terça-feira, 14 de outubro de 2014

Onde você está?

Publicado por M. Manuela dos Santos Oliveira em 8 outubro 2014 às 14:19 em OSHO

"Você me pergunta: O que eu quero?

Eu é que deveria estar lhe perguntado isso, em vez de você me perguntar, porque isso depende de onde você está. Se está identificado com o corpo, seus desejos serão diferentes; então, o alimento e o sexo serão suas únicas vontades, seus únicos desejos. Esses dois são desejos animais, os mais básicos. Não os estou condenando por chamá-los de os mais básicos. Não os estou avaliando. Lembre-se, estou apenas estabelecendo um fato: o degrau mais baixo da escada. Mas se você está identificado com a mente, seus desejos serão diferentes: música, dança, poesia; e além dessas, há milhares de coisas...

O corpo é muito limitado; ele tem uma polaridade simples: alimento e sexo; Ele se move como um pêndulo entre esses dois, o alimento e o sexo; não tem nada além disso. Mas se você estiver identificado com a mente, então a mente tem muitas dimensões. Você pode estar interessado em filosofia, pode esta interessado em ciência, em religião - pode estar interessado em quantas coisas puder imaginar.

Mas, se você estiver interessado com o coração, então seus desejos terão uma natureza ainda mais elevada, mais elevada do que a mente. Você se tornará mais estético, mais sensível, mais alerta, mais amoroso. A mente é agressiva, o coração é receptivo. A mente é masculina, o coração é feminino. A mente é lógica, o coração é amor.

Assim, depende de onde você está fixado: no corpo, na mente, no coração. Esses são os três lugares mais importantes a partir dos quais uma pessoa pode atuar. Mas há também um quarto espaço dentro de você. No Oriente ele é chamado de turiya . Turiya significa simplesmente " o quarto, o transcendental".
Se você está consciente de sua transcendentalidade, então todos os desejos desaparecem. Então, a pessoa simplesmente não tem nenhum desejo, nenhuma indagação a ser satisfeita. Não há futuro e não há passado. Então a pessoa vive apenas o momento, totalmente satisfeita, preenchida. No quarto, você se torna divino.

Você está me perguntando: O que eu quero? Isso simplesmente lhe mostra que você nem sabe quem você é, onde está fixado. Você terá de pesquisar dentro de si mesmo - e isso não é muito difícil. Se não o alimento e o sexo que ocupam a maior parte de você, então é com eles que você está identificado; se é algo relacionado com o pensamento, então é com a sua mente; se está relacionado com o sentimento, então é com o coração. E é claro, não pode haver o quarto; do contrário a pergunta não seria sequer cogitada!

Assim, em vez de lhe responder, gostaria de lhe perguntar onde você está. Investigue! Onde você está? Que tipo de identificação você tem? Onde está paralisado? Só então as coisas podem ficar claras - e isso não é difícil. Mas acontece repetidas vezes de as pessoas fazerem belas perguntas. (...)

Essas perguntas, são apenas perguntas tolas, não são realmente perguntas deles. Eles não estão de modo algum preocupados com sua real situação. Estão fazendo belas perguntas, metafísicas, esotéricas, para mostrar que são seres da mais alta qualidade; que são eruditos, que reconhecem as Escrituras, que são investigadores; que não são pessoas comuns, que são extraordinárias, religiosas. Isso está conduzindo-os a uma confusão cada vez maior.

É sempre bom perguntar o que é importante para você, em vez de perguntar algo que não é de modo algum de seu interesse. As pessoas me perguntam se Deus existe ou não, e elas nem sequer sabem se elas existem ou não!

Outro dia um indiano me perguntou: Por que eu estou aqui?

E você está realmente aqui? Pergunte a si mesmo, se você está realmente aqui. Eu não acho que você esteja aqui. Fisicamente é claro, que você está aqui, mas espiritualmente, realmente, você não está aqui. A menos que se livre da ideia de ser um indiano, de ser um hindu, você não pode estar aqui, não pode ser parte de minha comuna. Você carregou todos os tipos de bobagem que estão dentro de você e ainda está ligado a eles.(...)

Investigue, procure exato lugar onde você está. No que me diz respeito, todo desejo é puro desperdício, todo desejo é errado. Mas se você está identificado com o corpo, não posso dizer isso para você, porque isso estará muito distante de você. Se estiver identificado com o corpo, eu lhe direi: passe a ter desejos mais elevados, os desejos da mente, e depois passe a ter desejos mais elevados, os desejos do coração, e destes finalmente para o estado de ausência de desejos. Nenhum desejo pode jamais ser satisfeito. Esta é a diferença entre a abordagem científica e a abordagem religiosa. A ciência tenta satisfazer seus desejos, e é claro que a ciência conseguiu obter sucesso em muitas coisas, mas o homem continua na mesma infelicidade. A religião tenta despertá-lo para esse grande entendimento a partir do qual você pode enxergar que todos os desejos são intrinsecamente impossíveis de serem satisfeitos.

A pessoa tem de ir além de todos os desejos; só então haverá o contentamento. O contentamento não está no fim de um desejo, o contentamento não vai existir pela satisfação do desejo, porque o desejo não pode ser satisfeito. Quando você conseguir a satisfação de seu desejo, verá que outros mil e um desejos aparecem. Cada desejo se subdivide em muitos novos desejos. E repetidas vezes isso vai acontecer, e toda a sua vida será desperdiçada.

Aqueles que conheceram, aqueles que viram, os budas os acordados, todos concordaram em um ponto. Não é algo filosófico, é factual: o contentamento só existe quando todos os desejos foram abandonados. É com a ausência dos desejos que o contentamento surge dentro de você - na ausência. Na verdade, a própria ausência dos desejos é o contentamento, sua satisfação, sua fruição, seu florescimento.

Assim, passe dos desejos mais inferiores para os mais elevados, dos desejos mais grosseiros para os mais sutis, e depois para os mais sutis ainda, porque a partir do mais sutil o salto será para a ausência de desejos. A ausência de desejo é o nirvana.

Nirvana, é uma das mais belas palavras; qualquer língua pode se orgulhar dessa palavra. Ela tem dois significados, mais esses dois significados são como dois lados da mesma moeda. Um significado é a cessação do ego, e o outro é cessação dos desejos. Isso acontece de maneira simultânea. O ego e os desejos estão intrinsecamente juntos, são totalmente inseparáveis. No momento em que o ego morre, o desejo desaparece, ou vice-versa. No momento em que os desejos são transcendidos, o ego é transcendido.E não ter desejo é estar desprovido de ego, é saber que a bem-aventurança fundamental é conhecer o êxtase eterno que começa, mas nunca termina."

Osho em A jornada de ser humano.

http://ventosdepaz.blogspot.pt/

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