Ensinamento dado na Sociedade Budista Chinesa, na Austrália em 24 de abril de 1975.
Aqueles que praticam meditação ou religião não devem se prender com apego a qualquer ideia.
Ideias fixas não são um fenômeno externo. Nossas mentes com frequência grudam em que coisas que parecem boas, mas isso pode ser extremamente perigoso. Nós aceitamos muito facilmente coisas que achamos serem boas: “Oh, meditação é muito bom.” É claro, meditar é bom se você entende o que ela é e a pratica corretamente; você pode definitivamente encontrar respostas para questões sobre a vida. O que eu estou dizendo é que o que quer que você faça no campo da filosofia, doutrina ou religião, não se agarre a ideias; não seja apegado a seu caminho.
De novo, eu não estou falando sobre objetos externos; eu estou falando sobre fenômenos internos, psicológicos. Eu estou falando sobre desenvolver uma mente saudável, desenvolver o que o Budismo chama de compreensão-sabedoria indestrutível.
Algumas pessoas apreciam suas meditações e a satisfação que ela traz mas ao mesmo tempo se prendem fortemente à ideia intelectual disso: “Oh, meditação é tão perfeita para mim.” É a melhor coisa no mundo. Eu estou conseguindo resultados. Eu estou tão feliz.” Mas como eles reagem se alguém desmerece a prática deles? Se eles não ficarem incomodados, isso é fantástico. Isso mostra que eles estão realizando suas práticas religiosas ou meditativas propriamente.
De forma similar, você pode ter uma grande devoção à Deus ou Buda ou alguma coisa baseada em uma compreensão profunda e uma grande experiência e estar cem por cento certo do que você está fazendo, mas se você tem o mínimo de apego às suas ideias, se alguém diz, “Você é devoto de Buda? O Buda é um porco!” ou “Você acredita em Deus? Deus é pior que um cão!” Você vai sair do sério completamente. Palavras não tornam o Buda num porco ou Deus num cachorro, mas mesmo assim, seu apego, sua mente idealista surta totalmente: “Oh, Eu estou tão ofendido! Como você ousa dizer coisas assim?”
Não importa o que qualquer um diga – Buda é bom, Buda é mal – a natureza característica absolutamente indestrutível do Buda permanece intocada. Ninguém pode aumentar ou diminuir o valor. É exatamente a mesma coisa quando as pessoas dizem que você é bom ou mau; independente do que eles dizem, você permanece o mesmo. As palavras alheias não podem mudar sua realidade. Por isso, por que você tem altos e baixos quando as pessoas de elogiam ou te criticam? É por causa do seu apego; sua mente que se agarra; suas ideias fixas. Faça o possível para estar ciente disso.
Verifique. É muito interessante. Cheque sua psicologia. Como você reage se alguém te diz que todo o seu caminho é errado? Se você verdadeiramente entende a natureza de sua mente, você jamais reagirá a esse tipo de coisa, mas se você não entende sua própria psicologia, se você se alucina e é facilmente magoado, você irá rapidamente se deparar com sua paz mental perturbada. Isso são somente palavras, ideias, mas você é tão facilmente incomodado.
Nossas mentes são incríveis. Nossos altos e baixos não tem nada a ver com a realidade, nada a ver com a verdade. É muito importante entender a psicologia disso.
É comum para nós pensar que nosso próprio caminho e ideias são boas, possuem valor e são perfeitas, mas ao focar-se excessivamente nisso, nós inconscientemente pomos pra baixo outros caminhos e ideias.
Talvez eu pense, “Amarelo é uma cor fantástica,” e eu explique a você em grandes detalhes como o amarelo é bom. Então, por causa de todas as minhas razões lógicas, você também começa a pensar, “Amarelo é bom; amarelo é a cor perfeita.” Mas isso automaticamente causa crenças contraditórias, “Azul não é tão bom; vermelho não é tão bom,” surgirem na sua mente.
Há duas coisas em conflito uma com a outra. Isso é comum, mas é um erro, especialmente quando tem a ver com religião. Nós não deveríamos permitir tais contradições em nossa mente onde ao aceitar uma coisa, nós automaticamente rejeitamos outra. Se você verificar, você verá que não é que você esteja cegamente seguindo algo externo mas que sua mente é muito extrema em uma direção. Isso automaticamente coloca o outro extremo em oposição, e conflito entre os dois desequilibra sua mente e perturba sua paz interior.
