“OM...
Silêncio. Paz. Eternidade. Infinitude. Bem-aventurança. Quietude.
Equanimidade. O Senhor ainda está em seu sono profundo. A Criação está
imanifesta.
Fiat
Lux. A Luz se faz. O Senhor se manifesta. A matéria se diferencia,
mantendo a igualdade. Densifica-se sem perder a sutileza.
Desestabiliza-se firme em seu ponto de equilíbrio. Agita-se em profundo
repouso. É a manifestação de Māyā.
O Senhor
misericordioso, bondoso e compassivo, em Seu profundo amor, envolve a
matéria. Dá vida, luz e consciência. Da matéria indiferenciada, o Senhor
me faz nascer diferenciado em mineral. Depois desabrocho em vegetal.
Eclodo em animal. Lentamente a Criação me desenvolve. Manifesta-me em
consciências mais complexas, apesar de minha inconsciência. O meu alívio
é a inconsciência. Mas, enfim, inicio o meu grande drama. A epopéia do
homem.
Autoconsciência.
Perdi minha inocência, a minha paz. Tenho que me desenvolver por mim
mesmo. Recebo a responsabilidade pelos meus atos. Um grande sentimento
de competição me assalta. Sinto-me cada vez mais poderoso e arrogante.
Sinto-me como o Senhor – o Todo-Poderoso –, sem saber que és Tu que me
guia. Eu O desprezo em minha ignorância. Mas, o Senhor me aceita diante
da minha imperfeição e imaturidade.
Assim
vou passando, vida após vida, me aperfeiçoando. Ganhando maturidade,
vou me tornando consciente da realidade da vida. Graças à misericórdia
do Senhor. Mas quão imperfeito sou e ainda não percebo! Vejo a maldade
dos homens. Atribuo-a ao Senhor. Novamente manifesta-se Māyā, a ilusão.
Grande
paradoxo me assola. Revolto-me contra o Senhor. Os homens, em sua
ignorância, produzem a maldade. A maldade nos traz a lucidez através do
sofrimento. Compreendo que por caminhos complexos a Alma evolui. No
Senhor não há maldade. É a ação de Māyā sobre os homens. Na realidade o
que há é a ignorância humana. A maldade é a ilusão dos homens, pois não
representa a realidade e sim a imaturidade. É gerada pelo conflito do
eterno “vir-a-ser”.
Só
agora entendo que tudo é bom, justo e adequado. Que a maldade não
existe. É apenas um processo de evolução. Só agora eu sei que em Ti eu
vivo... e quanto ainda me falta para realizá-Lo, conscientemente, em
toda a plenitude, quietude, eternidade, bem-aventurança. Paz. Silêncio.
OM...”
(Roberto Nogueira, em “A Graça do Senhor”)
(Roberto Nogueira, em “A Graça do Senhor”)
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