Perdoar-se
significa a absolvição de qualquer culpa, ressentimento ou recriminação
que cultivamos contra nós mesmos. Na infância, a maioria de nós passou
por momentos difíceis mesmo que não tenhamos feito nada errado, e
tomamos a decisão inconsciente de que a culpa era nossa. Éramos
“vítimas” inocentes que continuaram a se culpar até que se tornaram os
vitimadores. Vestimos o capuz de algozes, passamos a não ver mais com
clareza a fronteira entre o que era nosso e o que não era e não
conseguimos mais fazer essa distinção. Éramos aqueles que se
responsabilizavam por coisas que nem mesmo tínhamos feito e depois
usávamos essas coisas para nos martirizar, repetidas vezes. Muitas
pessoas após muitos anos, continuam condenando-se por coisas que não
fizeram ou que estavam além do seu controle, como o comportamento de
outras pessoas. Nós nos culpamos por termos sido molestados,
abandonados, enganados, traídos, passados para trás ou trapaceados. Já é
ruim o suficiente ter culpa por coisas para as quais colaboramos, mas,
além disso, agravamos nossos sentimentos nos responsabilizando pelos
crimes dos outros.
O
auto perdão é um processo libertador que começa no momento em que
dizemos a verdade e nos tornamos suficientemente compassivos e humildes
para dizer que sentimos muito por todas as maneiras com as quais,
conscientemente ou não, nós nos ferimos e ferimos outras pessoas.
Assim
como temos que separar o pecado do pecador para perdoar aqueles que
cometeram atos de negligência, violência ou má fé contra nós, precisamos
agora separar a nossa pessoa dos atos que cometemos contra nós mesmos e
contra os outros. Agora, quero deixá-lo a par dos fatos, para o caso de
você resvalar para a negação. Todos nós já fizemos coisas que feriram
outras pessoas. Todos nós já frustramos as expectativas alheias,
proferimos palavras que abriram suas feridas, ultrapassamos os limites
de alguém, roubamos, mentimos, enganamos, fofocamos, deixamos que algo
ruim acontecesse, ocultamos a verdade, nos embebedamos e envergonhamos
aqueles que estão próximos a nós. Todos fizemos promessas que não
cumprimos, flertamos com pessoas embora fôssemos comprometidos ou
desejamos mal a alguém em nossos pensamentos. Gritamos com os nossos
filhos, rejeitamos alguém que estava profundamente apaixonado por nós ou
sonegamos impostos. Todos somos pecadores em algum sentido e, embora os
nossos crimes possam não parecer tão terríveis quanto os dos nossos
vizinhos ou das pessoas que aparecem nos noticiários, ainda precisamos
reconhecer o rancor que temos de nós mesmos por causa deles. Temos de
aprender a separar as nossas ações de quem somos como pessoas. Se não
fizermos isso, teremos que sofrer as consequências de conviver com uma
versão derrotada de nós mesmos.
Perdoar
significa abandonar o chicote com que nos açoitamos. Significa deixar
para trás todas as mensagens interiores torturantes e auto induzidas que
repetimos toda hora em nossa mente e optar pela paz em vez da dor, pela
gratidão em vez da culpa, pela solidão em vez do barulho e pelo amor em
vez da guerra. Significa perdoar-nos por todas as pessoas que ferimos,
direta ou indiretamente, e por todos os atos de violência que cometemos
contra o nosso próprio corpo, mente e psique. Significa perdoar-nos
pelos erros que cometemos, por ter expectativas e padrões altos demais e
por não sermos perfeitos, em suma, por sermos humanos. O perdão nos
convida a fazer correções internamente e depois nos perdoar pelas coisas
detestáveis e às vezes horripilantes que fizemos contra outras pessoas.
Você
pode começar dizendo à criança doce e inocente que vive dentro do seu
ser que você lamenta muito por todas as vezes que fez escolhas que não a
favoreciam, que não fez um bom julgamento e acabou prejudicando-a. Você
pode dizer a si mesmo que sente por todas as vezes que pegou coisas que
não eram suas por direito e pelas vezes em que intimidou, atormentou ou
atacou os outros. Peça a si mesmo perdão por todas as vezes em que teve
comportamentos que feriram aqueles que amava, pelas vezes em que não
teve fé e deixou que o medo guiasse as suas ações. Também é importante
que você se perdoe por todas as vezes em que vendeu a sua alma e violou
os seus próprios limites para receber o amor, o respeito e a aprovação
dos outros. Você dá início ao processo de perdão quando reconhece todas
as vezes em que fez escolhas reativas na tentativa de não ser
inconveniente ou para não sentir a dor da ação correta.
O
perdão serve para curar o seu eu emocional e acabar com a vergonha que
você carrega. Trata-se de um diálogo pessoal entre você e as partes mais
delicadas e íntimas do seu ser, uma conversa particular escrita por
você para você. É aí que a cura acontece. Quando nos perdoamos, pegamos
de volta toda energia que tínhamos dado aos outros e a redirecionamos
para o nosso próprio coração cheio de ternura. O auto perdão é o único
caminho para nos dar o amor e a compaixão que merecemos. Quando abrimos
mão dos ressentimentos e remorsos do passado, tomamos consciência da
joia radiante que somos, uma gema multifacetada cujas imperfeições
contribuem para a sua beleza única.
Você
é uma joia. Ao se tratar como uma joia inestimável diariamente será que
você vai continuar com a mesma tendência para fazer escolhas tão
desfavoráveis? Faça esta pequena experiência: trate-se como se você
fosse um pote de ouro e depois observe o que acontece no mundo exterior.
O auto perdão é um dos antídotos mais poderosos da vida para tratar a
grande dor que existe no coração do mundo.
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