Isso é como o partidarismo religioso surge. Você diz, “Eu pertenço à esta religião,” e quando você se encontra com outra pessoa pertencente a outra, você se sente inseguro. Isso quer dizer que sua compreensão-sabedoria esta fraca. Você não entende a verdadeira natureza de sua mente e se prende a um ponto de vista extremo. Não permita que sua mente fique poluída dessa maneira; tenha certeza que você está mentalmente saudável. Acima de tudo, o propósito da prática da religião, Budismo, Dharma, meditação ou qualquer outra coisa que você queira chamar é para que você direcione sua mente para completamente além de atitudes mentais contraditórias e doentias.
O próprio Buda incentivou seus alunos a praticarem sem apego. Apesar dele ter ensinado um método preciso e incrivelmente universal, ele fez seus alunos prometerem não serem apegados a seus ensinamentos, ou a realizações, paz interna, nirvana ou a própria iluminação.
Alcançar libertação do apego é uma coisa muito difícil, especialmente em uma sociedade materialista. É quase impossível para você lidar com coisas materiais sem apego e isso faz com que você traga uma atitude de apego com relação a assuntos espirituais. Mas mesmo que seja difícil, você precisa verificar como a psicologia de Buda oferece a você uma saúde mental perfeita, livre de extremos disso ou daquilo.
Em nossa vida ordinária, samsárica, mundana, nós tão facilmente ficamos apegados e presos a coisas que gostamos, e ninguém jamais nos diz para evitar o apego. Mas Buda, mesmo que ele tendo oferecido a seus alunos o método mais elevado para alcançar as qualidades mais elevadas , ele sempre alertou seus alunos a nunca serem apegados a nada disso. Ele disse “Se você tem o mínimo apego a mim ou a meus ensinamentos, você não esta somente psicologicamente mal mas você também ira destruir qualquer chance que você tenha de alcançar uma iluminação completa e perfeita.
Além disso, ele jamais disse às pessoas para serem favoráveis a seu caminho ou que seguir seu caminho era bom e seguir o caminho de outros era ruim. De fato, um dos votos bodhisattva que ele fez seus seguidores tomarem é a promessa de não criticar os ensinamentos de outras religiões. Confira porque ele fez isso; isso mostra o quão perfeitamente ele entendeu a psicologia humana. Se fosse um de nós, nós estaríamos dizendo, “eu estou ensinando o mais supremo e perfeito método. Todos os outros não são nada.” Nós tratamos o caminho espiritual na exata maneira competitiva que nós tratamos buscas materiais, e se nós continuamos agindo dessa maneira, nós nunca seremos mentalmente saudáveis ou descobriremos o nirvana, ou iluminação pacífica e duradoura. O que, então, é o ponto de nossa prática espiritual?
Verifique. Mesmo em suas atividades e relações samsáricas e mundanas, o momento que você tem uma ideia ou escolhe alguma coisa, “isso é tão bom,” uma contradição automaticamente vem à sua mente. Quando você está amando da maneira mundana, egoísta, cheque para ver se sua mente é muito extremista ou não; você irá descobrir se é ou não.
De forma similar, você deve também evitar extremos ao praticar seu caminho espiritual. É claro, isso não deve impedir que você pratique Dharma, ou meditação; você ainda tem que agir. Apenas pratique de acordo com seu nível de compreensão.
Isso também não significa que sua mente deva se fechar completamente para outras religiões. Você pode estudar qualquer religião; você pode verificar. O problema ocorre quando você escolhe uma religião particular, e fica muito extremo nela e então despreza as outras religiões e filosofias. Isso acontece porque você não sabe o propósito da religião, o porque dela existir e como praticar. Se você soubesse, você jamais se sentiria inseguro sobre outras religiões. Não saber a natureza das outras religiões ou o propósito delas faz com que você sinta medo de praticantes de outros caminhos. Se você entende que a mente de diferentes pessoas necessita de métodos e soluções diferentes, você verá o porquê de haver uma necessidade por tantas religiões.
É realmente válido para você entender esta psicologia básica. Então, mesmo em sua vida diária, quando as pessoas dizem que você é bom ou mau, você não terá altos e baixos; você irá saber que não é o que as pessoas dizem ou falam que fazem você bom ou mau. Se, entretanto, você se encontrar tendo altos e baixos pelo que as pessoas dizem, você deve reconhecer que isso está acontecendo porque sua mente está poluída; você não está vendo a realidade. Por causa disso, seus pensamentos relativos, mundanos estão taxando coisas como boas ou más e sua mente está em resposta tendo altos e baixos. Seus altos e baixos surgem quando sua mente faz com que você acredite que tais coisas são realmente boas ou ruins. Isso é porque você tem altos e baixos.
