sexta-feira, 21 de outubro de 2016

QUANTIDADE DE CRIANÇAS QUE SÃO CUIDADORAS DE PAIS INFELIZES

A partir da altura em que a sociedade industrial criou a competição e a filosofia do ‘ou eu ou você’. Antes, na sociedade tribal, o que reinava era o coletivo e a partilha, embora houvesse sempre quem mandava e quem obedecia. Mas esta sociedade está a gerar muitos problemas na sua competição desenfreada.

A competitividade não pode desenvolver as nossas capacidades?

Pode, se estiver inserida num plano de desafio e não num plano do ‘ou eu ou você’. Mais do que ‘eu melhor do que voçê’ devemos educar para o ‘nós melhores do que há pouco’. Curiosamente, há quem diga que as crianças não estão a ser educadas para o brio, em que se dá o nosso melhor para alcançar um objetivo. O brio não está ligado à competição, está ligado ao reconhecimento. Esforçamo-nos mais quando alguém reconhece o nosso empenho.

Mas as crianças não querem todas ser melhores do que as outras e ter tudo para elas?

Claro que sim. Isso é natural. A partir dos 12 meses o individualismo tem de dominar, porque eu tenho de saber pisar bem o chão para me sentir seguro. Mas é muito importante que nesse individualismo, que é inerente ao desenvolvimento do cérebro, exista um cuidador que comece a educar para a empatia. Que diga – Muito bem, foi buscar algo para si, podes trazer outro para o amigo? – Que saiba orientar do individualismo para a partilha.

E quando as próprias mães querem que os filhos tenham mais do que os outros?

Isso acontece porque os adultos se desconcentram do seu papel de responsabilidade parental.

Os adultos devem ser bússolas empáticas para as crianças. A empatia tem de existir porque nós temos neurónios-espelho que têm de ser postos a funcionar. Os neurónios-espelho são aquilo que em nós reconhece o outro a partir de nossas próprias experiências.


Ana Vasconcelos – pedopsiquiatra portuguesa

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