cristais ou qualquer outro recurso que permita
harmonizar o sistema energético, requer conhecimentos. Não basta boa intenção,
é preciso estudo, conhecimentos e então, sim, colocar em prática. É indispensável o saber antes do fazer. Ter
sempre em mente alguns conceitos e informações antes de começar a usar. Assim,
não pode haver erro. Aprender para fazer bem. Depois então, realizar a tarefa”!
“Realizar a tarefa”! Aprender para realizar a tarefa!
Acordou muito bem. Uma sensação muito boa. O corpo e a mente em
equilíbrio. Paz. Era assim se sentia Clara hoje, em paz.
Lembrava dos sonhos com todos os
detalhes.
Provavelmente estava recebendo informações e conhecimentos muito importantes durante o
sono. Era uma oportunidade que não podia desperdiçar. Aprender tantas coisas
através de sonhos. E
impressionante! Cada palavra, gesto,
olhar, tudo....tudo estava muito nítido,
como se estivesse assistindo um filme,
agora. No coração uma
certeza: Aquilo que vinha acontecendo
era algo muito, muito importante para
ela. Não era a mente que lhe dizia isso,
era o coração.
Esse sentimento que se apoderava
dela não era normal, nunca havia se
sentido assim. Parecia que ao invés de sangue, o que corria pelas suas veias e por todo o corpo, era
paz.
Com certeza, estava recebendo algum tipo de ajuda do alto.
Ela que sempre pensou que sua vida era sem graça, que a única coisa
importante era o trabalho, começava a acreditar
na felicidade. Isso que sentia era felicidade.
Estava decidida a fazer a sua
parte, da melhor maneira possível!
Precisava analisar o caminho que vinha percorrendo, saber o que queria
da vida. O que esperava alcançar. A realização
que buscava estaria mesmo no trabalho? E a vida pessoal, tão pobre se
emoções...era isso mesmo que queria para ela?
-
Estarei sendo uma boa médica? Uma boa amiga? Uma pessoa boa? Será que estou
certa em acreditar que não preciso de um companheiro para dividir,
compartilhar, trocar? Isto não será uma forma de egoísmo? Não querer dividir
espaço, compartilhar? Ou medo de enfrentar as diferenças de personalidades?
-
Não, casar, não. Posso crescer por outras áreas, sem precisar de ter uma
família. Com certeza!
Saiu cedo de casa. Queria
começar logo para terminar mais cedo. Precisava fazer algumas compras e
pretendia passar por um Shopping para ver o presente de Lúcia, que aniversaria
na próxima semana. Aproveitaria para ver alguma coisa para ela. Precisava
renovar algumas peças do guarda roupa. Normalmente não era vaidosa, mas
sentia vontade de alguma coisa mais alegre. Queria variar, suas roupas são
quase todas em tons de terra,
marrons... talvez fosso bom mudar um pouco.
A manhã passou rápido e logo estava na creche
onde trabalha uma ou duas vezes por semana, conforme a necessidade. É aí que se
sente melhor. As crianças têm um jeito muito especial, cuidar delas dá o maior prazer. Antes mesmo de terminar a
Faculdade já ajudava essa Instituição que atende crianças de famílias pobres.
As mães deixam os filhos ali antes de sair para o serviço e as pegam no final
do dia, alimentados e bem cuidados.
Clara costuma agradecer a Deus essa
oportunidade de ajudar as crianças. Se pudesse, gostaria de construir um centro de atendimento para crianças e
jovens. Mas por enquanto não havia condições de fazer um trabalho dessa
natureza. Mas quem sabe mais tarde? Esta Creche é bem estruturada, todos que lá
trabalham, o fazem apenas pelo prazer de
ser útil, com amor e sem desejar qualquer retorno material. Isto lhe dá prazer de trabalhar lá. Depois de
examinar as crianças e ver que estão bem,
não necessitando de maiores cuidados, satisfeita, Clara já sai para as
compras.
Chegou
em uma boa hora, as lojas estavam praticamente vazias, podia ver o que queria
sem atropelos.
Andou
pelos largos corredores, sem pressa, com uma serenidade que lhe era
desconhecida. Caminha olhando as vitrines que oferecem mil possibilidades de pagamento e uma decoração que estimula as pessoas a consumir mais do que
podem.
Entrou
numa grande Livraria à procura de um livro para presentear a aniversariante.
Queria alguma coisa relacionada à Psicologia, talvez um livro de Jung. Ela
gostava dele e agora estava estudando sonhos e os Arcanos. Alguns trabalhos de
Jung abordam esses assuntos. Acabou por
escolher um de Contos e Metáforas, provavelmente iria agradar. Lúcia gostava de usar histórias e metáforas no trabalho como
psicóloga. Dizia que dessa maneira, seu cliente tinha acesso mais fácil às suas
questões e dificuldades.
Viu diante dela uma prateleira com livros sobre
Terapias Alternativas. Quantos
assuntos ligados a esse tema. Nunca havia prestado atenção a esse fato. Quantos
autores, brasileiros e estrangeiros se dedicam ao assunto. Livros Ufologia, de Mestres, de Exercícios de Respiração,
Corpos, Planos... Que variedade!
