terça-feira, 14 de novembro de 2017

Conexão com a criança que está por vir

Biblioteca Virtual de Antroposofia

“Nos tempos antigos, as mães eram profundamente conectadas com a
criança que estava por vir. De acordo com Rudolf Steiner, o criador da antroposofia, pode-se dizer que da mesma maneira que o pai e a mãe se preparam, aguardam e sonham com a chegada dessa criança, aquele
espírito também se preparou ao escolher seus pais, os que tornarão
possível sua vinda e estadia aqui na Terra.”

Assim que a mulher descobre que terá um filho, um sentimento solene desperta: o de que a ela foi dada uma tarefa muito importante, de que nela se opera uma vontade divina. E assim ela se abre em devoção a esse ser que está por vir, renuncia a seus desejos muitas vezes, abre mão de confortos e vaidades. Mas, antes mesmo desse momento, antes mesmo da concepção, a criança já existia como indivíduo no mundo espiritual. Não era visível fisicamente, mas já estava lá. De acordo com Rudolf Steiner, o criador da antroposofia, pode-se dizer que da mesma maneira que o pai e a mãe se preparam, aguardam e sonham com a chegada dessa criança, aquele espírito também se preparou ao escolher seus pais, os que tornarão possível sua vinda e estadia aqui na Terra.

Nos tempos antigos, as mães eram profundamente conectadas com a criança que estava por vir. Não é à toa que nos deparamos com contos de fada em que a chegada de uma criança é anunciada muito antes da gravidez por todo tipo de seres. Em A Bela Adormecida, por exemplo, um sapo anuncia à rainha que ela dará a luz a uma linda menina. E, claro, há a Bíblia, em que Maria recebeu esse anúncio pela voz de um anjo.

Esse momento mágico, quando a mulher percebe a aproximação de um ser antes mesmo que sua primeira célula exista, foi retratado por artistas como Rafael e Leonardo da Vinci. Naqueles tempos, esse sentimento tinha um enorme significado. Mesmo nos dias de hoje, em que somos mais terrenos, há mulheres que encontram seus filhos em sonhos bem antes do nascimento. E, ao finalmente veram a criança, percebem que se parece muito com o que sonharam. Atualmente, o último lampejo do que acontecia a séculos atrás pode ser reconhecido, talvez, no repentino desejo de uma mulher ter um filho. Mas essa vontade surge de uma maneira tão delicada que pode facilmente ficar encoberta por medos, vaidades e inseguranças.

Cria-se uma enorme diferença quando colocamos a vontade da criança em primeiro plano, quando consideramos que ela escolheu seus pais, sua família e até mesmo o momento do seu nascimento como a melhor hora para que realize tudo o que precisa aqui cumprir. Se considerarmos apenas uma vontade de pais e médicos, muitas vezes baseada em questões financeiras, conveniências, preconceitos ou modismos, teremos consequências ao longo da vida desse novo ser. A criança que anuncia sua chegada, escolhendo seus pais em um determinado momento, não compreende, naturalmente, essas razões. Apenas sentirá a resistência ou oposição à sua vinda. E esse sentimento vai afetar seu desenvolvimento mais tarde, não importa o que se passe de fato. Cabe a nós, portanto, ampliarmos nossa consciência e estender um tapete vermelho para esse ser desde os tempos em que ele é apenas um sonho, apenas um lampejo. Estender um tapete vermelho de boas-vindas aos que escolheram povoar esse planeta através de nós.
.
Dr. Antonio Carlos de Souza Aranha

Nenhum comentário: