segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Evolução e Criação

Publicado por M. Manuela dos Santos Oliveira em 19 outubro 2014 às 19:24 em Omraam Mikhael Aïvanhov

Desde o começo da sua evolução que o homem se tem mostrado desejoso de criar; são prova disso as descobertas arqueológicas relativas às civilizações mais primitivas.

Mesmo uma criança, desde muito pequenina, quer construir, desenhar, colorir...
Pode-se dizer que, entre os mais fortes e mais tenazes instintos que o homem possui, se encontra esta necessidade de ser um criador, assemelhando-se assim ao seu Pai Celeste.

A arte é a prova de que este desejo que todo o homem sente de ser um criador não se limita à criação dos filhos, a uma simples reprodução para conservação da espécie.

Ela manifesta-se como uma necessidade de ir mais longe, de dar mais um passo para encontrar algo mais belo, mais subtil, mais perfeito.
O poder criador do homem situa-se além do seu nível de consciência vulgar: encontra-se num ponto da sua alma que nesse momento se manifesta como capacidade de explorar, de contemplar as realidades que o ultrapassam e de captar os seus elementos.

Criar é superar-se, ultrapassar-se.

Se alguns inventores conseguiram fazer descobertas tão revolucionárias foi porque souberam elevar-se até ao domínio da imaginação e, mais alto ainda, ao da intuição, para captar ideias, imagens, que depois transcreveram e realizaram.
A ciência oficial não explorou ainda as possibilidades da intuição, nem a natureza desta faculdade que, como uma antena ou um radar, pode prever, predizer, projectar-se no futuro.

Quando, de tempos a tempos, alguns cientistas, que estão a meio caminho entre a ciência oficial e a ciência esotérica, lançam ideias mais avançadas, não se acredita neles, são rejeitados, criticados; mas, mais tarde, as pessoas são obrigadas a reconhecer que eles foram grandes precursores.

Esta faculdade de imaginar que o homem possui, é verdadeiramente criadora, e se ele souber como purificá-la e cultivá-la num estado de clareza e de lucidez perfeitas, ela pode fazê-lo descobrir realidades nunca suspeitadas até então.
Todos os inventores passaram horas inteirinhas mergulhados nas suas pesquisas e meditações, e ninguém pode negar que a sua intuição tenha sido uma faculdade verdadeiramente autêntica.

E nós, aqui, numa Escola Iniciática, fazemos exactamente a mesma coisa que eles, mas conscientemente, com conhecimento de causa, com a diferença porém, de que a nossa imaginação é orientada não para descobertas físicas, químicas, técnicas, mas sim para descobertas interiores, espirituais.
Também a nós ela permite fazer descobertas de que muita gente não pode fazer sequer uma ideia.
Disse-vos já noutras conferências que podemos considerar a imaginação como uma mulher interior que dá à luz filhos... bem sucedidos ou falhados, conforme a qualidade dos germes que lhes tivermos fornecido.
Quando essas crianças fazem asneiras, estragos, é o pai que tem obrigação de pagar as multas, e por vezes é perseguido, castigado e espoliado em vez delas.
Se, pelo contrário, os seus filhos ganham prémios, o pai receberá todas as honras.
Direis vós: «Mas que filhos são esses?»

São os nossos pensamentos e os nossos sentimentos, e o pai somos nós próprios.
Eis mais um domínio muito vasto para estudar e aprofundar, mas, para não me dispersar, vou voltar ao ponto essencial do assunto.


Portanto, este instinto de criação que trazemos em nós impele-nos a ultrapassar as nossas capacidades vulgares e põe-nos em contacto com outras regiões, outros mundos repletos de existências etéricas, subtis, luminosas. E é graças a esta parte de nós próprios, que conseguiu deslocar-se e ir mais longe para captar certos elementos inteiramente novos, que nós podemos gerar filhos superiores a nós ou obras-primas que nos ultrapassem.

Com efeito, muitas vezes a criação é bem mais bela que o seu autor.
Podeis conhecer um homenzinho aparentemente insignificante, mas que, afinal, foi quem produziu uma determinada obra gigantesca, verdadeiramente digna de um gigante, de um titã!

Esta parte subtil de si próprio que possui a faculdade de se deslocar, conseguiu ir muito longe, muito alto, e aí, enriqueceu-se acumulando novos elementos; depois,quando se pôs a trabalhar, ele fez sair das suas mãos uma obra extraordinária, prodigiosa, que maravilhou o mundo inteiro.
Embora todos os homens tenham necessidade de criar, infelizmente poucos são capazes de se tornar verdadeiros criadores no plano espiritual.
Muito poucos se elevam até esse nível e sabem que, para produzir obras sublimes, é preciso conhecer certas leis e exercitar-se de uma maneira especial.
Já ireis compreender qual é essa maneira...

Como é que a terra, que no Inverno se encontra adormecida, nua e estéril, na Primavera se cobre de uma vegetação tão bela e colorida - ervas, flores, árvores e frutos?
É que nessa época ela fica muito mais exposta ao sol e começa a receber dele determinados elementos.

Ela põe-se a trabalhar e supera-se, produz «obras-primas» extraordinárias, coloridas, açucaradas e perfumadas que oferece a todas as criaturas.
Portanto, se o homem também quiser criar e produzir obras notáveis, deve descobrir um sol, um ser mais poderoso e inteligente que ele, com o qual possa unir-se e fazer trocas.