Se você se recusa a acreditar nesta visão superficial, não haverá mais razão para você ter altos e baixos quando alguém diz “bom” ou “ruim.” Palavras não são a realidade; ideias não são realidade. Esqueça a natureza definitiva de sua mente; Se você entende mesmo a natureza relativa dela, não há forma de alguém fazer você ter altos e baixos com o que eles dizem. Mesmo com esse nível mais superficial de compreensão, você descobre um grau de verdade dentro de você mesmo.
Uma grande quantidade de nosso sofrimento surge porque nós estamos em conflito sobre reputação. Ao invés de estar preocupado sobre a realidade de o que nós somos, nós estamos preocupados com o que outras pessoas pensam sobre nós. Nós olhamos muito para fora. Isso é incrível. Até onde o Budismo trabalha, isso é uma mente doente; totalmente, clinicamente doente.
É claro, psicólogos ocidentais não consideram isso como uma doença mental. A terminologia deles é diferente. Porque existe essa diferença? É porque a abordagem de Buda nos ensina a buscar o maior objetivo de todos – uma paz mental duradoura, interna e indestrutível – e somente quando realizamos esse nível mental que o Budismo não nos considera doentes. Antes disso, nossa mente é suscetível a altos e baixos e portanto ainda doente, e nós precisamos de mais remédio; meditação, prática do Dharma ou qualquer nome que você queira chamar isso. Essa é uma psicologia verdadeiramente profunda.
Psicólogos ocidentais estão safisfeitos que você não esteja clinicamente doente se você está bem o suficiente para conduzir seus afazeres diários, para comunicar-se com seus amigos e assim por diante. Eles são mais ou menos assim, “Ok, você pode ir agora!” Eles são facilmente satisfeitos. Mas o psicólogo supremo, Buda, olha mais profundamente. Ele vê o que está acontecendo no mais profundo inconsciente. Psicólogos ocidentais estão orgulhosos das conquistas da psicologia mas é necessário dizer que, apesar de terem feito muitos avanços, com respeito a entender a natureza da mente inconsciente, eles ainda tem um longo caminho a seguir. Eu li isso num livro de psicologia.
De qualquer forma, a realidade é que você fica apegado a qualquer ideia que você ache ser boa, então mesmo que os ensinamentos de seu caminho espiritual possam ser de fatos bons, tente praticá-los sem apego.
Algumas vezes você vê pessoas cujas crenças são tão extremas, ficam nas ruas distribuindo literatura religiosa. Mesmo que você esteja muito ocupado, correndo para algum lugar, eles te param: “Ei, leia isso.” Eles querem tanto espalhar a ideia deles que eles até mesmo pregam em shopping centers e outros lugares. Isso é bem extremo. Não é necessário fazer isso. A mente precisa de tempo para absorver qualquer ideia. Se você realmente quer ensinar alguma coisa para alguém, você tem que esperar até que a pessoa esteja pronta e então faça isso. Se a mente de alguém não está pronta, você não deveria tentar empurrar suas ideias religiosas para aquela pessoa, não importa o quão forte seja sua crença nelas. É como dar uma jóia preciosa para uma pessoa prestes a morrer.
Muitas religiões ensinam a importância do amor universal, mas a questão é, como desenvolver isso dentro de você mesmo. Você não pode concretizar amor universal simplesmente recitando “amor universal, amor universal, amor universal.” Portanto, como você alcança essa realização?
De acordo com Buda, o primeiro passo é desenvolver uma mente equilibrada em direção a todos os seres vivos; antes que você consiga alcançar amor universal, você tem que sentir equilíbrio com todos os seres vivos no universo. Por isso, a primeira coisa a fazer é treinar o equilíbrio. Você estaria sonhando se você pensasse que pode desenvolver amor universal sem isso.
Por outro lado, você acha que amor universal é uma ideia maravilhosa, mas ao mesmo tempo é fanático sobre a religião que você adotou. Você tem a ideia fixa, “Essa é a minha religião.” Quando alguém de outra fé fica perto, você se sente desconfortável; há conflito em sua mente. Então onde está seu amor universal? Apesar de você achar que isso é fantástico, você não consegue manifestar porque sua mente está desiquilibrada. Para que amor universal apareça em sua mente, você tem que desenvolver o sentimento de equilibro com todos os seres no universo.
