terça-feira, 27 de agosto de 2013

O irresistível canto de nossos hábitos mentais


Ulisses, o herói da antiga mitologia grega, exemplifica a coragem ao escolher conscientemente ficar receptivo e presente quando a tentação de desistir é intensa. Na viagem marítima de volta à Grécia depois da guerra de Tróia, Ulisses sabia que seu navio atravessaria uma área muito perigosa habitada por lindas donzelas conhecidas como sereias. 
Ele fora prevenido que o apelo dessas mulheres era irresistível e que os marinheiros não conseguiam evitar a tentação de se dirigirem a elas; assim, despedaçavam os barcos nas rochas e afogavam-se. Mas Ulisses queria ouvir o canto das sereias. 
Ele conhecia a profecia que, se alguém ouvisse suas vozes e resistisse a procurá-las, as sereias perderiam o poder para sempre e definhariam até morrer. Esse desafio motivou-o.
   Assim que o navio aproximou-se da terra natal das sereias, Ulisses disse aos seus homens para colocarem cera em seus ouvidos e o amarrassem bem apertado no mastro, instruindo-os que por mais que lutasse e gesticulasse, não importa quanto mais colérico ficasse ordenando que cortassem as cordas, eles não o desamarrariam até que o navio chegasse a um ponto familiar da terra, bem distante do canto das sereias. Essa história, é claro, teve um final feliz. Os homens seguiram suas instruções, e Ulisses venceu o desafio. Em um grau maior ou menor, todos nós teremos de passar por um desconforto similar, para não seguir o apelo de nossas sereias pessoais e atravessar a porta aberta do despertar.


Pema Chödrön

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