sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Do Éden ao Infinito – A grande jornada da alma

Publicado por Fatima dos Anjos em 7 novembro 2013 às 23:08 em EL MORYA E A HIERARQUIA DO 1º RAIO

Do Éden ao Infinito – A grande jornada da alma

Em sua busca incessante de explicar o universo e assim compreender o seu papel neste grandioso contexto, o homem de todos os tempos construiu histórias que pudessem dar conta da criação do mundo e de sua própria origem. Em decorrência, todos os povos possuem o que chamamos de “mitos criacionistas”.

O mito criacionista judaico, que foi denominado “Gênesis”, é de uma interessante riqueza simbólica. Não desconhecendo a interpretação que sugere que este livro bíblico seja o registro de uma migração espiritual, desejaríamos abordar o seu sentido psicológico-simbólico-espiritual.

A Gênesis relata que Adão e Eva, após terem sido concebidos pelo Criador, viviam em estado de pureza, o que equivale dizer sem maldade. Viviam, pois, no Jardim do Éden. Mas eis que provam o fruto da árvore do conhecimento, que dá o discernimento do bem e do mal. Ao perderem a pureza, ao caírem em “pecado”, são expulsos do paraíso por Deus, dando início à toda epopéia humana no mundo que lhes reservaria toda sorte de sofrimentos.

Uma visão limitada da vida imputaria a Adão e Eva a responsabilidade por todas as agruras humanas, reservando-lhes um cruel julgamento. Ora, veremos que o entendimento deste mito significará justamente o contrário, visto que trata do nascimento da consciência.

O evolucionismo Darwiniano nos demonstrou que o homem, biologicamente falando, é o resultado de um longo processo de evolução e seleção das espécies. No estágio humano, a vida adquiriu consciência de si-mesma, sobrepujando o instinto que rege os demais seres.

Esta teoria versa sobre a evolução biológica, que não difere em muito do processo de evolução espiritual. O homem, enquanto espírito,migrou por todos os reinos inferiores até a conquista da existência hominal. Ao estagiar nestes reinos inferiores (mineral, vegetal e animal) guarda uma centelha divina, que se diferencia ganhando individualidade e experimenta as várias funções psíquicas que lhe facultarão, por fim, a condição humana. Nesta fase ocorre a conquista da memória, o instinto de defesa, o instinto de preservação da vida, o instinto de reprodução, o senso de individualidade, que são automatismos que se aprimoram em cada reino e em cada espécie. Esta é a trajetória evolutiva de cada ser, efetuada no trânsito pelos diversos mundos habitados.

O ser regido pelo instinto não possui subjetividade: a sua conduta é objetiva, ao instinto dedicada. Não há conflito psíquico, visto que não há julgamento moral, e nada dentro de si disputa contra o instinto, sempre preponderante. Ou seja, neste estado há uma espécie de paraíso, pela ausência de conflito. Mas é um paraíso no estado de inconsciência: não há ainda o senso de identidade, não há reflexão sobre si mesmo, não há o julgamento do bem e do mal, pois estes conceitos ainda não se formaram.

Se um cão é ensinado a ferir, o fará sem discernimento do seu ato, sem conflito interno.

Este é o estado de Adão e Eva antes de se saciarem com o saboroso fruto do conhecimento: viviam no paraíso do Éden, que era o paraíso da inconsciência. Mas a evolução é incessante, e o criador deseja outorgar ao ser o livre-arbítrio, só possível com a consciência de si-mesmo.

Em nossa história, o fruto da árvore da vida simboliza a consciência, que concedeu a noção do bem e do mal, portanto do julgamento moral, e o direito de escolha não aprisionado no instinto. Por conseqüência, o casal é expulso do Éden. Doravante, saberiam o que é a dor moral, o que é a culpa, o que é a dúvida. O instinto deixou nele as suas marcas, que agora também seria um ponto de conflito, pois que ao desejar viver em sociedade, diria Freud, foi preciso conter o instinto que em seu livre curso o arremessaria de volta à selvageria.

Veja-se, pois, que sair do Éden não é tragédia, é evolução.

Nesta fase, após a “queda” do paraíso, nos tornamos responsáveis por nossos atos, visto o direito de escolha. Forças tirânicas nos solicitam a rendição aos impulsos do poder, à satisfação do corpo, à exacerbação do egoísmo e do orgulho. Ora, é compreensível que ao dar-nos conta de que somos um indivíduo pudéssemos, em um movimento primeiro, favorecer a experimentação intensa do “eu” (egoísmo), visto que esta é uma nova conquista. Mas uma vez vencidos estes estágios iniciais, compreensíveis dentro do movimento evolutivo, o egoísmo passa a ser um impedimento ao burilamento da alma, uma espécie de herança primitiva que resistimos em abandonar.

O homem é um diamante engastado no primarismo da rocha, um raio de luz que da vastidão do infinito mergulha na carne, qual uma partícula de Deus que se humaniza. O tropismo divino, assim como o sol que atrai a plantinha para a luz, atrai para Si o espírito em sua imensa epopéia da aquisição da consciência.

Já humanizado, e após os primitivismos das fases iniciais, torna-se necessário ao raio de luz a consciência de si – agora não mais falamos da consciência de ser um indivíduo, atributo do homem comum, mas a consciência de sua natureza divina, entendida e assumida na intimidade do ser e expressa em cada ato. Há outras árvores da vida neste delongado caminho, pois a ampliação da consciência é um processo natural de quem evolui.

Não obstante o livre-arbítrio largamente denotado pelos espíritos codificadores da doutrina espírita, mediante uma observação cuidadosa, verificamos algo não explicitado na codificação de Kardec, mas que dela se deduz: o processo evolutivo apresenta também um caráter determinista.

Todos iniciamos simples e ignorantes, segundo Kardec, o que equivale dizer que metaforicamente fomos todos Adão e Eva. Somos todos lançados ao desafio da evolução da consciência, na face do mundo. E por fim, estamos todos fadados a alcançar os mais excelsos graus de pureza: “nenhuma ovelha se perderá de meu rebanho”, afirmava Jesus.



A individualidade não se perde, com a riqueza de qualidades que distingue um ser de outro. Na grande jornada, o que mudam são os caminhos que cada um trilha, ora mais espinhosos, ora mais floridos, ora mais longos, ora mais curtos. Quis o Criador que o homem escolhesse o seu caminho e trouxesse sobre si o mérito da conquista.

Neste caminho há um secreto anseio que fala-nos ao coração, sussurrante. Mas enquanto grita a raiva, a rebeldia e o poder, parece-nos que Deus está distante, inalcançável.

É preciso silenciar a alma, ouvir a voz interna de Deus, percebendo que o divino deseja expandir-se. Por certo o fará, às vezes na suavidade da carícia, de outras vezes rasgando os tecidos do orgulho entre os estertores do velho eu.

O paraíso que a alma anseia, já não é o Éden da inconsciência, mas o paraíso da consciência plena, ampliada, que se devota a Deus por sua própria escolha, com júbilo. Por fim, à Ele dedicados, Nele descobrimos o que sempre buscamos: a felicidade inefável, a paz infinita, o amor fecundo.

Psic. Luís Augusto Sombrio

2/08/2007

www.vivercomalma.com.br

Nenhum comentário: