Não importa se vamos devagar, o importante é não parar, teria dito o pensador chinês Confúcio (551ac – 479ac), para quem transportar um punhado de terra todos os dias permitiria fazer uma grande montanha. Para ele, não corrigir as nossas falhas seria o mesmo que cometer novos erros. Seus ensinamentos não conformavam uma religião, senão um guia comportamental para ser posto em prática. Consta que ensinara que cada um deveria corrigir a própria conduta antes de tentar corrigir a alheia.
A síndrome da urgência é uma doença da modernidade, apesar da sabedoria popular já nos ter prevenido sobre os seus prejuízos e os da impaciência. A pressa é inimiga da perfeição, costumávamos ouvir dos mais velhos. E para com quem tem urgência, devemos ter paciência.
O bem mais precioso da vida é o tempo que em essência é a própria vida; para ganhá-lo, seria necessário aprender a pensar, criar soluções para os problemas do dia-a-dia; idéias e pensamentos que fossem úteis a todos.
As pessoas apressadas, as que estão sempre a cobrar urgência de si e dos outros, são as que mais violentam o tempo e a vida, as que mais erram, pois fazem tudo superficialmente, apressadamente.
A natureza segue seus processos e ciclos, não tem pressa, é uma mestra exemplar.
As invenções humanas são formas de conquistar tempo livre que depois é desperdiçado por não se saber o que fazer com ele. São os paradoxos da inteligência capaz de imitar a natureza para inventar coisas maravilhosas, e depois deixar que aquelas modernidades venham destruir o próprio homem, pelo excesso de comodidade e falta do que fazer, do que pensar, no imenso tempo que sobra.
O que fazer? Como liberar-se da escravidão imposta pelos ponteiros do relógio e pela urgência? Como adiantar-se ao tempo?
A pressa é uma doença causadora de muitos erros, acidentes e desentendimentos; uma espécie de urticária psicológica que atormenta a todos, tornando as pessoas desatentas, esquecidas, ineficazes. Levam-nas a falar demais, correr demais e ser superficial.
Todos vivem muito apressados, pressionados por compromissos e horários, numa louca e absurda carreira que chega a comprometer a saúde física e psicológica. Ao fazer tudo apressadamente, desesperadamente, a qualidade do que se realiza fica comprometida; a correria leva ao automatismo, à rotina, à desatenção, ao desprezo pelos detalhes que mereceriam um olhar mais detido, cuidadoso. É como se as pessoas corressem atrás de um futuro que não chega nunca; como se almejassem um final sobre o qual elas se precipitassem sem saber qual seria este desfecho.
A rotina e a pressa são causadoras da depressão, do vazio e da tristeza. Fazer tudo sempre da mesma maneira, sem nenhuma variação ou renovação, faz fracassar a capacidade de iniciativa da inteligência submergindo o indivíduo no marasmo do tédio e na desconfortável sensação de inutilidade.
Aproveita-se o tempo fugindo da rotina, rompendo com os hábitos, as mesmices, os preconceitos. "Sejamos como os rios que renovam constantemente suas águas", escreveu certa vez González Pecotche, o criador da Logosofia.
Ao agir mecanicamente, rotineiramente, não se pensa no que se faz; vive-se distraída e esquecidamente. É necessário criar o hábito de pensar, aperfeiçoar tudo o que se faz e colocar novas atividades e novos estímulos na vida individual.
Não sejamos como Sísifo, o trágico herói mitológico condenado a realizar por toda a eternidade um trabalho inútil e sem esperança. Transformemos a vida renovando e aperfeiçoando nossos pensamentos, criando novas atividades e superando as próprias condições pessoais.
Numa cidade grande parece que todos estão a correr dos outros e de si para se entocar num fosso ou se precipitar numa depressão que os mais astutos e careiros médicos de alma não conseguem curar.
A pressa é uma fuga, incomoda hóspede psicológica, uma incompreensão, falta de conhecimento. Por detrás dela há um defeito que se chama impaciência, doença que danifica o sistema nervoso.
No livro Deficiências e Propensões do Ser Humano, González Pecotche diz que "o impaciente é um escravo do tempo; deste tempo fantasmagórico que nada tem a ver com o autêntico, que tão freqüentemente o homem dissipa em banalidades, justamente por desconhecer o seu real valor".
E o autor sugere que quem padeça dessa doença se exercite no cultivo da paciência inteligente e ativa, a que "além de infundir serenidade torna o homem compreensivo, permitindo-lhe pensar com utilidade e proveito, e estar atento às suas necessidades e deveres durante todo o tempo, curto ou largo, que abarque a espera".
Em síntese, saber esperar é o mesmo que saber viver, desde que a espera não seja a passiva, a que sempre nos faz sofrer.
Nagib Anderáos Neto
Portal Arco Iris
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