Mas é mais fácil falar do que fazer isso, por isso talvez eu devesse explicar como desenvolver equilíbrio. Nós desenvolvemos equilíbrio ao sentarmos em meditação. Visualize em frente de você uma pessoa que te faz ficar agitado; alguém que você não goste. Visualize atrás de você a pessoa com quem você tem mais apego. E visualize ao redor de você as pessoas com quem você se sente indiferente; aqueles que não são amigos, parentes ou inimigos. Olhe pare estas três classes de pessoa – amigo, inimigo e estranho – e medite; veja como você se sente sobre cada um. Quando você olha para um amigo querido, uma sensação de apego aparece; você quer ir naquela direção. Quando você olha para a pessoa que te magoa ou que te incomoda, você quer se distanciar; você rejeita aquela pessoa.
Essa é uma forma muito simples de checar como você se sente sobre diferentes pessoas; não é tão complicado. Somente visualize-as e veja como você se sente. Então pergunte a si mesmo, “Porque eu sinto coisas diferentes sobre pessoas diferentes? Por que eu quero ajudar a pessoa que eu gosto e não aquela que eu odeio?” Se você for honesto, você irá descobrir que suas respostas são reações completamente irracionais de uma mente deludida.
Isso quer dizer é que você não entende realmente a natureza impermanente das relações humanas. Aqueles que conhecem a real e verdadeira natureza da mente humana entendem que relacionamentos são completamente mutáveis e que não há tal coisa como uma relação permanente; é impossível. Apesar que você gostaria disso. Mas confira toda a história da vida na Terra, do momento em que ela começou até agora: onde está este relacionamento permanente? Quando já ocorreu uma relação permanente sequer? Ela ainda deveria estar aqui. Mas ela não está, não existe tal coisa.
Mais ainda, seu julgamento de pessoas como amigos, inimigos ou estranhos é um conceito equivocado. Para começar, esse julgamento é baseado em razões totalmente ilógicas. Independente de suas razões, seus sentimentos de “Eu gosto dele, eu não gosto dela” são totalmente ilógicos. Eles não tem absolutamente nada a ver com a verdadeira natureza tanto do sujeito quanto do objeto.
Ao julgar as pessoas da maneira como você faz, você é como uma pessoa que tem duas pessoas extremamente sedentas vindo à sua porta implorando por água, e então você arbitrariamente escolhe uma, “Você, por favor entre,” e rejeitando a outra: “Você, vá embora.” É exatamente assim que você é. Se você realmente verificar, com introspecção conhecimento e sabedoria, você verá que seu julgamento de bom e mal vem da preocupação unicamente por seu próprio prazer auto-centrado e nunca pelo bem estar de outros.
Verifique você mesmo: visualize todos os seres vivos universais ao seu redor e perceba que igualmente, assim como você, todos eles querem felicidade e não querem infelicidade. Por isso, não há razão para fazer a distinção psicológica entre amigo e inimigo, querendo ajudar o amigo com apego extremo, e querendo abandonar o inimigo incômodo e gerador de conflito com extremo desgosto. Esse tipo de mente é completamente não realista, já que como a mente humana insatisfeita tem altos e baixos, esses tipos de relacionamentos naturalmente mudam.
Mesmo se você realmente quisesse se sentir irritado com alguém, é com a mente deludida daquela pessoa que você deveria estar chateado, não com seu corpo físico. A mente dele está descontrolada; ele não tem escolha. Quando ele ataca você, ele está sendo levado por um apego ou raiva descontrolados; é disso que você deveria estar com raiva.
Se alguém te atropela com um carro, você não fica com raiva do carro, não é? Você fica chateado com o motorista. É exatamente a mesma coisa. O motorista interior é a mente insatisfeita da pessoa, não os sintomas de suas emoções. Por isso, não é do próprio inimigo mas sim das delusões que você deveria sentir raiva. O que uma pessoa diz ou faz é simplesmente um sintoma do que está na mente dele.
De qualquer forma, essa é a abordagem para se desenvolver equilíbrio, e quanto mais você praticá-la, mais você irá perceber que na realidade, não há razão para distinguir seres sencientes entre amigo, inimigo e estranho baseado nos extremos de apego e ódio; somente uma mente que não está saudável faz assim. E quando você realmente experimentar equilíbrio, você ficará maravilhado em como a sua visão sobre inimigos vai mudar. A pessoa que o deixou agitado e incomodado aparecerá completamente diferente – não porque ele mudou mas porque a sua mente mudou; você mudou sua própria percepção. Isso não é um conto de fadas; isso é realidade.
Quando você muda sua atitude, sua visão do mundo dos sentidos muda da mesma maneira. Quando sua mente está enevoada, o mundo ao seu redor parece em névoas; quando sua mente está límpida, o mundo ao seu redor parece belo. Você sabe disso a partir de sua própria experiência. Sua visão do mundo vem de sua mente; é um reflexo de sua mente. Não há uma coisa permanente e perfeitamente boa no mundo. Onde você poderia encontrar tal coisa? É impossível.
