quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pessoas invisíveis

Reflexão...

Caminhamos todos os dias pela nossa cidade, pelas ruas, no nosso trabalho, por entre muitas pessoas exatamente como nós.

Vemos suas funções e profissões, como as nossas. Vemos o carteiro, o comerciante, as atendentes, os professores, os guardas de trânsito, os diretores, os lixeiros, o mendigo, o contador, os padres, os pastores, os fiéis, os infiéis, a mãe, o pai, os filhos, nossos avós... Os quais, como nós, representam e executam os seus papéis na sociedade.

Assim somos beneficiados por seus trabalhos e por suas produções. Usufruímos de nossos confortos, nos alimentamos... Mas, será que nos conscientizamos que são essas pessoas, invisíveis para nós, que nos trouxeram o alimento, produziram em fábricas e linhas de produção a roupa que vestimos, o agasalho que nos acolhe no frio...

Será que nos conscientizamos do esforço de nossos pais e mães, que diligentemente calcaram em nós as bases de nossa educação e formação moral, e que, muitas vezes, em esforço extremo tudo fizeram para que não nos faltasse nada, ou que ofereceram aquilo que podiam para nossa sobrevivência material, psicológica e espiritual, proporcionando as condições para que pudéssemos ser o que hoje somos?

Sim, no mais das vezes nos esquecemos de agradecer aos nossos caros, nossos antepassados, nossa família, nossas esposas e esposos, nossos filhos, nossos colegas e companheiros de jornada, nossos irmãos invisíveis que lutaram, viveram e trabalharam para nossa estruturação, para a construção das bases de nosso crescimento.

Na correria e no tumulto dos dias de hoje, na pressa, passamos pelas pessoas, olhamos para elas através do nosso ego, enxergamos nelas apenas e tão somente as suas funções e papéis!

Quando estamos em nosso automóvel, quantas vezes vemos as pessoas apenas como obstáculos em nosso caminho, onde queremos passar, ultrapassar, chegar logo e muitas vezes criamos a expectativa e mesmo exigimos que aqueles que nos servem em seus papéis e profissões nos atendam o melhor e o mais rápido possível, porque estamos na fila, porque estamos pagando... Sem realmente os enxergarmos! Pare e pense, para elas ficamos condicionados a ver apenas seus papéis!

E quanto aos lixeiros, encanadores, serventes, porteiros e pedreiros... Que simplesmente os vemos – quando os vemos – apenas como peças, como servidores?

É... Na realidade, será que os estamos vendo como pessoas? Para muitos de nós, são pessoas “invisíveis”.

Gente, precisamos urgentemente, aos nossos olhos, deixar nuas todas as pessoas de nosso convívio diário. As pessoas que passam por nossa vida. A multidão. E ao despi-las de seus papéis, vitais papéis, passarmos a enxergá-las como seres humanos. Como nossos irmãos na grande família da qual fazemos parte.

Para Deus, não existe nenhuma vida que seja mais importante que a nossa. E quando passamos a ver as pessoas como iguais, como irmãos que conosco interagem nas mais variadas funções e papéis, podemos, quiçá pela primeira vez os olhar e enxergá-los como pessoas visíveis aos olhos de nosso coração.
Pessoas que têm as mesmas necessidades que nós. Que precisam de alegria, de carinho e afeto, consideração e reconhecimento. Pessoas que precisam, como nós, do pão material e espiritual de cada dia.

Pessoas que para nós, invisíveis, têm sentimentos, esperanças, anseios de concretizar os seus sonhos, por menores ou maiores que possa parecer. Pessoas que como nós lutam e “ralam” nos seus dias de muito trabalho, de muitos sacrifícios para alimentar e cuidar de suas famílias. Pessoas invisíveis, porém pessoas. Nosso semelhante, que por direito divino também precisam ter e ser o que temos e somos para nós. Pessoas invisíveis que têm uma alma, que apelam em seu sofrimento para o mesmo Deus de todos nós.

As pessoas invisíveis erram. As pessoas invisíveis acertam. As pessoas invisíveis experimentam suas vitórias e suas derrotas, por tantas vezes o desprezo e menoscaso de seus irmãos que por eles passam sem sequer os perceberem como pessoas. As pessoas invisíveis estão por todo lado. São amigos, são inimigos, são concorrentes... As pessoas invisíveis caem e precisam levantar-se. As pessoas invisíveis são como nós. Como também, muitas vezes somos invisíveis para alguns. E para muitos.

