quinta-feira, 5 de março de 2015

A PARÁBOLA DA ÁGUIA


Publicado por AlessandraSanan em 5 março 2015 às 16:09 em CELEBRANDO A VIDA!!! POESIA, CONTOS E MÚSICABack to CELEBRANDO A VIDA!!! POESIA, CONTOS E MÚSICA Discussions


A PARÁBOLA DA ÁGUIA


Certa vez um homem, enquanto caminhava pela floresta, encontrou uma pequena águia. Levou-a para casa, colocou-a no galinheiro com as galinhas.

E ela foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, de pensar, de ciscar a terra, de comer milhos, de dormir em poleiros... E na medida que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento. E ela se esqueceu dos cumes das montanhas, dos vôos nas nuvens, do frio das alturas, do delicioso sentimento de dignidade e liberdade... Como não havia ninguém que lhe falasse destas coisas e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que não passava de uma galinha com perturbação hormonal: tudo grande demais, aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia!

Um dia, apareceu por lá um homem que vivera nas montanhas e vira o vôo orgulhoso das águias.

- Que é que você faz aqui? - ele perguntou.

- Este é meu lugar! - ela respondeu. Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e, finalmente, viram canja: nada se perde, utilidade...

- Mas você não é galinha. - disse ele. É uma águia!

- De jeito nenhum! A águia voa alto. Eu nem sequer voar sei! Pra dizer a verdade, nem quero! A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo...

E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia. Até que o homem, não agüentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força e levou-a até o alto de uma montanha. A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão: jogou-a no vazio do abismo. Foi então que o pavor, misturado às memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranqüilidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado.

E ela, finalmente compreendeu que não era galinha, mas águia!

Frei Leonardo Boff




LIBERTAR A ÁGUIA EM NÓS!

Cada um hospeda dentro de si uma águia.

Sente-se portador de um projeto infinito.

Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial.

Há movimentos na política, na educação e no processo de globalização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro...

Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga?

Recusamo-nos a ser somente galinhas!

Queremos ser também águias que ganham altura e que projetam visões para além do galinheiro.

Queremos resgatar nosso ser de águias!

As águias não desprezam a terra, pois nela encontram seu alimento. Mas não são feitas para andar na terra, senão para voar nos céus, medindo-se com os picos das montanhas e com os ventos mais fortes.

Frei Leonardo Boff

Nenhum comentário: