“ Conta-se que a mãe natureza pode estar em todos os lugares a todo momento, e também pode ver todas as coisas imediatamente. Ela conhece todos os segredos das plantas e das pedras, e mesmo das mais minúsculas criaturas que vivem na terra.
Algumas vezes ela faz uma aparição em um lugar, para melhor aconselhar e espalhar sua sabedoria a todos que a buscam.
Certa vez, aconteceu de fixar residência no alto de uma bela árvore, envolvendo-se num manto amarelo como a s folhas no outono e usando um gorro verde como a grama novinha. Então ela se sentou à porta de casa e cantou canções para que todos a ouvissem:
“ Ah! Oh! Que lindas visões
Mas quanta beleza há nos corações
Das formas da natureza.
Entre os que ouviam seu belo canto, estava um humilde inseto chamado Twig. Twig era um lagarto que vivia em constante aflição, com medo de ser comido pelos pássaros famintos que viviam nas árvores. Assim que ouviu a canção da Mãe Natureza, ele se perguntou se a tão sábia e distinta dama não poderia dizer-lhe o que fazer em tal situação.
“ Bom dia, Senhora! ” disse Twig quando a canção terminou.
“Bom dia! Bom dia!” Disse a Mãe Natureza, amavelmente. “Que posso fazer por você, minha criança?”
“Eu sou apenas uma pobre lagarta, mas gostaria de ser feliz. Entretanto, vivo sempre sob a ameaça de ser engolido por algum pássaro esfomeado e assim, não consigo desfrutar a vida, mesmo que não haja pássaros por perto. minha pobre cabeça fica cheia de idéias estranhas. Parece que jamais serei feliz, a menos que possa voar acima do perigo. Naturalmente, não tenho asas, e não sei o que será de mim....’
“Bem, se você deseja voar tanto assim, você voará”, disse a natureza, com um brilho nos olhos. “Seja paciente e não tema, pois há de chegar o tempo em que você voará pelos ares num par de asas douradas, e o fará tão alto quanto um pássaro possa chegar.”
“Mas como pode ser isso?” Murmurou Twig, tremendo de excitação. “Como pode?”
“Por mais incrível que lhe pareça, é a mais pura verdade”, disse ela, inclinando sabiamente a cabeça, e continuou: “mas antes que você esteja pronto para voar, deverá aprender um importante segredo. Assim que aprender este segredo, cairá em sono profundo e durante esse sono, sonhos maravilhosos o embalarão e o farão feliz. E, quando você despertar, verá que estou certa.
“Será verdade? Será verdade?” Gritou Twig. “Pensar que ainda vou voar! Que beleza! Quem sou eu para ter asas douradas? ”
E saiu de lá feliz da vida. Em pouco tempo Twig estava tão familiarizado com a idéia que passou a contá-la aos amigos.
“Talvez lhe interesse saber que logo serei capaz de voar.” Disse num tom de mistério.
“É mesmo?” disse a formiga com ironia, “e eu vou sair nadando”.
“É preciso antes ter asas, meu pobre Twig”, disse o besouro.
“Tudo bem, ” disse a aranha, “mas cuide de não voar para a minha teia.”
Suas respostas o fizeram desejar não ter dito coisa alguma. Como poderia esperar que acreditassem nele? Quando a hora chegasse, eles veriam com seus próprios olhos. Até lá, era melhor manter distância.
Assim ele se foi, tentando ser paciente, imaginando que segredo teria que aprender. Mas não havia ninguém que contasse a ele qualquer segredo. Além disso, sempre que adormecia, sonhava que todos os pássaros do mundo estavam à sua volta, e ele despertava sobressaltado, com grande medo, apenas para descobrir que estava tão longe de voar quanto sempre estivera.
“A Senhora Natureza deve ter se enganado,” pensou ele triste. “Acho que vou passar o resto de minha vida rastejando por aí, sem asas, e no fim serei engolido por uma destas odiosas criaturas.”
