domingo, 24 de agosto de 2014

A religião entre os Tupi-Guarani

Postado por Marcus Caldevilla em 10 julho 2014 às 15:52


A religião entre os Tupi-Guarani esta baseada na palavra. Os termos ñe’e, ayvu y ã – traduzidos geralmente como palavra, significam também “voz, falar, linguagem, idioma, alma, nome, vida, personalidade, origem”, e tem principalmente uma conotação espiritual. A palavra define as experiências da vida e como veem o transcendental. Deus é palavra. É através da palavra que se comunicam com os seres espirituais, já que estes são, essencialmente, seres do “falar”.

A palavra/alma se introduz no ser no momento do nascimento, quando procura para si um lugar no corpo da criança, oñemboapyca. A palavra circula pelo esqueleto humano, é o que a mantém em pé, o que a humaniza. A verticalidade é o que diferencia o ser humano vivo dos animais e dos mortos. Todo problema enfrentado pelo ser (doenças, inimizades, tristeza, etcc..; é causado pelo afastamento do ser da palavra divina que habita dentro de si. O papel do curador na tribo é de trazer esta palavra de volta ao ser. A morte é causada pela saída da palavra, tornando o seu uma “palavra que já não é”, ñe’engue.

A criação da palavra original e das que seriam pais e mães da humanidade se deu antes da criação da primeira terra. Deus (Nosso Pai) cria primeiramente os fundamentos da palavra, convertendo-a em sua própria divindade, e através de Sua Sabedoria criou os demais seres que o ajudariam em sua criação. A humanidade da primeira terra era constituída através da palavra divina e portadora desta sem seu âmago, e, portanto, era responsável por viver de acordo com os desígnios divinos, já que eram homens-divinos.

A humanidade atual, distante deste estado divino original, pode conferir a sua palavra o poder de voltar a se comunicar com o mundo espiritual e pedir pela sua restituição ao estado de glória, voltando ao seio de Deus. Ao contrário da espiritualidade judaico-cristã, baseada na culpa pela queda, a religiosidade tupi-guarani é baseada no direito do homem de requerer sua divindade, já que, assim como os deuses, em essência é também constituído da mesma palavra divina, bastando para isso respeitar os preceitos espirituais.

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