Você tem que conhecer sua própria psicologia, como sua mente funciona, como você discrimina seres sencientes por causa de razões ilógicas e não realistas. Por isso, você precisa meditar. Para descobrir o amor universal dentro de sua mente, você tem que desenvolver um sentimento de equilíbrio em relação a todos os seres viventes no universo. Assim que você desenvolver equilíbrio, você não tem que se preocupar com amor universal; ele virá automaticamente. É assim a maneira como a psicologia humana funciona. Não é algo que você seja capaz de forçar: “oh, amor universal. Eu me torno você, você se torna eu.” O que é isso? Não pense dessa forma.
Quando sua mente está em equilíbrio com um sentimento idêntico por todos os seres viventes, você automaticamente será feliz. Você não tem que dizer, “Eu preciso ser feliz.” Você automaticamente será pacífico e feliz, e mais ainda, seu corpo e sua foz irão gerar uma vibração pacífica que irá automaticamente beneficiar os outros, além das palavras. Para qualquer lugar que você for, vibrações estarão com você. Mas é impossível atingir esse nível sem meditação. Sem meditar, você não consegue livrar qualquer apego que seja, seja espiritual ou material e menos ainda ser capaz de experimentar amor universal.
A abordagem Mahayana de levar a mente à iluminação é gradual. Como foi visto, como um pré requisito para desenvolver amor universal, nós primeiro temos que desenvolver equilíbrio. Baseado nisso, nós geramos a mente iluminada do bodhisattva, bodhicitta, e assim feito, nosso dever é concretizar as seis perfeições da caridade, moralidade, paciência, energia constante, concentração e sabedoria.
Todas as religiões enfatizam a importância da caridade, mas a abordagem de Buda difere da maioria pois o que ele explica é principalmente o aspecto psicológico de doar e não está tão interessada nas questões externas disso. Por que? Porque a perfeição de doar e oferecer é concretizada somente quando nós livramos completamente a mente do apego que traz miséria, e isso é uma coisa puramente mental.
Muitas pessoas pensam, com arrogância e orgulho, que elas são religiosas porque elas doam um monte de coisas materiais, mas isso é muito superficial. Tais pessoas não tem ideia nenhuma da essência da caridade; somente uma noção vaga de que caridade é uma coisa boa. Eles na verdade não sabem o que ela é. Engajar-se na prática da caridade do bodhisattva é algo muito difícil; isso deve ser feito sem qualquer traço de avareza.
Muitas pessoas doam com orgulho e apego. Isso não é caridade; é somente ego e, basicamente, não uma virtude. A prática da caridade do boddhisatva – ou, em fato, qualquer das seis perfeições – tem que incluir as outras cinco. Em outras palavras, caridade deve ser praticada juntamente com moralidade, paciência, energia, concentração e sabedoria – especialmente esta última. Nós precisamos ter uma compreensão profunda da vacuidade, na qual nós chamamos o círculo dos três: vazio do objeto que nós estamos doando, da ação de doar e do recebedor de nosso presente. Se nós doarmos sem tal compreensão, essa doação não é benéfica nem perfeita e, mais ainda, pode trazer uma reação conflituosa.
Por exemplo, se nós não estamos livres do apego, é possível que nós doemos algo para alguém hoje, e amanhã estar pensando, “Eu queria não ter dado a ele aquilo; agora eu preciso daquilo.” Esse tipo de doação não tem nada a ver com religião.
É possível vermos pessoas fazendo caridade e pensarmos o quão maravilhosamente generosos eles são, mas tudo o que vemos é a ação externa. Nós não vemos a motivação interna deles, a qual pode ser totalmente frenética e egoísta. A definição verdadeira de doação religiosa é feita observando a atitude mental do doador, não as suas ações físicas.
Se o seu oferecer enfraquece suas atitudes negativas perturbadoras e traz mais paz e compreensão para a sua mente, é religiosa, mas se isso serve meramente para aumentar suas ilusões, é melhor que você não faça caridade, não importa como isso apareça pelo lado de fora. Porque fazer algo que agita mais ainda a sua mente já agitada? Seja realista; saiba o que você está fazendo.
Se você faz sua prática espiritual com compreensão, isso terá realmente valor e eficácia e trará os resultados que você busca.
Mesmo simplesmente sentindo equilíbrio com todos os seres viventes – sem discriminar os outros como sendo amigo, inimigo e estranho – pode trazer a você uma grande felicidade e libertação da insegurança.
