sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Educando para o despertar da Alma

Por Regina Pimentel (Grupo SerAtento)

A sociedade tecnológica reforça um modo de vida que é desprovido de uma base espiritual, com ênfase na busca de respostas externas. A humanidade cada vez mais se desliga da natureza.

Há séculos os sábios orientais vêm propondo a unidade de todos os seres e a harmonizar a iluminação com o modo de lidar com as pessoas. O primeiro passo é olhar para dentro, o mundo interior. O segundo passo deve ser o olhar para fora, o mundo exterior. Para crescermos em direções mais elevadas temos que encontrar o caminho para fora da ignorância que nos deixa num estado de indiferença, apatia e esquecimento do verdadeiro ser. A comunhão do dentro e o fora ajuda a emergir a consciência não desperta para se abrir para o todo. Um estado de espírito elevado resulta de uma vontade firme, voltada para a fonte de paz.

Será que aproveitamos o que está disponível para, de fato, evoluirmos?

A natureza nos revela a todo momento paisagens construídas harmoniosamente, em conformidade com princípios avançados, simplicidade, doação, vontade e grande força. A prática da ecologia profunda ensina que as florestas tem sido, e provavelmente serão sempre, templos naturais que inspiram a caminhada humana em busca da plenitude interior.[ 1] Tudo está absolutamente implícito nas inúmeras paisagens que se apresentam. Como seres em construção aprendemos com os vários aspectos da realidade, e nada ocorre por acaso.



Ás vezes experimentamos uma intensa comunicação interior com algum lugar especial da natureza. Esta pode ser o começo de um aprendizado maior. O ser humano é capaz de deixar de lado suas urgências e ansiedades urbanas para perceber o fluxo vital presente nas formas da natureza. Jean-Jacques Rousseau escreveu, no século 18:

Vivificada é a natureza e revestida com seu vestido de núpcias no meio do curso das águas e do canto dos pássaros, a terra oferece ao homem, na harmonia dos seus três reinos, um espetáculo cheio de vida, interesse e encanto, o único espetáculo no mundo de que seus olhos e seu coração não se cansam jamais. Quanto maior for a sensibilidade da sua alma, mais o contemplador se entregará aos êxtases que essa harmonia provoca nele. Um devaneio doce e profundo apodera-se então dos seus sentidos, e ele se perde, com uma deliciosa embriaguês, na imensidade desse belo sistema com o qual sente-se identificado. Então, todos os objetos individuais lhes escapam; nada vê, nada sente senão o todo.[2]

Ao libertarmos das nossas necessidades artificiais rejeitamos os costumes que nos afastam de nós mesmos e do brilho da alvorada de nossa existência. O conhecimento das leis da natureza são indispensáveis para uma sobrevivência saudável e fraterna, que possibilita uma organização mais coerente com a própria vida.

De acordo com o escritor franco-suiço, Jean-Jacques Rousseau, a integridade é ainda mais valiosa para as pessoas de bem que a erudição para os doutores. Depois de ter sustentado, segundo minha luz natural, o partido da verdade, seja qual for o meu sucesso, há um prêmio que não me há de faltar, e que encontrarei no fundo de meu coração. [3] Ao abrirmos ao movimento do ser interior, aos movimentos da natureza podemos ouvir suas mensagens secretas.

De acordo com o axioma de Helena P. Blavatsky, o real autoconhecimento é o despertar de consciência da natureza divina do ser humano. [4] Mas devemos nos libertar da rotina e das idéias preconceituosas através do esforço diário, da auto-responsabilidade e do discernimento. Além disso, o estudante não pode obter a verdade lendo ou vendo alguma coisa, como se a verdade estivesse em algum livro secreto, em uma organização, ou em uma escritura sagrada. Perceber a verdade é uma questão de sintonia interior. O indivíduo precisa transformar- se, gradualmente, na sabedoria universal que busca. Através do pensamento sincero, da vida limpa e da conduta correta, ele deve reconstruir a si mesmo com a substância da verdade que procura contemplar. [5]

Eliphas Levi, escritor francês, um precursor da filosofia universalista de Helena Blavatsky afirmou que o homem pode ser modificado pelo hábito, que, conforme o provérbio, nele se torna uma segunda natureza. Por meio de uma ginástica perseverante e graduada, as forças e a agilidade do corpo se desenvolvem ou se criam numa proporção admirável. O mesmo se dá com as forças da alma. Você quer reinar sobre si mesmo e sobre os outros? Aprenda a querer.[6] É preciso querer sem interrupção, e pouco a pouco se desvela o caminho que leva à essência do ser.

A música, as artes plásticas, a poesia, a história, a dramatização, a oração criadora, a contemplação, a meditação são forças educadoras e purificam os movimentos da alma quando praticadas adequadamente.

Eliphas Levi expressa que quando a alma tiver desenvolvido todo o seu poder, ela fará um corpo à sua imagem. Este será o reino do céu sobre a terra; e os corpos serão os templos das almas, assim como o universo, regenerado, será o templo de Deus. [7]

Tal realização é mais elevada. Ao abrirmos para nossa própria alma adentramos na alma do universo. O líder indiano Sri Aurobindo, escreveu sobre O Valor da Arte na Educação. Ele disse que uma nação rodeada diariamente pelo belo, nobre, fino e harmonioso se torna aquilo que ela é habituada a contemplar e realiza em si a plenitude do espírito em expansão.[8] A arte pode expressar a verdade eterna.

A vitória do despertar da alma é conquistada diariamente. Os ensinamentos teosóficos praticados no dia a dia dirigem os pensamentos, sentimentos e ações para níveis mais elevados de consciência.

Paz e luz,

Regina

Notas:

[1]A Vida Secreta da Natureza, Carlos Cardoso Aveline, Editora Bodigaya, p. 21.

[2]A Vida Secreta da Natureza, Carlos Cardoso Aveline, Editora Bodigaya, pp. 100, 101

[3] Conversas na Biblioteca, Carlos Cardoso Aveline, Editora Edifurb, p. 77

[4] Textos Seletos de Helena Blavatsky, Vol I, Coleção Omnia, p. 68

[5] A Força de Um Compromisso Sagrado, Carlos Cardoso Aveline
http://www.filosofi aesoterica. com/ler.php? id=1481#. Ugfc78PNjX4

[6] Conversas na Biblioteca, Carlos Cardoso Aveline, Editora Edifurb, p. 88

[7]O Templo do Futuro, Eliphas Levi

http://www.filosofi aesoterica. com/ler.php? id=1219#. UggPx8PNjX4

[8] O Valor da Arte na Educação, Sri Aurobindo, Ananda, Caderno Especial 3, Ano 22 número 4 – julho/agosto 1993

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