O Sermão da Montanha, é uma das citações
mais conhecidas da Bíblia. Faz parte de um dos mais belos momentos
vividos pelos discípulos na companhia de Jesus. A essência de seu
discurso envolvia a questão da ansiedade das pessoas, já naquele tempo,
com a sobrevivência, com o vestir, o ter, o exibir. Na sua palavra,
Jesus exortava os presentes no sentido de não se angustiarem tanto com
as necessidades do dia a dia. Muito sabiamente, Jesus já preparava as
pessoas daquele tempo – e dos tempos atuais – a respeito da importância
de preservar sua qualidade de vida, não permitindo a ocupação da mente
com pesos em excesso nem com uma configuração de vida super avaliada nos
valores materiais. Aliás, Jesus também deu uma certa importância às
demandas materiais de nossas vidas, deixando bem claro, porém, de que
nossa preocupação com essas coisas deveria caminhar até um certo limite.
A partir daí.........
As palavras de Jesus lastreiam também uma
afirmação de fé. No momento em que fez essa afirmação na Palestina e nos
campos, rigorosamente, não havia lírio algum. Jesus tencionava, assim,
puxar pela mente das pessoas, fazendo-as lembrar de que, apesar da
geografia árida, seca que elas tinham diante de si, existia sempre a
perspectiva de um tempo de beleza, de fartura, de provisão. Ou por
outra: mesmo quando a vida está em baixa, com predominância da dor, da
incerteza, da amargura, existe sempre a perspectiva de surgir o outro
lado da medalha, pois nada é definitivamente permanente. E, através do
bom combate, um novo tempo poderá ser alcançado. À frente de Jesus as
pessoas estavam confusas. Como "enxergar lírios belíssimos", de uma
textura exuberante, em meio à secura de um período de verão? Ou como
enxergar uma nova realidade de vida diante da escravidão materializada
na presença do domínio opressor romano?
“Olhai os lírios do campo”! Ao fazer tal
afirmativa, Jesus queria enlarguecer nossa visão, ampliar nossos
horizontes. Acordarmos. Sabe-se que no campo existem armadilhas contra a
vida. As aves de rapina, os répteis, os rigores do inverno, o calor
inclemente do verão. Os predadores, os animais de grande porte, as ervas
daninhas.... Apesar disso tudo, os lírios também surgem, emoldurando
com sua beleza uma nova realidade. O problema é quando o campo – em
síntese, na ótica de Jesus, uma alegoria da vida, do mundo – é
visualizado somente através das grossas lentes do negativismo gratuito.
Apesar de todas as adversidades da vida, há sempre a presença de algo
belo a ser visto, focalizado, priorizado. E que, diante de um vastíssimo
leque de sentimentos que a vida nos impõe, tais como o egoísmo, o
individualismo, a soberba, a arrogância, há sempre a chance de
cultivarmos o belo, o frutífero, o substancial, o edificante aqui e
agora... neste momento...
Há momentos na vida em que a mente se
fecha. O horizonte divisado vai somente um pouco além das agruras do dia
a dia. O belo da vida se perde diante da feiúra do contexto da
existência. É preciso romper essa linha divisória que demarca a tristeza
da alegria, a angústia da paz, o caos da ordem, da serenidade, da
esperança. Quando o campo da existência está recheado de abutres,
répteis e ervas daninhas, é necessário se crer que, mesmo num campo
assim, a semente do lírio está lá, latente, pronta a brotar – a se fazer
presente. A irradiar a vida com a variedade de suas cores, a emergir
bela, firme, altaneira em meio à aridez da geografia social da
atualidade. “Olhai os lírios do campo” é em sua essência uma receita
sábia de vida. Ou por outra, uma concepção ideal de vida para quem
deseja enxergar a realidade atual como algo MAIS do que um mero passar
de dias.
“Vos preocupeis demasiado pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo.” Jesus Cristo.
Fátima dos Anjos em Portal Arco Iris
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