quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Rapunzel - Análise Junguiana
"O típico desejo das mulheres grávidas mostra que há uma busca de algo que está faltando e que não se sabe o que é. Em algumas culturas, existe também a crença de que o desejo das grávidas atrai o destino da criança. Em Rapunzel, o desejo da mãe atraiu a bruxa, que encarcerou a menina aos doze anos.
Doze anos, aliás, é a idade média para a primeira menstruação, momento em que a menina passa a ser mulher e ter a capacidade de gerar filhos. E com isso pode começar a ter desejo pelo sexo oposto. É nesse momento que muitas mães, inconscientemente, podem encarcerar a filha.
Podemos supor que a mãe de Rapunzel e a bruxa são faces diferentes da mesma figura, a da Grande Mãe. Contudo, no conto, essas duas imagens não estão juntas, mas dissociadas em duas personagens, que mostram a separação do feminino em nossa sociedade ocidental. Os aspectos femininos, como a sexualidade, o desejo, a ira, a inveja e a vingança foram retirados da imagem do feminino que deveria ser puro e “santo”.
Quantas mulheres modernas não depositam em seus filhos toda a sua realização e felicidade? Aquele bebê simplesmente não pode crescer e abandoná-la! Mas a bruxa do conto não é uma bruxa comum. Ela não tem inveja da beleza da menina, ela não tem ressentimento e nem quer se vingar. Pelo contrário, ela é uma mãe extremamente devotada. Boa até demais! E ser uma mãe boa demais aprisiona o filho em uma simbiose.
Além disso, o conto mostra algo comum que acontece quando a mulher se torna mãe. Algumas, por medo, afastam o marido do cuidado do filho, não permitindo a sua participação e julgando-o incapaz. Podemos deduzir que a mãe na verdade despreza o masculino e quer o bebê só para si, o homem é apenas um instrumento para a satisfação de seus desejos – e não um companheiro.
Outro símbolo muito importante do conto são as tranças de Rapunzel. O cabelo cresce infinitamente e nunca é cortado. As tranças podem ser interpretadas como o símbolo da continuação mãe-filha e, ao cortar esse cordão simbólico, o vínculo com a mãe também é cortado e a menina pode iniciar seu processo de individuação.
O amor é um grande catalisador do processo de individuação. É ele quem impulsiona o indivíduo a querer se diferenciar. O amor do príncipe e de Rapunzel foi uma transgressão, um pecado e, como sabemos, toda transgressão leva à expulsão do paraíso. Nesse caso, foi a expulsão do paraíso materno."
Hellen Reis Mourão
Biblioteca Virtual de Antroposofia
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