Ficou parada se perguntando como pode uma pessoa como ela, sem qualquer
experiência escolher algum. É realmente muito difícil e as probabilidades de
erro são muitas. Tantas quanto o número obras que estão ali à disposição. Ficou
alguns minutos ali, sem saber por onde começar. Um de capa vermelha chamou a
sua atenção. Pegou o livro e não pode
disfarçar o riso. Falava sobre cristais e seu uso terapêutico. Pareceu bem
interessante. Pegou outros da mesma autora e de autores diferentes.
Escolheu dois que pareciam ser de
leitura mais fácil, sem grandes
dificuldades de compreensão.
Pegou um de Inteligência
Emocional, que já estava querendo ler e continuou a visita à Livraria. Um livro de capa azul e letras amarelas a
chamou. Chegou mais perto e viu que tratava da Medicina Vibracional.
- Parece legal! Vamos ver o que
diz, o que posso aprender com ele.
“Aprender para realizar a tarefa” -
essas palavras surgiram mais uma vez na sua mente.
Quando saiu da loja, segurando a sacola, sentia-se como se estivesse
refazendo uma relação que havia sido interrompida. Pensou no Irmão e
mentalmente pediu que a ajudasse a entender e compreender.
Uma loja de artigos esotérico chamou a sua atenção. No chão, num dos cantos, havia uma ametista
enorme. A cor bem violeta, quase lilás,
era realmente linda! Parou observando a pedra e admirando a sua beleza.
-
Parecida com a que Lúcia tem na sala. – pensou.
- Tem o poder de transmutar as energias
do ambiente. É muito bom ter
em casa um cristal destes. Traz paz e tranqüilidade.
Clara se voltou e viu uma senhora ao seu lado. Sorria carinhosamente enquanto a olhava.
- Desculpe, mas você estava tão distraída olhando a ametista. Gosta de
pedras? Costumo vir aqui para comprar as minhas. Não devemos comprar em qualquer lugar,
concorda?
Clara olhou a senhora e sorriu.
- Eu não tenho muito conhecimento sobre
o assunto. Estava olhando porque é muito bonita e chamou minha atenção.
Na verdade não sei nada a respeito. Acabei de
comprar livros sobre cristais.
Não sei se são bons, mas é um começo.
- Quando comprar cristais, lembre-se de limpá-los logo ao chegar em
cassa. Nos seus livros vai encontrar como fazer isso.
A senhora se despediu e Clara entrou na loja.
Aproximou-se da ametista. Era muito
bonita, decidiu comprá-la. Ficaria bem na sala. A funcionária garantiu
que poderia mandar entregar em casa no dia seguinte.
Quando já saía viu na vitrine um pequeno gnomo.
- Que gracinha, assim vestido! Vou me dar de presente.
Clara sorriu feliz diante do gnomo. Ele tinha um capuz de tecido
vermelho, barbas longas e calças e botas marrons. Estava em pé, sobre uma placa
com seu nome: Haroldson. Seus olhos meio
fechados pareciam rir dela. Tinha a sensação
que ele a escolhera, e não o contrário.
Saiu da loja feliz, alegre,
parecia uma criança que havia ganhado um brinquedo muito desejado. Estava radiante. Haroldson! Gostou dele.
O celular tocou quando saia da loja onde comprou algumas roupas.
-
Clara, é João Carlos. Por onde anda menina? Já jantou?
Quando Clara chegou ao
restaurante, ele já a esperava.
-
Que convite agradável! – falou Clara enquanto se abraçavam.
- Acabei de sair do escritório,
hoje foi um daqueles dias em que não há tempo nem para um telefonema, quando vi
já era noite. Não deu tempo de ligar antes para marcar mas queria saber de você, conversar um
pouco.
- Foi uma ótima idéia. Estou na rua desde cedo. Jantar numa companhia
tão interessante é um presente. Ah! Deixe-me mostrar o que acabo de me dar
presente.
Pegou a saca de embrulhos e mostrou o gnominho ao amigo
-
Não é lindo?
Mostrou os livros e com
entusiasmo, falou da ametista.
- Estou tão contente....faz
muito tempo não me sinto tão bem.
Começou a rir. João Carlos a olhava
com carinho.
- Você está estranha, menina! O que aconteceu com você? Está até mais
bonita! Uma beleza diferente, que vem do interior. Parece mais forte!
Clara
sorriu sem jeito.
-
Eu mesma me sinto estranha. Estou me desconhecendo. Também não é para menos...
parece que estou virando pelo avesso, tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.
Nesse momento tomou a decisão que faltava: abrir totalmente seu
coração.
- Queria muito poder contar-lhe tudo que vem acontecendo. Preciso que
me oriente, você vai saber me explicar o que é isso, entende? Sei que você pode me ajudar. Você tem sido tão legal comigo...
- Estou aqui, conte-me tudo,
parece com medo de algo....
- Não, não se trata de nada que implique em perigo. É a minha cabeça. Ou quem sabe...o coração!
Sei lá! Ouça:
Clara sente-se aliviada por
poder abrir-se para um amigo em quem pode confiar.
continua...
MCCA
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