Nós com freqüencia nos sentimos incomodados pelos outros, mas nós temos que perceber que vê-los como inimigos vem de nós, não deles. Não existe tal coisa como já nascido inimigo. Nós que criamos tudo isso. Não há tal coisa como mal permanente. O mal verdadeiro é a mente negativa que projeta o mal para fora; uma mente positiva irá taxar a mesma coisa de bom. As coisas sempre mudam; mal permanente é totalmente não existente.
Além disso, quando nós estamos deprimidos, nós pensamos “Eu sou mau, eu sou negativo, eu sou pecador,” mas isso é uma completa bobagem; é um extremo exagerado. Nós temos tanto o positivo quanto o negativo dentro de nós; é simplesmente uma questão de qual é o mais forte em um certo momento. É isso o que nós temos que checar. Por isso, quando a nossa mente nos dá problemas, é um sinal de que nós estamos pensando em extremos.
Ai é quando a meditação vêm a cena. Meditação quer dizer investigar a mente para ver o que está acontecendo. Quando nós fazemos isso adequadamente, nós purificamos e trazemos paz para nossa mente desequilibrada. Essa é a função da meditação; essa é a função da religião. Por isso, nós deveríamos meditar tão corretamente quanto for possível.
Uma coisa a se evitar no caminho espiritual é se jogar em ideias. Ao invés disso, tente encontrar a chave para por ideias para dentro de sua experiência. Experimentar o significado delas é muito mais importante do que as ideias em si mesmas. Por exemplo, nós não deveríamos fazer caridade com coisas que pertencem a outras pessoas, como nossa família e amigos. Eu ouço com frequencia pessoas jovens pegando coisas de seus pais, como as jóias da mãe, e doando-as para mendingos nas ruas.
Isso é estranho; isso não é caridade. E eu tenho sido frequentemente questionado se é certo roubar dos ricos para dar aos pobres. Isso também não é caridade.
A compreensão corriqueira de caridade é doar coisas para os outros, mas como você pode ver, o ponto de vista budista é que doações materiais não são necessariamente caridade. A verdadeira caridade tem a ver com a mente; doar mentalmente. A prática de doar é treinar a mente para superar a avareza. O apego avarento está na mente, por isso, o antídoto também deve ser mental.
Outra coisa é que, quando se trata de doar, às vezes nós somos extremistas. Nós não checamos para ver se recebedor precisa daquilo que estamos doando; nós simplesmente doamos sem hesitação. Porém, algumas vezes isso pode não ser benéfico; em tais casos, é melhor não doar. Se o que você doa cria problemas e, ao invés de ser ajudado, o recebedor sofre algum prejuízo, isso não é caridade. Você acha que sua ação é positiva, mas ela é negativa.
Se você realmente checa profundamente o que é a verdadeira caridade, você irá provavelmente descobrir que em sua vida toda você nunca fez, nem uma vez sequer, um ato de caridade. Você realmente checou as necessidades do recebedor? Você gerou a motivação certa antes de doar? Você realizou a ação com meditação sobre o círculo dos três? E se você doou com orgulho, então não importa o quão grande foi seu presente, ele foi desperdiçado; a sua doação foi uma piada.
Por isso você pode ver o quão difícil a caridade perfeita pode ser. Eu não estou simplesmente sendo negativo; Eu estou sendo realista. Tenha certeza de que o que quer que você faça tenha valor. Se você pratica com compreensão, isso pode ser poderoso e psicologicamente efetivo, ter sentido real e, sem dúvidas, trazer as realizações pacíficas que você deseja. Por outro lado, se você faz suas práticas de qualquer jeito e sem compreensão, tudo o que você vai conseguir é ficar deprimido.
Por isso, não pense que caridade é física – ela é mental. Caridade é transformar a mente para e livrá-la do apego avarento. Isso é fantástico. É meditação, um estado psicológico da mente e muito efetivo.
Você também deveria evitar fazer caridade de coisas que machucam os outros. Por exemplo, você não deveria doar para campanhas de guerra. Algumas vezes é possível que você seja solicitado a doar dinheiro para as pessoas lutando em nome da religião, mas como apoiar a guerra pode ser espiritual? É impossível. Você tem que checar cuidadosamente se a sua doação de caridade não está trazendo danos.
É extremamente difícil praticar o Dharma de tal forma que ele diminua suas ilusões, mas se você consegue, é a coisa mais valorosa de todas; isso irá realmente sacudir o seu ego. Mesmo um pequeno ato de doação de caridade motivado pela intenção de concretizar uma iluminação duradoura e pacífica pode ser incrivelmente efetivo e realmente despedaçar seu apego.
