segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Vida além do celular


Engraçado, nós mesmos criamos as necessidades
e depois nos deixamos escravizar por elas. Canso
de ouvir as pessoas dizerem: não consigo mais
viver sem celular... É mesmo?

Fico então pensando: o mundo chegou onde
chegou sem o celular... como de uma hora para
outra ele vira oxigênio e ninguém mais concebe
a vida sem o celular? O planeta existia antes dele
e sobreviveu até aqui muito bem.

Qual é o sentido então das pessoas viverem
grudadas no celular como se ele fosse um Deus?
É uma escravidão programada, consentida, uma
doença que está se avolumando e produzindo uma
legião de reféns de uma tecnologia aflita e
escravizante.

Há 10 anos eu tirei o celular da minha vida e não
me arrependo, foi a coisa mais acertada que já fiz.
Antes eu vivia completamente robotizada, fazia
o que as pessoas esperavam de mim, correndo
contra o tempo. O celular fazia de mim uma despachante.

Você já reparou que quase todas as chamadas são
para atender aflições dos outros? Se você deixar, passa
o dia inteiro apagando incêndios... incêndios dos
outros, não seus.

E assim a vida vai passando e você deixando de viver,
preocupada unicamente com a superficialidade das
relações, antenada com o mundo e distanciado de você
mesmo, até que um dia a existência cansa de ver tanta
negligência, tanto desamor, e faz uma intervenção
dramática.

Aconteceu comigo... No meio do tumulto que era a
minha vida, descobri que tinha um aneurisma cerebral,
pronto para explodir. Naquela época eu funcionava
com três celulares, vivia correndo de um lado para outro,
completamente desfocada e distante do meu propósito
de vida, achava que podia controlar tudo, queria ser
reconhecida pela inteligência. Abusei do cérebro, fui
além do que ele podia suportar.

Pois bem, operei e por milagre sobrevivi. Mas o melhor
ainda estava por vir: foi numa UTI de São Paulo, longe
da correria da vida e de todos os celulares, que descobri
o quanto estava enganada, o quanto estava fugindo
de mim mesma, ensaiando viver um dia. Sabia quase tudo
do mundo, mas absolutamente nada de mim mesma...
Quem era aquela mulher que estava ali, feito uma menina,
com medo de morrer sem ao menos ter vivido?

Que inutilidade tinha sido a minha vida, que maldade
eu havia feito comigo mesma... Quanto desamor...
quanta ilusão... tinha tempo para todo mundo, menos
para mim... que monumental bobiça, diria a minha avó.

Fiz naquela época talvez a maior descoberta de toda
a minha vida. O insight veio da minha primeira professora
de Yoga, minha querida Áurea, que encerrou a aula com
esta frase: eu já sou a felicidade que procuro!

Sim, eu já sou a felicidade que procuro! A partir dessa
descoberta tudo mudou. Parei com a correria da vida,
comecei a me deliciar com as pequeninas coisas da vida,
prestar mais atenção nas pessoas, amar sem a
necessidade de ser amada – o amor é a sua própria
recompensa.

Cancelei todas as viagens... chega de colecionar paisagens,
o melhor lugar do mundo é onde estão as pessoas que
a gente ama. Ninguém precisa ir ao Himalaia para
despertar, basta calar a mente e ouvir a alma!

O celular ficou para trás... é um brinquedo perigoso,
nasceu para aproximar as pessoas, mas está fazendo
justamente o contrário, isolando-as, criando realidades
virtuais, embrutecendo as pessoas. Se não praticamos
o amor, o que sobra é a violência.

Se você me permite, quero te fazer um pedido: seja
mais inteligente do que eu fui... não espere pela dor
para crescer, atenda ao chamado do amor.Não espere
que a vida literalmente abra a sua cabeça para você
enxergar o óbvio: importante, necessário e urgente
é só o amor!

Um bom pra você...
Jane


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Imagem removida pelo remetente.
TUDO É PERFEITO DO JEITO QUE É
Autora: Jane Mary Abreu

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