quarta-feira, 10 de abril de 2013

OMMMMM!

“OM... Silêncio. Paz. Eternidade. Infinitude. Bem-aventurança. Quietude. Equanimidade. O Senhor ainda está em seu sono profundo. A Criação está imanifesta.
Fiat Lux. A Luz se faz. O Senhor se manifesta. A matéria se diferencia, mantendo a igualdade. Densifica-se sem perder a sutileza. Desestabiliza-se firme em seu ponto de equilíbrio. Agita-se em profundo repouso. É a manifestação de Māyā.
O Senhor misericordioso, bondoso e compassivo, em Seu profundo amor, envolve a matéria. Dá vida, luz e consciência. Da matéria indiferenciada, o Senhor me faz nascer diferenciado em mineral. Depois desabrocho em vegetal. Eclodo em animal. Lentamente a Criação me desenvolve. Manifesta-me em consciências mais complexas, apesar de minha inconsciência. O meu alívio é a inconsciência. Mas, enfim, inicio o meu grande drama. A epopéia do homem.
Autoconsciência. Perdi minha inocência, a minha paz. Tenho que me desenvolver por mim mesmo. Recebo a responsabilidade pelos meus atos. Um grande sentimento de competição me assalta. Sinto-me cada vez mais poderoso e arrogante. Sinto-me como o Senhor – o Todo-Poderoso –, sem saber que és Tu que me guia. Eu O desprezo em minha ignorância. Mas, o Senhor me aceita diante da minha imperfeição e imaturidade.
Assim vou passando, vida após vida, me aperfeiçoando. Ganhando maturidade, vou me tornando consciente da realidade da vida. Graças à misericórdia do Senhor. Mas quão imperfeito sou e ainda não percebo! Vejo a maldade dos homens. Atribuo-a ao Senhor. Novamente manifesta-se Māyā, a ilusão.
Grande paradoxo me assola. Revolto-me contra o Senhor. Os homens, em sua ignorância, produzem a maldade. A maldade nos traz a lucidez através do sofrimento. Compreendo que por caminhos complexos a Alma evolui. No Senhor não há maldade. É a ação de Māyā sobre os homens. Na realidade o que há é a ignorância humana. A maldade é a ilusão dos homens, pois não representa a realidade e sim a imaturidade. É gerada pelo conflito do eterno “vir-a-ser”.
Só agora entendo que tudo é bom, justo e adequado. Que a maldade não existe. É apenas um processo de evolução. Só agora eu sei que em Ti eu vivo... e quanto ainda me falta para realizá-Lo, conscientemente, em toda a plenitude, quietude, eternidade, bem-aventurança. Paz. Silêncio. OM...”

(Roberto Nogueira, em “A Graça do Senhor”)

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