Mesmo quem nunca experimentou já ouviu falar nos benefícios obtidos
pela prática da meditação. Além da calma e relaxamento, quem medita há
muito tempo alcança um controle da mente que possibilita escapar a
pensamentos obsessivos e negativos, no que poderíamos chamar de
“transcendência”.
Com o objetivo de descobrir qual o segredo “fisiológico” por trás
de tão boas sensações promovidas pela técnica, e motivados pela idéia de
aproveitá-la como aliada em alguns tratamentos, os neurocientistas têm
se debruçado cada vez mais nos estudos sobre a meditação.
O que a pesquisa nesta área mostra é que a meditação de fato
diminui a ansiedade, a depressão, a raiva e a fadiga, e melhora a
atenção. Os praticantes de meditação parecem ter maior habilidade em
cultivar emoções positivas e de deter a instabilidade emocional,
evitando pensamentos ruminantes que podem, por sua vez, aumentar a
ansiedade e a depressão. Alguns estudos indicam até mesmo um
fortalecimento do sistema imunológico.
Além do “domínio mental”, o controle da respiração é fundamental
para a prática da meditação, e parece ser obtido pela ativação sistema
nervoso parassimpático, o que produz sensação de relaxamento e de
quiescência profunda. Esta calmaria parece ser reforçada pela redução da
produção do cortisol, hormônio ligado ao estresse.
Outros hormônios que se mostram sensíveis à prática da meditação
são a arginina vasopressina (AVP) e a beta-endorfina (Deshmuskh, 2006). O
aumento da liberação de AVP tem sido associado à manutenção de um
efeito positivo, com a diminuição da percepção da fadiga, e à
facilitação da consolidação de novas memórias, enquanto se atribui ao
aumento de beta-endorfina uma menor percepção de dor e medo, e sensações
de alegria e euforia. Os níveis de serotonina parecem ser moderadamente
afetados durante a meditação, sendo que o aumento deste
neurotransmissor, que tem efeito sedativo e calmante, também se
correlaciona com um efeito positivo da técnica – assim como acontece com
os inibidores de recaptação de serotonina, que aumentam o tempo que a
serotonina pode atuar produzindo seus efeitos e fazem parte do
tratamento farmacológico da depressão. Ao que tudo indica, portanto,
deve haver benefícios em combinar a meditação consciente e intervenções
de terapia cognitiva no tratamento da depressão crônica ou recorrente em
comparação com o tratamento convencional.
Dados reunidos por Deshmukh, num artigo de 2006, mostram ainda que
áreas como hipocampo, lobo temporal e o córtex parietal estão mais
ativas no cérebro de praticantes da meditação, em comparação com os
não-praticantes, durante testes que avaliam a atenção.
Um estudo de Brefczynski-Lewis e colaboradores feito em 2007 com
pessoas com que meditavam há mais horas, em comparação com indivíduos
que meditavam há menos tempo e com aqueles que meditaram apenas uma
semana antes dos testes comportamentais, indica que o tempo de prática
também influencia nos resultados obtidos. Os praticantes em nível médio
tiveram maior ativação das áreas que controlam a atenção do que os
novatos. Já os experts tiveram menor ativação destas áreas,
indicando uma menor necessidade de recrutamento das redes neuronais para
manter o mesmo nível de atenção.
Quando desafiados com um som para distrair a atenção, os
praticantes experientes, em relação aos novatos, tiveram menor ativação
em áreas relacionadas ao pensamento discursivo e às emoções, e maior em
regiões relacionadas à atenção e à inibição da resposta. Parece haver
uma otimização dos circuitos neuronais, resultando num estado mental
menos ativo cognitivamente, mais quieto.
Vale lembrar que estes benefícios não são atingidos “da noite para o dia”. O grupo de experts acumulava
mais de 44.000 horas de meditação, o que equivale a mais ou menos 4
doutorados – 16 anos – com dedicação diária de 8 horas do seu dia. O
grupo de expertise média, em comparação, teria em sua bagagem 3
“mestrados” em meditação, somando 19.000 horas de prática.
Dá trabalho. Mas, neste ponto, imagino que até os mais céticos estejam entoando o ommmmmm… (LSBP, maio 2009)
Fontes:
Deshmukh V (2006). Neuroscience of meditation. TSW Holistic Health & Medicine 1, 275-289.
Tang Y, Ma Y, Wang J, Fan Y, Feng S, Lu Q, Yu Q, Sui D, Rothbart M,
Fan M e Posner M (2007). Short-term meditation training improves
attention and self-regulation. PNAS 104(43), 17152-17156.
Brefczynski-Lewis J A, Lutz A, Schaefer H S, Levinson D B e
Davidson R J (2007). Neural correlates of attentional expertise in
long-term meditation practitioners. PNAS 104(27), 11483-11488.
Luders E, Toga A, Lepora N e Gaser C (2009). The underlying
anatomical correlates of long-term meditation: Larger hippocampal and
frontal volumes of gray matter. NeuroImage 45, 672-678.
Barnhofer T, Crane C, Hargus E, Amarasinghe M, Winder R, William J M
(2009). Mindfulness-based cognitive therapy as treatment for chronic
depression: A preliminary study. Behav Res Therap 47(5), 366-373.
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