quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Quando o espelho dói
Publicado por Fatima dos Anjos em 27 fevereiro 2014 às 23:24 em ECOLOGIA INTERIOR
Acredito que a baixa autoestima está por trás da maior parte dos males que nos afligem. Desejar ser o que não se consegue ser explica o surgimento de muitos problemas. O esforço em corresponder às expectativas alheias tira muitos de nós do contato com a própria essência, gerando um sentimento de vazio e falta de sentido. Vivemos como autômatos, para cumprir papéis. Esquecemos quem somos.
EM BUSCA DA APROVAÇÃO ALHEIA
Começamos a fazer isso na infância, quando descobrimos que temos o enorme poder de interferir no humor alheio, primeiramente o dos nossos pais. Eles ora sorriem, ora ficam muito zangados, dependendo de nosso comportamento. Que fantástico! Mas que triste também, pois começamos a acreditar, a partir desta descoberta, que o amor é condicional. Concluímos que seremos amados ou não, de acordo com o que o outro, começando pelos nossos pais, interpretar de nossas atitudes. E passamos a crer que não temos valor por sermos quem somos, mas por sermos o que nossos pais desejam que sejamos.
Mais tarde, o outro se estende à comunidade, passa do pai e da mãe ao amigo, ao namorado ou namorada, ao colega de trabalho etc. E com o aumento deste círculo de relações, crescem as demandas, as exigências de como devemos ser para agradar.
ANSIEDADE, DEPRESSÃO E DISTÚRBIOS ALIMENTARES
Num mundo civilizado, com grandes centros urbanos onde pululam milhares de pessoas torna-se cada vez mais difícil atender às expectativas de todas elas. É preciso ser mais que humano para sentir-se digno do amor que se procura. Assim, multiplicam-se os quadros de ansiedade e depressão. Ansiedade por que há muito o que fazer, e depressão porque não se consegue fazer tanto.
Um retrato deste problema são os distúrbios alimentares, que atacam homens e mulheres, mas especialmente as mulheres. Não deve ser à toa, visto que as mulheres, no seu movimento de emancipação doméstica, assumiram uma sobrecarga de responsabilidades praticamente insustentável. Vivemos numa geração de super-mulheres que cuidam do lar, dos filhos, do trabalho, dos subordinados, da própria aparência, de tudo!
Naturalmente, mulheres ou não, por algum meio os perfeccionistas precisam descarregar sua tensão. Comer é uma forma fácil, acessível, rápida e eficiente de fazer isso. Comendo, é possível sentir prazer, obter a satisfação desejada, pelo menos por alguns deliciosos minutos. E mais! Comer muito tranqüiliza, já que o organismo se volta para a digestão, causando uma sonolência gostosa. Só tem um problema: engorda. E gordo, não é possível agradar. Adeus ideal de beleza, de saúde e perfeição!… Oh! Ser gordo dói! A imagem refletida no espelho dói!… Na receita de sucesso do século XXI não há clemência para os gordos.
Que fazer? Vomitar, tomar remédio, tentar enganar o corpo com os dietéticos, fazer lipo, redução de estômago, armar uma guerra contra o sobrepeso. Uma guerra inglória, que implica abrir mão do prazer antigo de se alimentar sem culpa.
O DESAFIO DE SER QUEM REALMENTE SE É
Mas o que queremos com esta guerra, mesmo? Qual seu objetivo? Ora, já dissemos: nos sentir amados. Porém, não está funcionando. O que tem acontecido é que, na busca do amor, estamos ficando sozinhos. Quem não sabe o que é estar só até mesmo no meio da multidão?
Parece que sentir-se amado não tem muito a ver com agradar a todos. Por incrível que pareça, tudo indica que o importante nesta busca não é ser perfeito, mas ser o que se é.
Se não somos nós mesmos, se somos o que achamos que esperam de nós, o amor provocado pelo nosso esforço não chega até nós. Não o sentimos. Claro! Já que no íntimo duvidamos, não sabemos se o outro ama a essência escondida ou a aparência revelada. E por isso não nos reconhecemos amados, por mais que nos esforcemos, pois nos perguntamos: “E se eu mostrasse meu verdadeiro eu, o que sou, será que o outro me amaria?”
Bem se vê que tentar ser perfeito, encaixar-se num ideal imposto, é um engodo. Não apenas é impossível, como não faz ninguém feliz. Enfim, parece que o equilíbrio psicológico começa na autoestima e o segredo da autoestima positiva é achar-se digno. Digno de ser amado como se é.
Obviamente, poderemos sempre melhorar, crescer, mas não como uma condição para receber afeto. Porém porque nos amamos e queremos o melhor para nós. Porque merecemos ser melhores. Por nós. Não se trata de egoísmo ou de não reconhecer os próprios limites, mas ao contrário, trata-se de reconhecê-los, sem deixar de ver as próprias possibilidades.
Caroline Treigher
Blog Tribuna do Ceará
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