Existem três tipos de caridade: doação de objetos materiais, doação de conhecimento-sabedoria e salvar outras pessoas de perigos. Você deveria fazer qualquer um desses que você puder, com tanta compreensão quanto for possível, de acordo com sua habilidade.
A meta definitiva da caridade é a iluminação perfeita, por isso você deveria dedicar seus atos de caridade para este objetivo. Mas nós não fazemos isso, fazemos? Se alguém está com frio, nós somente jogamos um cobertor – Quente o bastante? Ok, ótimo.” e deixar por isso mesmo. Se alguém está com sede, nós simplesmente damos uma bebida – “Matou a sede? Ok, ótimo.” e isso é o fim da história. Nossas metas são tão temporais e de curta visão que o nosso doar torna-se somente outra viagem material. Nossa compreensão sobre a caridade é muito superficial. Ao invés disso, nós deveríamos ajudar os outros com necessidades temporais com a compreensão de que para alcançar iluminação, eles precisam de uma mente e corpo sadios, e doar para ajudar a prática do Dharma deles, dedicando nosso mérito para a iluminação de todos os seres sencientes.
Eu não estou sendo negativo; Eu estou falando sobre o jeito como nós somos. E eu estou certo que se você pratica adequadamente, você pode definitivamente alcançar uma iluminação duradoura e pacífica. Mas mesmo esquecendo sobre isso, se você praticar direito hoje, amanhã você irá ficar automaticamente mais pacífico; se você medita corretamente pela manhã, o seu dia todo será mais fluído. Você pode facilmente experimentar a verdade disso. Entretando, atingir iluminação através da meditação, da prática das seis perfeições e o avanço através dos dez estados do bodhisattva é um processo gradual.
Quando finalmente despertarmos, nós não mais teremos sentimentos de parcialidade. Se Buda tivesse uma pessoa furiosamente apunhalando seu braço direito com uma faca e outra devotadamente ungisse seu braço esquerdo com óleo, ele não teria ódio por um e um desejo de apego pelo outro. Ele iria sentir amor idêntico pelos dois – o amor que uma pessoa iluminada sente pelos outros é universal e completamente imparcial.
Nosso amor, entretanto, é completamente egoísta. Nós nos apegamos a pessoas que são boas conosco e não gostamos daqueles que nos tratam mal. Nossas mentes são extremamente desequilibradas.
Minha conclusão é que não deveríamos ser apegados a coisa alguma, nem mesmo nossa religião, muito menos em coisas materiais. Nós deveríamos praticar nosso caminho espiritual entendendo a realidade dele e como ele se relaciona conosco como indivíduos. Essa é a forma de descobrir amor universal, livre de sentimentos inseguros e partidários tais como, “Eu sou budista,” “Eu sou cristão,” “Eu sou hindu” ou qualquer outra coisa. Não importa o que nós somos; cada um de nós tem que encontrar o caminho que sirva para nós como indivíduos.
Algumas pessoas gostam de arroz; outras gostam de batatas; outras gostam de alguma outra coisa. Deixe que as pessoas comam o que quiserem, o que quer que satisfaça seus corpos. Você não pode dizer, “Eu não gosto de arroz; ninguém deveria comer arroz.” É a mesma coisa com religião.
Se você tem esse tipo de compreensão, você nunca irá ser contra qualquer religião. Pessoas diferente precisam de caminhos diferentes. Deixe-os fazer o que eles precisam fazer. Mas infelizmente, nossas mentes limitadas não são tão relaxadas assim. Nós pensamos, “minha religião é a melhor, o único caminho. Todas as outras estão erradas.” Manter tais pré concepções fixas quer dizer que nós estamos doentes. Não são as religiões que estão com problemas; são seus seguidores. Por isso, se você quer ser psicologicamente saudável, entenda o seu caminho e aja corretamente e realizações surgirão naturalmente a seu tempo.
Agora, antes que eu termine, eu quero deixar algo muito claro. Eu não estou criticando ninguém; Eu não estou colocando a prática de ninguém para baixo. Mas hoje em dia, a maioria de nós cresce em sociedades que não oferecem muitas oportunidades para o estudo sério e a prática da religião. Por isso, é importante que quando você pratica o Dharma, você assim faz adequadamente e não transforme sua prática em somente outra perseguição mundana. O mundo moderno acredita que o desenvolvimento material é extremamente importante e dá um pouca atenção ao desenvolvimento de uma mente pacífica. É claro, se alguém realmente perguntar a você, “Você acha que o caminho espiritual é importante?” você vá dizer, “Sim, mas…” Sempre há um “mas, mas, mas” envolvido. Isso mostra como nós realmente estamos.
