O mestre, recolhido em meditação, semelhava-se a uma flor de lótus em pleno desabrochar.
Ensinando, o canto da sua voz evocava o cicio da brisa nas folhagens umedecidas pelo sereno da noite.
Os discípulos, à sua volta, entemeciam-se, aprendendo a conquistar o caminho da elevação.
- Vinde comigo - propôs-lhe um dia, o homem santo - e eu vos mostrarei a Lei de Justiça trabalhando as vidas rebeldes.
"Aquele cego recupera, na sombra, o mau uso da visão em outra vida.
"Este paralítico educa as pernas que o levaram ao crime noutra existência.
"Este imbecil recompõe a mente que explorou e vilipendiou em jornada pretérita.
"Os esfaimados, que se entredevoram, nos montes de lixo, ali, buscando detritos para se alimentarem, disciplinam os estômagos viciados pelos excessos, padecendo humilhação, a fim de se recuperarem do orgulho exacerbado em experiências carnais anteriores..."
Ante o quadro comovedor, um jovem discípulo, sensibilizado pelo amor que lhe brotava na alma sonhadora, interrogou:
- Não poderiamos fazer algo em favor desses infelizes que, afinal, são nossos irmãos?
- De forma alguma - bradou o homem que sabia. - Eles resgatam e devem sofrer o mal que fizeram. Ajudá-los, seria prejudicar o cumprimento das leis... Deixemo-los e cuidemos de evoluir, em nossa meditação e abandono do mundo...
O séquito prosseguiu, e o tempo venceu o ciclo das horas.
O mestre morreu, e um dia, não obstante houvesse conhecido a técnica da reencarnação, volveu ao proscênio terrestre, sob dificuldades morais e mentais muito severas, como decorrência do egoísmo que lhe minava as fibras da alma e da indiferença pela dor do próximo, que lhe enregelava o sentimento.
*
Não basta o conhecimento, desde que lhe não siga em-pós a ação benemerente e salvadora.
A fé, portanto, abençoada, morre ou é insuficiente para salvar o homem, caso as mãos da caridade não se distendam em atividade de amor.
In "EM ALGUM LUGAR NO FUTURO", DIVALDO FRANCO, pelo Espírito EROS
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