“Aqui, na vida depois da morte, tudo existe em todos os estados possíveis em simultâneo, mesmo os estados que mutuamente se excluem. Depois da nossa vida terrena, isto é um verdadeiro choque, porque na Terra as nossas escolhas implicam o desaparecimento de outras possibilidades. Quando nos transformamos em amantes de uma pessoa, não podemos ser amantes das outras, quando escolhemos uma porta, as outras ficam perdidas para nós.
Na vida depois da morte podemos desfrutar de todas as possibilidades ao mesmo tempo, vivendo paralelamente múltiplas vidas. Damos por nós a comer e a não comer ao mesmo tempo. Estamos e não estamos a jogar bowling. Estamos a andar de cavalo e ao mesmo tempo não temos nenhum cavalo perto de nós.
Um anjo azul de pele aveludada visita-nos gentilmente para ver como estamos a adaptar-nos a esta vida depois da morte.
- Isto é demasiado confuso para um pobre cérebro humano – confessamos ao anjo.
O anjo coça o queixo.
- Talvez possamos simplificar esta sua vida com uma atividade mais acessível, como ter um emprego fixo – oferece-nos.
E caímos imediatamente numa vida laboral de contradições simultâneas. Estamos a desenvolver várias carreiras ao mesmo tempo, todas aquelas que ponderamos seguir quando éramos mais jovens. Fazemos a contagem decrescente para o lançamento do foguete onde nos encontramos e simultaneamente defendemos um criminoso em tribunal. No mesmo instante, desinfetamos as mãos para fazer uma cirurgia à vesícula biliar e conduzimos um caminhão de dezoito rodas numa auto-estrada do Novo México. Os constrangimentos de tempo e espaço desapareceram, completamente.
- Isto é demasiado trabalho – queixamo-nos ao anjo.
- Talvez o consigamos sossegar com uma situação mais simples – pondera o anjo – Gostaria de estar num quarto fechado, sozinho com o seu amor?
E eis que nos encontramos aqui. Estamos simultaneamente envolvidos na conversa dela e a pensar noutra coisa qualquer; ela entrega-se a nós e ao mesmo tempo não se entrega; achamo-la detestável e amamo-la profundamente; ela adora-nos mas questiona-nos sobre o que terá perdido com outra pessoa qualquer.
- Obrigado – agradecemos ao anjo. – Esta existência já me é familiar.”
David Eagleman, neurocientista e autor de “Cogito Ergo Sum”; o conto acima, de sua autoria, discute o tema quântico da existência simultânea em vários estados possíveis
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