As pessoas, visíveis ou invisíveis são iguais a nós! E também são diferentes. Uns são mais fraternos, outros mais honestos, outros mais autênticos, outros mais espiritualizados, outros mais materialistas. Outros mais arrogantes, outros mais humildes, outros mais cultos e outros mais incultos. Mas todos nós possuímos a Essência Divina, a Fagulha Imortal de Deus, que a todos nos criou, não na imagem que fazemos dEle, mas, ao contrário, à Sua semelhança.

E o infinito Amor de Deus se espraia a todas as suas criaturas. Sua proteção e amparo, Sua Presença habita no coração de todos nós. Quer vejamos, discriminemos e julguemos nosso semelhante com os óculos de nossos preconceitos, com as classificações e rótulos que lhes impigimos. Quer sejam aos oprimidos e opressores, os fracos ou os fortes, os conhecidos e desconhecidos. Daqui ou do outro lado do mundo.

Jesus nos disse para amarmos a todos como a nós mesmos. E as pessoas, visíveis ou não são para nós como espelhos que nos refletem. Que nos refletem a expressão de nossos pensamentos e sentimentos, a conseqüência de nossos atos, as virtudes e defeitos que estão em nós e que projetamos nos outros.

O que representa teu próximo para ti mesmo?
Quem é aquele que te serve nos seus papéis?
Quem é o teu irmão desconhecido ou familiar para ti?
Acaso te comparas o tempo todo com os outros?
Acaso tuas aspirações, teus sonhos, projetos e metas são mais importantes para ti que para os demais?
Consegues enxergar alguém semelhante a ti nos lixeiros?
Nos desvalidos? Nos decrépitos? Nos menos favorecidos? Nos mais favorecidos?
Consegues saber como vivem?
Já consegues tratá-los e vê-los como iguais? Consegues sorrir para eles?
Ou será que ainda são pessoas invisíveis para ti?

Consegues ver mais as suas qualidades, sendo compassivo com seus defeitos? Acaso não estamos todos evoluindo juntos, aprendendo, acaso não imaginas que todos estamos tentando fazer o nosso melhor, o que se pode?

Como vemos nossos irmãos menores, os animais? Como vemos nosso mundo, a Natureza? Como vemos as árvores, as plantas? Como vemos nossos patrões e empregados? Mas, fundamentalmente, como vemos a nós mesmos?

Deus a tudo vê. E tu podes ver e sentir também. Agora vista as pessoas nuas de novo com seus papéis e funções. Mas não se esqueça de ser grato a todas elas. Vista-as com as roupagens de tua compreensão, de teu calor, de tua sabedoria e amor por elas. Ajude-as, pois assim estarás te ajudando. Veja-as! Torne a todos visíveis e abra os olhos de sua mente e coração para o que antes não enxergavas. São as pessoas invisíveis que sustentam nossos sonhos e ideais. São as pessoas invisíveis que nos dão o suporte da felicidade que temos e almejamos. São as pessoas visíveis e as invisíveis que contam conosco o tempo todo para contribuir com o sentido maior em nossas vidas.

Ajude o mundo a ser um pouco melhor, todos os dias. Tudo dependerá da forma de ver e agir. Pois bem sabes que, em verdade, o sol nasceu para todos, a flor oferece seu perfume para o justo e o injusto e para quem dela se acerca. E que todos somos filhos do Único Deus.

Mas não pense que eu já enxergo todas as pessoas invisíveis, não. Como tudo na vida requer treinamento, estamos treinando, você e eu. E caminhamos todos rumo à expansão crescente de nossa consciência. Treinando a nossa capacidade de amar, que se estende ao infinito. Treinando ver Deus em todas as pessoas, em todas as coisas e em todos os seres. Treinando a felicidade de nos ver e ser em unicidade com todos.

Tu és um sol de potencia de Amor e Luz. Como nos disse o Mestre, ponha bem alto a tua candeia para iluminar a todos. Tu és a Luz do mundo, exatamente donde estais. Tu és o infinito do amor de Deus manifestado em tua alma e consciência. Tu és e cada vez mais podes ser o próprio Amor de Deus pulsando e vibrando para a Vida. Tu não és invisível para Ele, nem para aqueles que te amam e que contigo compartilham o mesmo tempo e espaço nos caminhos desta vida.

E o Universo inteiro te acolhe e te ama. E tu és mesmo importante, original e único no Cosmos. Insubstituível! E tens a acuidade do espiritual olhar para ver, perdoar, amar e considerar aqueles que antes eram invisíveis. Portanto, tens em tua mente, teu coração e em tuas mãos as chaves de tua própria felicidade e liberdade através do Amor que ofereces, por via desse amor posto em ação e obras, sabendo sempre, que para o Altíssimo, não há pessoas invisíveis.


Ivanildo Falcão da Gama

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