Se nós não tivermos muitos monges na época e lugar em que nascemos, isso é resultado de carma ruim?
Lama: Eu não acho isso. É a mesma coisa que dizer que é um carma ruim não ser um monge. Não é bem assim. Você não tem que ser um monge ou monja para ser sábio. Você não pode dizer que pessoas em mantos são superiores do que aqueles que não que não os usam. Você não pode julgar coisas dessa maneira. Isso é com o indivíduo, completamente. Talvez você possa dizer, entretanto, que é um carma individual ruim ver-se em uma situação em que você não consegue entender sua própria mente e atitudes mentais ou descobrir verdadeira paz interior e satisfação.
Lama, quando nós estamos praticando meditação, como nós podemos saber que o pensador e o pensamento são a mesma coisa? Que o pensador é o pensamento; que o pensador não é separado do pensamento?
Lama: Relativamente, o pensador não é o pensamento. O pensador é somente “nome” e, nesse momento, pensamento esta somente “funcionando.” Mas se você é capaz de completamente integrar você mesmo com seus pensamentos quando você está meditando, isso é uma boa experiência. Porém, do ponto de vista da verdade relativa e da compreensão científica, pessoa e pensamento são diferentes. Você não é o pensamento. Mesmo se em meditação você sente união completa com seu pensamento, ainda assim você e seu pensamento não são a mesma coisa. Apesar que no nível absoluto há unidade, relativamente há a diferença.
Além disso, quando você está tentando se concentrar em alguma coisa e outros pensamentos continuam vindo, ao invés de rejeitá-los, tentando mandá-los para longe pense: “Você é bem vindo,” e investigue esses pensamentos com conhecimento-sabedoria penetrante introspectiva, olhando para a natureza da realidade dos seus pensamentos. Pensamentos são bobos; quando você olha para eles, eles desaparecem. Eles só estão brincando; quando você os analisa, eles desaparecem. Até agora, quanto mais você tentou mandá-los embora, mais eles continuaram vindo até você. Tente recebê-los bem.
Na verdade, observar seus pensamentos é muito mais interessante do que assistir TV. TV é entediante; é a mesma coisa velha toda vez. Quando você observa sua mente, coisas incrivelmente diferentes aparecerão. Você tem uma fantástica coleção de memórias; depois de todos esses anos, mesmo memórias de infância surgem. TV nunca é tão interessante assim.
Quando você entende a maneira como a sua mente trabalha, isso é quando você começa a assumir o comando da sua mente. Você irá parar de ficar triste quando pensamentos aparecem; psicologicamente, você irá saber o que eles significam. Alguém que não tem qualquer ideia do que a mente é ou como ela funciona entra em choque quando a mente inconsciente subitamente se manifesta no nível consciente: “Oh! O que é isso?” Quando você entende sua mente e o que está nela, você espera que coisas assim aconteçam. Você entende a natureza de sua mente e tem uma solução para o lado sombrio dela. Se você pensa que você é completamente puro e então subitamente uma mente feia aparece, você surta. Porém, você também tem que entender que você não é completamente negativo. Sua mente tem tanto uma natureza positiva quanto negativa. Mas é tudo relativo, indo e vindo como as nuvens do céu. Mas abaixo de tudo isso, sua real, verdadeira natureza permanece completamente pura, imutável como o próprio céu. Por isso, ser um humano é ser poderoso; nós temos a habilidade de fazer grandes coisas porque nossa natureza fundamental é positiva.
Muitíssimo obrigado.
Sociedade Buddhista Chinesa, Sidnei, 24 de abril de 1975.
Lama Yeshe nasceu no Tibete e teve formação na distinta Sera Monastic University (Universidade do Mosteiro Sera), em Lhasa. Em 1969, juntamente com o seu discípulo, o Lama Thubten Zopa Rinpoche, começou a ensinar o Budismo aos Ocidentais no seu Mosteiro Kopan, em Katmandu, no Nepal. Em 1974, começaram a viajar por todo o mundo para espalhar o Dharma. Em 1975, criaram a Fundação para a Preservação da Tradição Mahayana: uma rede de projetos budistas que inclui mosteiros em seis países e centros de meditação em mais de trinta países.
Publicamos anteriormente aqui no site, a série de textos do Lama Yeshe, “Faça de Sua Mente um Oceano”, confira abaixo:
Parte Um: Sua mente é a sua religião
Parte Dois: Uma Abordagem budista para a Doença Mental
Parte Três: Tudo vem da mente
Parte Quatro: Faça de sua mente um oceano
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