Compreendeis agora porque é que nós vamos todas as manhãs ver o sol nascer?
É para aprendermos a criar obras que se assemelhem a ele, obras novas, límpidas, plenas de luz, de calor e de vida.

Mas, na realidade, aqui o sol é um símbolo... um símbolo de Deus, junto do qual nós devemos ir para nos unirmos a Ele, pois é graças a estas trocas com o Senhor que nos tornaremos criadores como Ele.
Aqui temos a razão de ser da oração, da meditação, da contemplação e de todos os exercícios espirituais.
Mas não sei se isto já estará bem claro para vós e tentarei aprofundar ainda mais esta questão.
Há muito tempo que tenho vontade de combater a filosofia materialista e de a destruir.
Direis vós: « Mas que ambição, que orgulho!
Até agora ainda ninguém o conseguiu.»
Pois bem, mas eu tenho argumentos muito simples, graças aos quais creio que o conseguirei.

Imaginai dois frascos, que enchemos com perfumes diferentes.
Os dois frascos continuam separados, são dois objectos bem diferentes.
De um ponto de vista materialista, não existe nenhuma comunicação entre eles, e isso é verdade: no que diz respeito à forma exterior, do continente, isso é exacto, os objectos mantêm-se separados.

Mas já deixa de ser verdadeiro se considerarmos o conteúdo, porque de ambos os perfumes libertam-se partículas subtis que se elevam e se espalham no ar, fundindo-se.

Uma ciência que se ocupa apenas dos fenómenos visíveis, tangíveis e mensuráveis, desconhece tudo o que se desenvolve ao nível mais subtil, o das quinta-essências e das emanações invisíveis, e daí deixa de ser verídica: escapa-lhe metade da verdade.

Voltemos agora ao sol.

Ele está longe, a milhões de quilómetros de distância, no entanto nós sentimo-lo aqui, ele toca-nos, aquece-nos, cura-nos.

Como consegue ele estar tão próximo apesar de tão grande distância?

Libertando uma quinta-essência que faz parte dele próprio - os seus raios; é graças a eles que o sol estabelece contacto connosco: ele envolve-nos, acaricia-nos, penetra em nós, estamos fundidos nele.
Uma vez que a luz e o calor do sol não são outra coisa senão o próprio sol, pode dizer-se, pois, que o sol e a terra se tocam, que os planetas contactam entre si.
Considerai o nosso planeta: há a terra; por cima da terra, a água; acima da água, o ar; e acima do ar, o éter.

É a este nível que se pode afirmar que os planetas se tocam.
Não é no seu aspecto físico que eles se fundem, mas sim no plano subtil, na sua alma.
Por isso a astrologia acreditou sempre na influência dos planetas e das constelações.

Estudemos agora os pequenos planetas que os homens e as mulheres são.
Que se passa com eles?
Imaginai que está aqui um rapaz e além uma rapariga: eles olham-se, sorriem um para o outro...

Se considerarmos os factos de um ponto de vista materialista, diremos: «Eis dois corpos bem distintos, separados, que não se tocam; não há, portanto, nenhuma comunicação entre eles.»

Mas se encararmos a questão de um ponto de vista espiritualista, pronunciar-nos-emos de modo diferente, pois dado que as almas destes jovens comunicam entre si, eles estão realmente unidos pelos seus fluidos e pelas suas emanações, exactamente como os raios de dois sóis se fundiriam no espaço.


Estas poucas palavras ajudar-vos-ão a compreender como é que, graças aos seus corpos subtis, o homem tem a possibilidade de atingir a Alma Universal e de se unir a ela.

Esta é a razão de ser da oração.
A oração não é mais do que uma troca com o Criador, um acto pelo qual nos elevamos acima de nós próprios para encontrar elementos que nos ajudarão a criar obras perfeitas, obras divinas.

Se um criador quiser deixar uma obra-prima imortal, inesquecível, não deve ficar unicamente ao nível dos cinco sentidos, como fazem muitos artistas de agora.
Presentemente, no campo da arte, está na moda os autores debruçarem-se sobre as realidades mais prosaicas.
A maior parte dos artistas já não sabe como elevar-se para contemplar a beleza sublime; eles apresentam ao público apenas vulgaridades ou monstruosidades, carantonhas, porque esqueceram o segredo da verdadeira criação.

Se quiserdes tornar-vos um verdadeiro criador, ligai-vos à Divindade para receber dela algumas partículas que em seguida transmitireis à vossa criação; assim, o vosso filho ou a vossa obra, ultrapassar-vos-ão em beleza e em inteligência.
Meus queridos irmãos e irmãs, eis horizontes novos: saber realizar trocas com tudo o que é superior, saber que a oração, a meditação e a contemplação são meios de criação.
Uma vida inteira não vos bastará para explorar todas estas possibilidades, tão vastas elas são.

Nada é mais importante para o homem do que restabelecer a ligação com o Criador.
Não reparastes que o nascimento das crianças é baseado nesta mesma lei: a mãe que deve unir-se ao pai, fundir-se com ele?
Toda a criação necessita da união de um pai e de uma mãe.
Mas se na concepção não intervier este lado subtil que é a alma, a imaginação, para captar elementos superiores, então a criação falhará ou, se não falhar inteiramente, não beneficiará de qualquer aperfeiçoamento.

Ora, a criação não é uma estagnação, uma simples reprodução, uma cópia, mas sim um passo em frente, uma evolução.

É graças a este instinto de criar que cada ser evolui, que todo o cosmos evolui.
Com efeito, à excepção de Deus, tudo tem de evoluir.

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