Devemos criar os filhos para o mundo.
Torná-los autônomos, libertos até de nossas ordens.
A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais acredita e tenta fazer isso.
O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.
Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.
Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como?
Não é nosso, recordam-se?
Foi apenas um empréstimo!
Então, de quem são nossos filhos?
Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.
E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento?
Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice?
Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles (não se esqueçam), são do mundo!
Três dias na cobertura da tragédia na pousada Sankay, olhos grudados em fotos, tevê e internet, vozes chorosas de mães e tios ao telefone me fizeram pensar nessa dor gigantesca que deve ser para um ser humano devolver o que mais amou nessa vida, mas nunca foi seu!
E, principalmente, me fez entender que mais do que corajosos, nós, pais, somos loucos por correr o risco de amar tanto sem garantias.
Volto para casa ao fim do plantão, início de férias, mais tempo para os fllhos, olho meus pequenos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo!
Mas é. Eles são do mundo.
O problema é que meu coração já é deles.
(escrito por uma jornalista, após a tragédia de Angra dos Reis)
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