Algumas pessoas sonham intensamente - muitas vezes por noite
- e, em geral, só conseguem lembrar dos sonhos que ocorreram mais próximos da
hora do despertar, pela manhã. Outras vezes um sonho é tão vívido, tão
impressionante, que fica com a pessoa o dia todo. Em diversos momentos ela se
vê relembrando cenas e sensações do sonho que a invadem como uma criança, lhe
cutucando a pedir algo. Alguns sonhos até persistem por um longo tempo. Eu
mesma lembro da cena completa de um
único sonho que tive aos cinco anos de idade e que até hoje é vívido em minha
memória. Mas e quem não consegue lembrar-se dos próprios sonhos?
Algumas pessoas afirmam que não sonham. Outras que jamais ou
raramente se lembram de seus sonhos. E há, ainda, os que sonham, lembram-se do
sonho ao acordar, mas o esquecem, ao longo do dia. Vale lembrar que quando o
sonho não recebe a devida atenção, ele se esvai na memória.
TODO MUNDO SONHA?
Primeiramente, é praticamente impossível um ser humano
saudável não sonhar. É possível, sim, que haja certa constipação de sonhos, ou
seja, pessoas que sonham realmente pouco. Em geral, isso estará atrelado a
algumas situações específicas, como idade muito avançada, algum tipo de
transtorno mental ou trauma que tenha afetado as regiões do cérebro envolvidas
organicamente na produção onírica.
Obviamente que em casos de severos traumatismos ou comas
profundos ainda é impossível afirmar que tais pacientes sonhem. Porém, o mais
comum é que a pessoa simplesmente não se interesse por estabelecer nenhum tipo
de contato com seus sonhos, por julgar banalidade, algo sem importância e que
nada diz sobre ela e seu mundo mais interior. Nesse caso, o sonhador encara
essa situação como uma realidade distante, porém isso não a torna irrelevante
ou inexistente.
A verdade é que esta atitude do homem moderno para com seu
próprio inconsciente, especialmente em relação aos sonhos, é a causa principal
da sintomatologia neurótica - que se caracteriza por um conflito entre o que a
pessoa é e o que aprendeu a ser socialmente. A incompatibilidade entre as
expectativas familiares, sociais, culturais e profissionais, além das
exigências da alma, gera esse tipo de sintoma.
"A falta de conexão com o mundo interior priva o homem
moderno de se guiar adequadamente no mundo exterior."
Frequentemente observamos pessoas que não vivem a vida que
gostariam de viver, não estão no casamento em que gostariam de estar, não
trabalham no que gostariam de trabalhar, não se divertem da forma que desejam,
não passam tempo com seus filhos tanto quanto gostariam, enfim, fazem
exatamente tudo o que suas almas não querem. Provavelmente sonham com tais
situações, mas o fato de não saberem interpretá-las, não buscarem um analista
para ajudá-las a entender, ou realmente não se interessarem em absoluto pelo
que suas almas lhes comunicam, acabam padecendo de fortes sintomas neuróticos -
que são, em geral, padrões repetitivos e quase sempre geram resultados
negativos na vida da pessoa.
Nesses casos, há uma dissonância entre o mundo interior e o
mundo exterior. Por essa razão, é trabalho do terapeuta ajudar o paciente a
equalizar essa relação. Por exemplo: uma mulher cuja mãe sempre a criticou e
que possui - de maneira repetitiva em diversos setores de sua vida - forte
autocrítica e nunca se julga boa o suficiente. Isso acaba por boicotar suas
possibilidades de sucesso e, por conta do "padrão neurótico", fica
impedida de realizar todo seu potencial.
SONHOS DIZEM O QUE VOCÊ AINDA NÃO SABE
Para lembrar-se dos sonhos, em princípio, é importante
entender a razão de existirem. Os sonhos são um produto totalmente individual,
ainda que contenham símbolos do coletivo. A linguagem do sonho é o símbolo.
Eles estão para os sonhos como as palavras estão para nossa linguagem. Então
podemos compreender que os sonhos são como uma conversa que o inconsciente
tenta estabelecer com a consciência, com símbolos em forma de imagem,
conhecidos ou pelo menos inteligíveis. A consciência perdeu sua capacidade de
entendê-los e, por isso, hoje um especialista se faz necessário para essa
tarefa.
"Os sonhos são os recados da alma do indivíduo."
Eles dizem aquilo que não sabemos, que não acessamos pela
simples vontade arbitrária consciente. Os sonhos nos dizem o que precisamos
mudar, nos alertam para os perigos de manter uma atitude que fere a alma, nos
indica um caminho, nos ajuda a lidar com situações externas a nós e que nos
afetam.
Agora, sabendo que os sonhos são tão importantes, vou
comentar algumas dicas de como entrar mais em contato com essa linguagem, como
se aproximar do inconsciente e, finalmente, como se lembrar de seus sonhos:
1 - Entenda e aceite que os sonhos são o seu canal de
comunicação com o desconhecido em si mesmo.
2- Não refute ou
ignore seus sonhos por conta de um julgamento racional ou por não entender seu
significado.
3- Ao terminar de
sonhar e se perceber voltando à consciência, ainda deitado e de olhos fechados,
procure repassar as cenas do sonho em sua mente consciente, a fim de
fixá-las-las em seu cérebro, para que se tornem acessíveis.
4 - Assim que
abrir os olhos, tenha um caderninho à mão para anotar este sonho e não mais
correr o risco de esquecê-lo. Algumas pessoas fazem um diário de sonhos, no
qual registram todas as mensagens com data, para que possam ser elaboradas
posteriormente com o analista.
5 - Manter uma
constância nessa atitude fortifica o contato com o inconsciente e permite que
após algum tempo você avalie os sonhos sequencialmente, percebendo neles uma
história. A sua história.
6 - Contar o sonho
a alguém pode ser produtivo. Ainda que a pessoa lhe questione algo infundado ou
faça comentários inadequados, você pode ter alguns "insights" a
respeito do que sonhou. O mais aconselhável é buscar um especialista que faça
isso junto com você, fazendo perguntas mais pertinentes e inferências propícias
que lhe ajudem a descortinar os símbolos que seu inconsciente produziu. Em
geral, esse especialista é um psicólogo que utiliza uma abordagem na qual
analisa sonhos e símbolos.
7 - Ao buscar esse
contato mais profundo com o próprio inconsciente, você certamente descobrirá
uma forma mais efetiva de estar no mundo e enfrentar as questões diárias com
mais propriedade.
Thais Khoury
(Revista Eletrônica
Personare)
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