quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Quem tem medo de errar?
Publicado por Fatima dos Anjos em 27 fevereiro 2014 às 23:09 em SABEDORIA DE VIDA ( Mensagens, Reflexões e Pensamentos)
Quem tem medo de errar?
Na minha experiência de psicóloga tenho acompanhado a preocupação quase obsessiva, de grande parte das pessoas, em fazer o que é certo. Muitas me procuram para eu lhes ensinar a maneira correta de agir, contudo tento explicar que meu papel não é de conselheira, mas de facilitadora do processo de se tornarem elas mesmas.
A TEORIA PARADOXAL DA MUDANÇA
Parece absurdo, mas a causa de nossos problemas psicológicos consiste muitas vezes em não sermos nós mesmos. A psicoterapia não se guiará pela necessidade de ser diferente, pelo contrário, sua proposta é reencontrar a nossa essência, o que realmente somos. Quando formos nós mesmos, mudaremos, não por causa da vontade de fazer o certo e evitar o errado, mas pela própria natureza humana, que é de mudança, crescimento e busca de equilíbrio. A isto se chama “teoria paradoxal da mudança”.
Não estou afirmando que devemos fazer tudo que vier à cabeça, sem restrições. Claro que a necessidade de convivermos uns com os outros nos impõe certas regras de conduta que devem ser respeitadas. Alguns limites devem ser estabelecidos em nome de nossa natureza gregária, e não poderíamos viver em comunidade, se não houvesse critério de certo e errado.
Porém o que reflito é sobre o medo freqüente – quase desesperado – de errar. E por trás deste medo, me parece, um medo maior ainda de desagradar os outros. Medo de não ser amado, de ficar sozinho, de ser excluído. Medo que acaba se transformando em angústia e ansiedade, já que não errar demanda muita energia, atenção total, vigilância constante. Não me parece que esse tipo de vigilância seja saudável. A longo prazo, acaba adoecendo qualquer pessoa. Os certinhos demais são famosos por sua chatice e estresse.
ESTAR VIGILANTE : O CAMINHO DA CONSCIÊNCIA PLENA
É verdade que Jesus, alicerce moral de nossa cultura, disse que é necessário “orar e vigiar”, mas disse também que não devemos nos preocupar com o dia de amanhã, porquanto “a cada dia já basta o seu mal”. Interessante que tais recomendações, se forem tomadas separadamente, parecerão contraditórias. Entretanto, são complementares. Estar vigilante pode ser considerado estar atento a si mesmo, não para não errar, mas para se conhecer. Saber o que se passa dentro de si em cada situação, sem o olhar impiedoso do Juiz, mas com a compreensão tolerante do Pai. É o que os budistas denominam “consciência plena”.
Tal consciência não nasce do medo de errar, mas do auto amor, da auto aceitação. É preciso muita coragem e vontade de ser feliz para checar sinceramente as próprias intenções e o que está por trás das nossas atitudes. Quando tomamos consciência do que realmente nos move, é que podemos fazer escolhas conscientes e deixar de nos sentir vítimas das circunstância. Uma vida consciente e não uma vida de medo é que nos impedirá de sermos tragados pelo roldão das necessidades, dos instintos, dos complexos desconhecidos.
VIVER SEM MEDO
Por isso não devemos estar preocupados com o dia de amanhã, estressados na avaliação do certo e do errado. Se vivermos o aqui-e-agora, cada dia por vez, não teremos tanto medo de errar. Como estamos atentos, os erros serão realmente fruto da ignorância (não da irreflexão), e o seu conseqüente aprendizado será bem vindo. Se tivermos medo de errar, ficando inertes ao invés de agir, retardaremos este aprendizado.
O medo paralisa, e a paralisia contraria o rumo da vida, que é movimento, mudança. Por isso se adoece de medo, porque não é possível estancar, sem danos, o fluxo natural da vida. Pânico, depressão, ansiedade, são todos, em essência, derivados do medo de viver e sujeitar-se à inconstância da vida. Entretanto, com ou sem medo, a vida acontece, e por isso, sugiro a todos: arrisquem! Viver é um risco. A vida é fugaz, mesmo.
Não percamos tempo tendo medo de errar. Tentemos, antes disso, amar a nós mesmos. Isto nos tornará aptos a amar os outros sem esforços descomunais. Seja nosso amor o combustível do dia-a-dia. Erros acontecerão, sem dúvida, mas se temos amor, o perdão se faz presente, o erro passa, e a chance de acertar ressurge, sempre, generosamente.
Caroline Treigher
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