Assim que passou pela grama, seu de frente com sua amiga formiga, que zombou dele dizendo: “ainda se arrastando?”
Twig nem respondeu, mas quando ela se foi, ele caiu em desespero, e como não houvesse ali ninguém para consolá-lo, ele correu à mãe natureza para ver o que ela tinha a dizer.
Lá estava ela, sentada à porta de sua famosa casa na árvore, em seu manto amarelo cantando:
“Venha o que vier, seja o que for, vá para onde quiser,
eu vejo tudo e sei das coisas que acontecem mesmo longe daqui.”
Quando ela terminou foi logo falando: “ Tão triste por nada! É uma pena!”
“Mas eu tenho uma boa razão para estar assim”. Disse ele. “Tudo que disse sobre sonhos e segredos e asas douradas, não ajudou a livrar-me dos meus problemas. Ninguém me contou qualquer segredo e cada vez que vou dormir, tenho tantos pesadelos, que acordo assustado como se fosse morrer. Por isso não sei o que vai ser de mim.”
“Você é uma criaturinha muito impaciente”, não vai ajudar em nada ficar aí resmungando e se preocupando à toa” , disse a Senhora, gentilmente.
“Vá para casa e seja paciente. Quando estiver pronto para voar, voará.”
“Se ao menos eu pudesse ter a certeza...”suspirou Twig voltando para casa. “Acho que é mais difícil esperar pelas coisas, para que aconteçam, do que nunca tê-las para acontecer.”
Uma vez que ele se determinou a esperar, o tempo passou rápido e agradavelmente. Ele até se acostumou a esperar. Tanto que já estava quase feliz. E assim, numa manhã, ao olhar em torno, tudo parecia mudado. Cada folhinha de grama sussurrava canções quando soprava a brisa. As flores estavam lindas e não havia vozes de passarinhos no ar, próximo a ele.
“Que mundo maravilhoso! Eu posso ser uma lagarta sem importância e talvez nunca venha a ter asas, mas em meu coração eu estou voando mais alto que qualquer pássaro voaria, e isso é que importa!”
Quando acabou de pronunciar estas palavras, ele se lembrou do que a Mãe Natureza dissera – “antes que você voe, deverá aprender um importante segredo.” Agora ele estava certo que esse era o segredo. De repente, Twig se sentiu tão sonolento que mal teve tempo de se ajeitar numa folha e dormiu.
Em seus sonhos, ele abria as suas asas sobre as mais altas copas de árvores e flutuava, descendo à terra em chuveiros de raios de sol, apenas para novamente elevar-se às alturas com o vento.
Ele nunca soube por quanto tempo dormiu. Sus sonhos foram tão doces que nem o frio nem a chuva puderam perturbá-lo.
Quando finalmente, ele acordou para arrastar-se para fora da folha, tudo que ele sabia era que ainda era ele mesmo, e no entanto, sentia-se como outro alguém. Ele não tinha tantas pernas e elas pareciam meio fraquinhas. Descansando um pouco ao sol, elas ficaram mais fortes, e então ele se levantou. Só aí é que descobriu que estava vestido numa capa ( manto) bem justa. À medida que foi, devagarinho, se soltando, ele estremeceu de alegria.
“Que lindas! Que maravilha!” exclamou admirado, balançando suas asas para cima e para baixo enquanto a luz do sol se refletia em seu dourado. Assim que sentiu suas asas bem firmes, tomou impulso e voou.
Voou, a princípio, cautelosamente a fim de se habituar com elas e então foi direto à grande árvore onde morava a querida Mãe Natureza.
“Bom dia, cara Senhora!” ele disse.
“Bom dia, bom dia, e o que posso fazer por você, meu filho?” - respondeu.
“Eu vim mostra-lhe minhas asas”, disse balançando-as graciosamente diante dela. “Elas são mesmo lindas, mas um pouco difíceis de manejar.”
“Sim, eu sei.” Disse a Natureza com aquele brilho nos olhos.
E o pobre Twig, com todos os seus problemas, é agora o Príncipe das borboletas.
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