quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quem te magoa

Em nossa consciência, estamos machucados.
Cada ser humano desde a sua infância, é ferido. Ferido pelos pais - estou falando psicologicamente - ferido pela escola, através da comparação, da competição, sendo cobrado naquela matéria para ser o primeiro da classe, e assim por diante na faculdade, na vida, é um constante processo de ser ferido.
Todos nós sabemos disso.
Somos todos seres humanos, somos magoados profundamente e podemos não estar conscientes disso. E sendo feridos, existem todas as formas de ações neuróticas.
Isso faz parte da nossa consciência, parte da nossa consciência exposta ou oculta que está ferida.
Agora, é possível não ser ferido de forma alguma?
Essa é uma questão muito importante a ser colocada. Porque as consequências de se ferir são: construção de um muro em torno de si, o afastamento de nossas relações uns com os outros para não se machucar mais...e nisso existe o medo, um gradual isolamento.
Agora, nós estamos perguntando, se é possível não apenas estar livre das feridas do passado, mas também nunca se machucar novamente. Não por insensibilidade, ou indiferença, pela desconsideração de todas as relações, mas sim questionar o porque e o que é que está sendo ferido.
Esta ferida é como dissemos, parte de nossa consciência, onde várias ações contraditórias e neuróticas acontecem. Então nós estamos examinando, como examinamos a crença, estamos examinando a mágoa, que faz parte da nossa consciência, vejam que não é algo fora de nós, isso faz parte de nós.
Agora, o que é que está ferido, magoado, e é possível nunca se machucar? Entendam, um ser humano que é livre totalmente, nunca será ferido por qualquer coisa, psicologicamente, interiormente.
Essa não é uma questão importante?
E o que é que está machucado? Nós dizemos: esse sou eu. Eu estou magoado. O que é esse eu?
Desde a infância tem sido construída uma imagem de si mesmo. Nós temos muitas, muitas imagens. Não apenas imagens que as pessoas nos dão, mas também as imagens que nós mesmos construímos. Como um americano, que é uma imagem, como um hindu, um especialista. Assim, o "eu" é a imagem que eu construí sobre mim, como um grande homem, ou que eu sou muito bom nisso ou naquilo e essa imagem se machuca, certo? Você tem uma imagem de si mesmo; você é um cozinheiro maravilhoso, um carpinteiro maravilhoso, grande orador, (eu não sou!), ou escritor, um ser espiritual, um líder. Nós criamos essas imagens para nós mesmos.
Temos outras tantas imagens que não mencionarei no momento; essas imagens são a totalidade do "eu".
Quando digo que estou magoado, entende-se que a imagem está ferida. Se tiver uma imagem de mim mesmo, se eu tiver, você vem e diz: Não seja idiota! Eu fico magoado. Ou seja, a imagem que construí a meu respeito como não sendo um idiota, vem então você e me diz: Você é um idiota, e isso me magoa. E carrego essa imagem, que foi ferida para o resto da minha vida. E cuido dela, para não me magoar mais, afastando qualquer afirmação a respeito da minha idiotice. Isso é o seu problema (risos)
Isso é sério, porque as consequências de se ferir são muito complexas, e a partir dessa ferida, poderemos querer nos preencher, poderemos desejar nos tornar isso ou aquilo, para escapar dessa terrível dor.
Então é preciso compreender isso.
É possível não ter absolutamente nenhuma imagem a respeito de si mesmo? Porque você ainda tem imagens sobre si mesmo?
Você pode ter uma aparência muito bonita, inteligência brilhante, e eu posso querer ser como você, e se eu não sou me machuco.
Assim, a comparação pode ser um dos fatores que provocam as feridas psicologicamente. Então porque comparar?
Vocês entendem todas essas perguntas?
Assim, é possível se viver nesse mundo moderno, ter uma vida sem uma única imagem de si mesmo?
 
J. Krishnamurti

postado por  Miriam Marcia Machado

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