Perfume ou Detergente?
Marcelo Teixeira
Retirado da internet do site: www.umep.com.br/artigos/artigo0020.htm
Adaptado para português de Portugal.
Somos espíritas, tentamos ser espíritas, queremos ser espíritas dentro e fora da casa espírita. Tomara, mas tomara mesmo, que consigamos ser espíritas fora do ambiente do centro espírita. Afinal, o mundo está aí, com suas lutas e desafios, testando nossa capacidade de sermos melhores a cada dia.
Mas não é o mundo lá fora o objecto de reflexão deste artigo. É o mundo dentro da casa espírita. Melhor dizendo, é a nossa postura em relação ao centro espírita que frequentamos. Por essa razão, cabe formular novamente as perguntas do título. Que tipo de espírita é você? Perfume ou detergente?
Muitas são as pessoas que, ao comprar um perfume, pedem para sentir sua fragrância. Uma amostra do perfume é espirrada no nosso braço ou naquela tirinha de papel, para que possamos escolher o melhor aroma. E é um cheiro delicioso, agradável, chique, que nos remete a sensações de elegância, bem-estar, sofisticação.
Já, o detergente é apanhado sem muita atenção na prateleira do supermercado e colocado no carrinho, misturado com várias outras compras.
O perfume não. Quer o compremos para presentear alguém ou para uso pessoal, ele ganhará uma embalagem elaborada, fina, que chame atenção. Tanto que adoramos oferecer perfume como presente. Ao mesmo tempo, ninguém, em sã consciência, presenteará alguém com uma embalagem de detergente.
O perfume merece lugar de destaque na nossa casa; o detergente não.
O perfume custa caro; o detergente não.
O perfume tem um frasco bonito; o detergente não.
Mas, apesar de todas estas aparentes desvantagens, o detergente ganha na limpeza, literalmente, do perfume. Afinal, é o detergente que limpa a casa, apesar de, depois da tarefa cumprida, voltar para o canto do armário da área de serviço. E o perfume, embora reine impávido e reluzente no toucador ou na bancada do lavatório do WC, não tem capacidade de encarar uma limpeza pesada, algo que o detergente faz com a maior facilidade. Só que, estranhamente, a sociedade vangloria o perfume e esquece-se do detergente. E acaba reproduzindo isso na relação social, pois damos mais valor à pessoa-perfume do que à pessoa-detergente.
No centro espírita, esta célula social da qual fazemos parte, acontece o mesmo fenómeno. Quem tem “olhos de ver”, como dizia Jesus Cristo, já deve ter notado que há espíritas-perfumes e espíritas-detergentes. E deve ter notado, também, que há os espíritas desavisados que se deixam levar pelos “falsos profetas”; adulam o espírita-perfume e nem notam a existência do espírita-detergente.
Quem é o espírita-perfume? É aquela pessoa faz presença. Aparece para espirrar um cheirinho de lavanda aqui, um aroma de almíscar ali, uma fragrância de alfazema acolá... Geralmente, abraçam tarefas de destaque, são bonitos, sorridentes, carismáticos, bem cuidados... Por essa razão, fascinam os desavisados. Não digo que os espíritas-perfumes são assim propositalmente, com o intuito deliberado de iludir as pessoas. São assim sem ter noção. Simplesmente são assim. É o que têm para dar. E fazemos votos que eles continuem dando à casa espírita pelo menos o que eles podem dar por enquanto.
E o espírita-detergente, quem é? É aquela pessoa que está sempre na casa espírita. Deixa tudo limpo, em ordem. Em contrapartida, não é notada. Na verdade, ela não faz a mínima questão de ser notada. Mas, como dedica-se a tarefas supostamente subalternas, não é valorizada. Mas, se faltar, sua ausência será sentida, e como!
Para termos uma ideia melhor de ambos e de que como agimos perante eles, vamos imaginar a seguinte situação: um renomado expositor e escritor espírita virá à casa que frequentamos para fazer uma palestra e autografar seu mais recente livro. De seguida, haverá um buffet. Os detergentes, é claro, combinaram de chegar cedo. Limpam o salão, arrumam a mesa do orador, preparam a mesa para a venda de livros, preparam o salão onde será colocado o buffet, fazem o café, dispõem os doces e salgados na mesa... Quinze minutos antes do evento começar, chegam os perfumes. Arrumados, perfumados (é claro) e sorridentes, acercam-se do orador, cumprimentam-no, abraçam-no. O que fazem os demais trabalhadores da casa? Suspiram de contentamento ante a chegada dos perfumes. É como se o ambiente se enchesse de luz ante a chegada de seres que fazem tão bem à nossa vista.
Findo o evento, enquanto os detergentes arrumam tudo, os perfumes ficam conversando com o orador, elogiando sua palestra e falando sobre a grandiosidade dos conceitos espíritas. Mas são incapazes de lavar um copo ou carregar uma cadeira. Depois, vão-se embora e deixam os detergentes porem a casa novamente em ordem.
Por que acontece isso? Porque, numa sociedade dominada pela imagem, deixamo-nos seduzir pela imagem e passamos a adular, dentro da casa espírita, a equipa do perfume.
Isso significa que devemos adular a equipa do detergente? Adular não; valorizar sim. Dar valor não tem nada a ver com estender tapete vermelho. É ficar ombro a ombro com pessoas que, muitas vezes, carregam o centro espírita nas costas sem darmos conta.
Os perfumes só aparecem de vez em quando para espirrar o seu cheirinho agradável. Ao mesmo tempo, os detergentes estão em todos os lugares, muitas vezes sobrecarregados, abraçando várias tarefas que são imprescindíveis para o bom funcionamento do centro espírita.
Mas como ficar ombro a ombro com os detergentes? Simples, seja você também um detergente e pare de ficar batendo palminhas para os perfumes. Quando isso acontecer, os perfumes perceberão que precisam ser detergentes. Afinal, repito, os perfumes não agem assim por mal. Simplesmente ainda não perceberam o real significado do trabalho numa casa espírita.
Que tipo de espírita é você? Perfume ou Detergente?
Que Jesus nos envolva no seu olhar radioso de paz e amor.
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