texto retirado do livro, diário Mediúnico, ditado por Ramatis ....
Pergunta: - Quanto às características comuns dos abusos espirituais, a que se sobressai é o autoritarismo?
Ramatís - Sem dúvida, a característica mais saliente contida nos processos de abusos religiosos é a existência do líder abusivo e a ênfase exagerada à sua autoridade. Não são incomuns os pastores se declararem ungidos e consagrados diretamente por Deus. Logo, seus liderados devem se comportar como se estivessem diante do "messias". Alimentam esse messianismo faraônico alegando que, conforme Mateus 23:1-2, Jesus disse que "na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus".
Com outras citações usadas distorcidamente, o poder é institucional, alusivo ao cargo pastoral, e não emana da autoridade moral. Não basta vestir-se de "messias", deve-se possuir a moral evangélica interiorizada. Aos que se submetem a essa falsidade, são prometidas bênçãos e graças espirituais. A doutrinação é baseada na submissão completa, sem o direito de questionamentos, já que os pastores são infalíveis e Deus é garantia de salvação milagrosa, caso haja submissão incondicional.
Pergunta: - Quais os efeitos mais visíveis nos que sofreram abuso espiritual?
Ramatís: - o abuso espiritual tem conseqüências psicológicas devastadoras na vida daqueles que depositam um alto grau de confiança nas lideranças religiosas, e vêem os milagres não se concretizarem, mesmo diante das promessas. A confiança é traída pela conduta inadequada dos líderes, que se apresentam como "santos", mas se esquecem dos "pés de barro" do dia a dia. Essas pessoas sentem-se traídas, se revoltam contra o sagrado e internamente tornam-se inseguras e incapazes de estabelecer relações de confiança, desequilibrando-se na vida cotidiana.
Analogamente, os sintomas emocionais e psicológicos associados ao abuso espiritual são muito semelhantes aos dos que sofreram incestos, pois se cristaliza em seu psiquismo uma espécie de "gatilho" mental que os paralisa diante de todas as situações que se associam à fonte de sua dor emocional, como só acontece nos momentos que envolvem autoridade, já que intimamente se sentem como se tivessem sido violentadas pela figura paterna. Obviamente que, além do medo, da culpa e da desilusão com relação aos líderes religiosos, as vítimas de abuso espiritual predispõem-se a não confiarem mais em Deus. Fica uma espécie de questionamento interno ruminante como fixação autoobsessiva culposa: "Como é que Deus pode ter permitido que isso acontecesse comigo, se tudo que eu queria era amá-Lo e servi-Lo!". No mais das vezes, esses seres desenvolvem uma espécie de revolta com si mesmos, passando a estabelecer uma relação de incredulidade contra tudo que seja espiritual, o que tende a se agravar quando não são convenientemente tratados. Com isso, a falta de fé na vida, a negatividade e o desânimo existencial, desencadeiam psicopatologias de complexas etiologias. Por ressonância vibratória do campo emocional desestruturado, instalam-se as mais diversas doenças, que na verdade já estavam demarcadas em seus corpos astrais, em existências passadas, como se a água lodosa do fundo do poço, fosse revolvida deixando turva a sua superfície cristalina.
Pergunta: - Quais os motivos dos abusados terem sido receptivos aos abusadores, partindo do pressuposto que somos todos filhos de um mesmo Pai e detentores das potencialidades internas do Cristo?
Ramatís: - Os evangélicos que sofreram abusos espirituais amaram e serviram aos homens e à Igreja enquanto mediadores com o divino, ao invés de amarem diretamente a Deus. Os ingredientes que formam o bolo dos abusos espirituais começam, intencionalmente, com o autor permitindo que o crente interiorize sua identidade como autoridade divina. A palavra do pastor é a voz de Deus e os fiéis devem ouvi-lo dessa maneira. Adicione-se a isso o desfrute das benesses pessoais na relação com o liderado - o beneficiado na lide com o pseudo-sagrado não é o orientado, mas o próprio orientador. O que deveria servir é servido, num modelo cristão que impõe que os fiéis lavem os pés dos representantes do Espírito Santo, em lugar de terem seus pés lavados pelos apóstolos, assim como Jesus o fez. Sem dúvida, o tempero que apimenta o abuso espiritual é o conceito de "ungidos de Deus" contido no Velho Testamento. As lideranças evangélicas, notadamente as pentecostais e neopentecostais, são tratadas como profetas, tendo reverências intocáveis que os acompanham nos ritos pastorais. Essa hierarquização vertical da experiência com o sagrado, ao contrário do nivelamento horizontal defendido por Jesus, que democratizou Deus, dizendo a todos "vós sois deuses", gera rebanhos infantilizados que dependem da Igreja e do pastor para atingir o Divino, tal como o "pai de santo" das práticas mágicas populares, que se arroga o direito único de conduzir os filhos ao orixá, tornando-se indispensável para o "santo" se manifestar no corpo do adepto. A autoridade sacerdotal nos ritos, liturgias e religiões da Terra hierarquiza e disciplina a união dos grupos para o culto e não diz respeito à experiência pessoal de cada um, direito cósmico irrevogável concedido por Deus.
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