"Quando perdoa, você se liberta. Com o perdão, as algemas que te prendiam ao passado se rompem e você passa a respirar aliviado e a caminhar livremente"
Tão amplo quanto o universo que habitamos é o universo que habita em nós.
Compreender como se movem nossas energias em nosso universo interior é condição para sermos livres e felizes. A liberdade é o maior bem do qual podemos usufruir na escola da vida, mas jamais seremos livres se não libertarmos certos “conteúdos” deste nosso universo interior.
Energia represada é origem de doença, não raro, depressão. Nossa energia vital deve fluir como fluem os rios e como sopram os ventos. O movimento orquestra e define a vida, água muito tempo parada é sinônimo de água contaminada.
A mais perigosa de todas as “águas contaminadas”, ou seja, os mais perigosos “conteúdos” do nosso universo interior são: a ignorância, o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a raiva e a mágoa.
A raiva e a mágoa são profundamente destrutivas para todos os que lhes dão morada interior. Raiva e mágoa destroem você de dentro para fora, causando danos muitas vezes irrecuperáveis. Raiva e mágoa alimentam-se de si mesmas e, também, do nosso orgulho e vaidade.
Manter a mente e o coração repleto de raiva e mágoa equivale andar pela vida com uma bomba relógio prestes a explodir, é só uma questão de tempo...
Raiva e mágoa são sentimentos ácidos que corroem as nossas possibilidades de felicidade. Felizmente existe um antídoto: o perdão.
Mas não serve qualquer perdão. Somente o perdão autêntico é terapêutico e libertador!
Eu sei que parece estranho, mas, nem todo perdão é benéfico; afinal, nem todo perdão é sincero!
Quando alguém estufa o peito e diz que sofreu uma ofensa, mas perdoou, está na verdade fazendo sua autopromoção, querendo provar a si mesmo e aos outros como ele é especial por ter perdoado... Este perdão não é verdadeiro. Da mesma forma com a pessoa que diz: - Eu perdôo, mas Deus fará “justiça” por mim... Esse perdão, além de não ser verdadeiro, está muito distante da verdadeira compreensão de justiça e da misericórdia de Deus.
O “não-perdão” constitui energia represada, conduz a doenças da alma e do corpo e é a maior causa do sofrimento espontâneo (aquele que nós mesmos buscamos).
Se nos magoamos ou nos sentimos ofendidos quando alguém diz que nós não sabemos amar, ou não sabemos ser amigos de verdade, provavelmente estas pessoas estejam certas!
Não há perdão sincero sem o esquecimento da raiva e da mágoa que lhe deram origem. Esquecer a mágoa e a raiva não significa esquecer o fato! Os fatos, muitas vezes, permanecem na memória e são motivo de aprendizado. Se esquecêssemos todo o mal que alguém nos fez no passado, não aprenderíamos a nos cuidar melhor no futuro.
Devemos esquecer (deixar de sentir) a emoção negativa que toma a forma de raiva, mágoa, ou seja, se perdoamos verdadeiramente, conseguimos lidar com os fatos como algo distante, algo que não nos atinge mais, embora lembremos que eles aconteceram.
Quando as escolas religiosas nos convidam a esquecer os males que nos fizeram, estão nos convidando a deixar de manter o sentimento de raiva e mágoa.
A raiva e a mágoa são sempre destrutivas, mesmo quando não se exteriorizam. Algumas pessoas pensam: - eu tenho mágoa e raiva, mas não me manifesto, não me vingo, então tudo bem...
Não, não está tudo bem. É ótimo que você já tenha vencido os impulsos inferiores de revanche e vingança, mas a raiva e a mágoa que você abriga no seu universo interior continuam corrosivas. Elas vão continuar agredindo você por dentro. Perdoe!
Não pense que você está fazendo algo maravilhoso pelo outro ao perdoá-lo. Se o perdão é importante para o outro, é ainda mais importante para você! Quando perdoa, você se liberta. Com o perdão, as algemas que te prendiam ao passado se rompem e você passa a respirar aliviado e a caminhar livremente.
Não há relacionamento sincero sem aceitação. Para perdoar é preciso aceitar. Aceitar não significa concordar, significa compreender!
Para perdoar precisamos compreender a nós mesmos e aos outros. Se não nos dedicamos a compreender o outro, estamos esquecendo que se estivéssemos em seu lugar, talvez fizéssemos coisa igual ou pior. E, mesmo que não cometêssemos o mesmo erro, isso se deveria apenas ao fato de já termos aprendido uma lição que ele ainda não aprendeu. Se aprendemos a lição é porque já passamos por ela, ou seja, já erramos muitas vezes. Se não sentimos pelo outro a mesma compreensão que sentimos em nossa própria defesa, então, nosso perdão não existe, ele é pura vaidade.
Se alguém errou com você, ainda que gravemente, não perca tempo e saúde do corpo e da alma alimentando a raiva e a mágoa, elas te mantêm aprisionado ao passado. Perdoe e siga. Perdoar é inteligente e humano. Perdoar é libertar primeiro a si mesmo, depois ao outro.
Mahatma Ghandi e o perdão
Entre os inúmeros exemplos de perdão oferecidos pela História, vale lembrar de um precioso exemplo. Certa vez perguntaram a Mahatma Ghandi se ele perdoava com muita frequência, ao que ele respondeu: “Não, ninguém nunca me ofendeu”.
Você só precisa perdoar quando se magoa ou se sente ofendido. Quando vencer estas situações perceberá que não há mais necessidade tão frequente de perdão.
Aprendendo a não sentir magoa e a não se sentir ofendido com tanta frequência, você precisará perdoar menos, e isso equivale a ter aprendido a verdadeira humildade.
Se o amor é a porta da felicidade, o perdão é a única chave que pode abrir esta porta, quando fechada!
Perdoe e siga adiante...
por Carlos Hilsdorf
fonte://www2.uol.com.br/
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