O
amor e a alegria são inseparáveis do estado natural de conexão interior
com nossa Essência. Sempre que houver um espaço no fluxo dos
pensamentos, podem ocorrer lampejos de amor e alegria, ou breves
instantes de uma paz profunda. Para a maioria das pessoas, tais espaços
raramente acontecem, e mesmo assim por acaso, nas ocasiões em que a
mente fica “sem palavras”, instigada por uma beleza estonteante, uma
exaustão física extrema, ou mesmo um grande perigo. De repente se
instala uma serenidade interior. E dentro dessa serenidade existe uma
alegria sutil, mas intensa, existe amor, existe paz.
Normalmente,
tais momentos têm vida curta, pois a mente logo reassume essa atividade
barulhenta a que chamamos pensar. O amor, a alegria e a paz não
conseguem florescer, a menos que tenhamos nos livrado do domínio da
mente. Mas eu não os chamaria de emoções. Eles estão por baixo das
emoções, em um nível mais profundo. Portanto, precisamos nos tornar
plenamente conscientes de nossas emoções e sermos capazes de senti-las,
antes de sermos capazes de sentir aquilo que está além delas. A palavra
emoção significa, literalmente, “desordem”. A palavra vem do latim
emovere, que significa “movimentar”.
Amor,
alegria e paz são estados profundos da Essência, ou melhor, três
aspectos do estado de ligação com a Essência. Assim, não possuem
opositores pela simples razão de que surgem por trás da mente. As
emoções, por outro lado, sendo uma parte da mente dualística, estão
sujeitas à lei dos opostos. Isso quer dizer, simplesmente, que não se
pode ter o bom sem que haja o mau. Portanto, numa condição não iluminada
de identificação com a mente, aquilo que algumas vezes é erroneamente
chamado de alegria é o lado geralmente breve do prazer, dentro da
alternância contínua do ciclo sofrimento/prazer. O prazer sempre se
origina de alguma coisa externa a nós, ao passo que a alegria nasce do
nosso interior. A mesma coisa que proporciona prazer hoje provocará
sofrimento amanhã, ou nos abandonará, e essa ausência causará
sofrimento. Do mesmo modo, o que se costuma chamar de amor pode ser
prazeroso e excitante por um tempo, mas é um apego adicional, uma
condição de necessidade extrema, que pode vir a se transformar no
oposto, em um piscar de olhos. Muitas relações “amorosas”, passada a
euforia inicial, oscilam entre o “amor” e o ódio, a atração e a
agressão.
O
amor verdadeiro não permite que você sofra. Como poderia? Não se
transforma em ódio de repente, assim como a verdadeira alegria não se
transforma em sofrimento. Antes de atingirmos a iluminação, antes mesmo
de nos libertarmos de nossas mentes, podemos ter lampejos de alegria
autêntica, de um amor verdadeiro ou de uma profunda paz interior,
tranquila, mas intensamente viva. Esses são aspectos da nossa verdadeira
natureza, em geral obscurecida pela mente. Mesmo dentro de uma relação
“normal” de dependência, é possível haver momentos onde podemos sentir a
presença de algo genuíno, incorruptível. Mas serão somente lampejos, a
serem logo encobertos pela interferência da mente. Você poderá ficar com
a impressão de que teve alguma coisa muita valiosa, mas a perdeu, ou a
sua mente pode lhe convencer de que tudo não passou de uma ilusão. A
verdade é que não foi uma ilusão e você também não perdeu nada. Esse
algo valioso é parte de seu estado natural – pode estar encoberto, mas
nunca ser destruído pela mente. Mesmo quando o céu está totalmente
coberto, o sol não desapareceu. Ainda está lá, por trás das nuvens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário