Cada
ser humano desde a sua infância, é ferido. Ferido pelos pais - estou
falando psicologicamente - ferido pela escola, através da comparação, da
competição, sendo cobrado naquela matéria para ser o primeiro da
classe, e assim por diante na faculdade, na vida, é um constante
processo de ser ferido.
Todos nós sabemos disso.
Somos
todos seres humanos, somos magoados profundamente e podemos não estar
conscientes disso. E sendo feridos, existem todas as formas de ações
neuróticas.
Isso faz parte da nossa consciência, parte da nossa consciência exposta ou oculta que está ferida.
Agora, é possível não ser ferido de forma alguma?
Essa
é uma questão muito importante a ser colocada. Porque as consequências
de se ferir são: construção de um muro em torno de si, o afastamento de
nossas relações uns com os outros para não se machucar mais...e nisso
existe o medo, um gradual isolamento.
Agora,
nós estamos perguntando, se é possível não apenas estar livre das
feridas do passado, mas também nunca se machucar novamente. Não por
insensibilidade, ou indiferença, pela desconsideração de todas as
relações, mas sim questionar o porque e o que é que está sendo ferido.
Esta
ferida é como dissemos, parte de nossa consciência, onde várias ações
contraditórias e neuróticas acontecem. Então nós estamos examinando,
como examinamos a crença, estamos examinando a mágoa, que faz parte da
nossa consciência, vejam que não é algo fora de nós, isso faz parte de
nós.
Agora,
o que é que está ferido, magoado, e é possível nunca se machucar?
Entendam, um ser humano que é livre totalmente, nunca será ferido por
qualquer coisa, psicologicamente, interiormente.
Essa não é uma questão importante?
E o que é que está machucado? Nós dizemos: esse sou eu. Eu estou magoado. O que é esse eu?
Desde
a infância tem sido construída uma imagem de si mesmo. Nós temos
muitas, muitas imagens. Não apenas imagens que as pessoas nos dão, mas
também as imagens que nós mesmos construímos. Como um americano, que é
uma imagem, como um hindu, um especialista. Assim, o "eu" é a imagem que
eu construí sobre mim, como um grande homem, ou que eu sou muito bom
nisso ou naquilo e essa imagem se machuca, certo? Você tem uma imagem de
si mesmo; você é um cozinheiro maravilhoso, um carpinteiro maravilhoso,
grande orador, (eu não sou!), ou escritor, um ser espiritual, um líder.
Nós criamos essas imagens para nós mesmos.
Temos outras tantas imagens que não mencionarei no momento; essas imagens são a totalidade do "eu".
Quando
digo que estou magoado, entende-se que a imagem está ferida. Se tiver
uma imagem de mim mesmo, se eu tiver, você vem e diz: Não seja idiota!
Eu fico magoado. Ou seja, a imagem que construí a meu respeito como não
sendo um idiota, vem então você e me diz: Você é um idiota, e isso me
magoa. E carrego essa imagem, que foi ferida para o resto da minha vida.
E cuido dela, para não me magoar mais, afastando qualquer afirmação a
respeito da minha idiotice. Isso é o seu problema (risos)
Isso
é sério, porque as consequências de se ferir são muito complexas, e a
partir dessa ferida, poderemos querer nos preencher, poderemos desejar
nos tornar isso ou aquilo, para escapar dessa terrível dor.
Então é preciso compreender isso.
É possível não ter absolutamente nenhuma imagem a respeito de si mesmo? Porque você ainda tem imagens sobre si mesmo?
Você pode ter uma aparência muito bonita, inteligência brilhante, e eu posso querer ser como você, e se eu não sou me machuco.
Assim, a comparação pode ser um dos fatores que provocam as feridas psicologicamente. Então porque comparar?
Vocês entendem todas essas perguntas?
Assim, é possível se viver nesse mundo moderno, ter uma vida sem uma única imagem de si mesmo?
J. Krishnamurti
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