by José Batista de Carvalho |
De
modo geral, o vício e o analfabetismo do sentir são uma via de mão dupla:
um realimenta o outro numa constante permuta energética. Ao analisarmos
profundamente o conceito de vício, constatamos que ele não é somente o uso
de tóxicos, de álcool, de produtos farmacológicos, de nicotina, ou a
prática de jogos de azar. Ele também compreende as atitudes destrutivas:
as de julgar, de seduzir, de culpar, de gastar, de mentir, de
martirizar-se, de exibir-se, e outras tantas.
Portanto,
uma criatura que se encontra sob a dependência de quaisquer substâncias,
de pessoas, de situações e de comportamentos pode ser considerada viciada.
São denominados “analfabetos do sentir” todos aqueles que não sabem
exprimir, por palavras, gestos ou atitudes, suas emoções, vivendo num mar
de conflitos por não identificarem corretamente seus sentimentos e
emoções, e torná-los distintos.
Em
resumo, aquele que é inabilitado para discernir ou avaliar claramente as
sensações internas, terá grande probabilidade de adquirir, mais dia, menos
dia, algum tipo de vício ou, no mínimo, estará sujeito a algum tipo de
vício ou no mínimo, estará sujeito a alguma dependência.
Não
somos o que os outros dizem que somos, nem somos o que pensamos que somos;
somos o que sentimos. Sofremos porque não vivemos de acordo com nossos
sentimentos e emoções, mas porque não vivemos de acordo com nossos
sentimentos e emoções, mas porque seguimos convenções fundamentadas em
regras partidárias e normas sociais que discriminam características
sexuais, éticas, culturais e religiosas.
A
Natureza não é diplomática, ela não negocia visando a defesa dos
interesses pessoais. Cada um é uma obra-prima de Deus; em vista disso, por
mais que se criem leis, elas não conseguem regulamentar os seres únicos
que somos. Os padrões da sociedade nunca conseguem abranger o âmago do
ser, porque este foge dos parâmetros que o cercam tentando limitá-lo.
A
criatura analfabeta do sentir, em princípio não tem a menor ideia de como
identificar e começar a lidar com seus sentimentos e emoções. Por isso,
solicitar a ela que diferencie as suas muitas emoções é como pedir a uma
criança de pouco meses de idade que não seja birrenta ou chorosa. Raiva,
tristeza, ansiedade, angustia, solidão, cansaço, medo, vergonha, carinho
ou amor não lhe dão a impressão de ser sensações diversificadas; para ela
todas se apresentam confusamente misturadas.
Nossos
sentimentos e emoções são tudo o que temos para perceber a luz da vida.
Não experimentá-los nem expressá-los seria o mesmo que destruirmos o elo
com nosso âmago; seria vivermos em constante ilusão, distanciados do
verdadeiro significado da vida. Sentimentos e emoções não são errados ou
impróprios; são apenas energias emocionais, e não traços de
personalidades. Não precisamos nos culpar por experimenta-los.
Afinal,
admitir medo ou raiva nos proporciona um “estado de alerta”, para que
possamos nos defender de algo ou de alguém, enquanto o medo é um mediador
favorável diante de “situações de risco.”
Por
exemplo, sentir inveja é muito diferente do agir com base nela. Não é
porque temos eventuais crises de inveja que devemos ser considerados
indivíduos “maus”; sentir inveja não é o mesmo que roubar, lesar ou causar
dano a alguém. Da mesma forma, quando registramos súbitas sensações de
compaixão e generosidade, também não podemos ser chamados de pessoas
plenamente bondosas.
Sentimentos
e emoções nos guiam e nos fornecem indicações importantes para nossa vida
de relação. Se não sentimos, não analisamos os pensamentos que os
acompanham e não sabemos o que nossa essência está tentando nos
mostrar.
Podemos
identificar sentimentos e emoções em níveis diversos de intensidade, de
acordo com nosso grau de evolução, conceituando cada um com nomenclaturas
diversificadas. A propósito, fazem parte da mesma família do impulso da
raiva: o melindre, a irritação, a mágoa, o ódio, a violência, a crueldade,
bem como a bravura, o arrebatamento, o entusiasmo, a persistência, a
determinação, a coragem.
Há
inúmeras sensações emocionais, eis algumas nuances e variações do nosso
sentir:
Tristeza
+ amor = saudade.
Tristeza
+ raiva = mágoa ou irritação.
Alegria
+ amor = ânimo.
Alegria
+ medo = ansiedade ou insegurança.
Medo
+ raiva = depressão ou desânimo.
Medo
+ tristeza = solidão.
Medo
+ alegria = vergonha.
Amor
+ medo = ciúme.
Amor
+ raiva = vingança.
Medo
+ orgulho = timidez.
Raiva
+ orgulho = desprezo.
Precisamos
começar a desenvolver nossa própria educação do sentimento, aprendendo o
que e como sentir. Tornamo-nos emocionalmente educados quando nos
permitimos sentir todas as sensações energéticas que partem do nosso
universo interno, livres de julgamentos precipitados e de qualquer
condenação, pois os sentimentos são bússolas que nos norteiam os caminhos
da vida.
Assim
como o vício e o analfabetismo do sentir andam de mãos dadas, da mesma
forma se potencializam mutualmente a sanidade mental e a educação
emocional. Para que possamos adquirir um coração apaziguado e uma mente
tranquila, devemos aprimorar nossa leitura interna, compreendendo o que os
sentimentos querem nos dizer e utilizando-os apropriadamente para cada
fato ou situação, devemos aprender a escutá-los adequadamente.
Olhamos
e admiramos o Universo a um só tempo com nossas percepções interiores. O
valor real de um sentimento ou emoção pode ser aferido pela constância,
determinação e hábito que revelamos para interpretá-los.
Hammed
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