Publicado por Fatima dos Anjos em 27 fevereiro 2014 às 22:21 em SABEDORIA DE VIDA ( Mensagens, Reflexões e Pensamentos)
Reflexões sobre o apego e a impermanência
A DOR DE MUDAR E O SURGIMENTO DO APEGO
Quando nascemos para este mundo, morremos para o mundo intrauterino. Não lembramos, mas foi um processo extremamente doloroso. Estávamos habituados a viver no escuro, e a luz feriu nossos olhos; estávamos acostumados à sensação de calor, e o frio chocou-nos a pele.
Assim, nascer teve um impacto mortal sobre cada um de nós. E o que tornou todo este processo difícil foi estarmos habituados à situação anterior. Nossos pequenos corpos viviam enroscados na placenta e por isso, nos primeiros meses de nascidos, instintivamente, dormimos enroscados no berço. Este é um exemplo de condicionamento físico. Nesta época, nosso ego atual, nossa identidade, não estava constituída.
Não tínhamos noção de sermos alguém. Mas quando a personalidade foi se constituindo, ao condicionamento físico uniu-se o apego. Tomamos consciência da desagradável sensação de mudar e desenvolvemos, para combatê-la, o apego. Impermanência é a metáfora da morte, que é a constante transformação da vida, a transição de uma situação para outra. Apego é a não aceitação da impermanência. O APEGO GERA MAIS SOFRIMENTO O que gera maior sofrimento não é a impermanência, mas o apego. Apego é falta de fé, de confiança no futuro e na sabedoria da vida.
A gente sofre quando vai mudar de cidade, mesmo sem saber se os amigos que iremos conhecer na nova cidade serão bons. Sofremos pelo simples fato de não querermos mudar de cidade, por já estarmos acostumados com a cidade em que vivemos. Não é tanto pelo nosso amor aos amigos que ficarão para trás, mas por estarmos acostumados a eles, apegados a eles, porque amor de verdade não acaba. Amor nós levamos conosco para onde quer que possamos ir; não precisamos prender a pessoa amada.
SIMPLICIDADE É O CERNE DO DESAPEGO Para desapegar-nos, como sugere o sábio Jesus de Nazaré, é preciso a simplicidade da erva do campo, do pássaro do céu, que vivem cada dia por sua vez, que se aceitam como são e não ficam dizendo que queriam ser outra coisa. Que se comprazem em realizar em plenitude aquilo que lhes foi dado realizar: suas funções de plantas e de aves. Se você considerar Deus em você, pois “o reino de Deus está dentro de vós” [1], você saberá que sua confiança deve ser no Self, ou seja, o que Carl G. Jung denominou “o centro organizador da psique”.
Eu diria que é preciso confiar na centelha divina que habita em nós. Temos em nós uma espécie de força reguladora que nos atrai para a realização total, para a iluminação búdica. É o Self, o arquétipo divino, o Deus-em-nós. Assim, não precisamos nos prender a nada para sermos felizes, porque Deus habita em nós. Não se trata de individualizar-se, mas de individuar-se ou tornar-se Indivíduo: um ser ciente de sua potencialidade.
Assumir-se como ser completo, filho de Deus, metaforicamente criado “à sua imagem e semelhança”. [2] Deste modo, e apenas assim, como diria Sigmund Freud: “Nós seríamos melhores se não quiséssemos ser tão bons.” Verdade. Como tudo na Natureza, seríamos maravilhosos se nos permitíssemos sermos, simplesmente, nós mesmos!
[1] Lucas, 17: 21. [2] Gênesis, 1: 26. http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/papo-psi/psicologia/reflexoe...
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