sábado, 21 de dezembro de 2013

Decepção com as pessoas

 Há muito tempo, havia um monge diferente dos demais.
Ele não permanecia trancado no mosteiro apenas fazendo orações. Sempre que suas obrigações lhe permitiam, ele fazia longos discursos sobre a importância de que diminuírem as injustiças sociais entre as pessoas. “Não há justificativas nas escrituras para a existência de homens ricos e homens pobres”, dizia ele. 
 Após algum tempo de pregação, multidões compareciam aos seus discursos, e isso começou a preocupar os poderosos da região. Os ricos temiam uma revolta popular e a perda de seus bens. Resolveram então que seria melhor calar o monge. 
Um grupo de comerciantes muito ricos ofereceram propina ao líder do mosteiro onde o monge vivia, e pediram que o expulsasse de lá. O líder se deixou levar pela cobiça e pediu ao monge que se retirasse. Mas o monge não desistiu, reuniu um grupo de ajudantes, que também eram monges, e começou a construir um outro mosteiro. 
Os comerciantes então ofereceram rios de dinheiro aos monges, que se vergaram ao poder material e largaram suas tarefas, abandonando o monge. O monge então resolveu tocar sozinho a construção do novo mosteiro e continuou suas pregações por justiça social. 
Certo dia foi cercado por um grupo de brutamontes que o espancaram até deixá-lo prostrado no chão, desacordado. O religioso precisou de alguns dias para se recuperar, mas logo que o fez continuou a construção do mosteiro e voltou a fazer suas pregações. 
Quando o mosteiro estava quase pronto, os comerciantes contrataram pessoas da região para tocar fogo na construção, e assim ocorreu. O monge viu, com lágrimas nos olhos, seu mosteiro ser queimado, fruto de tanto trabalho. Decidiu, no entanto, que iria construir outro mosteiro, e começou colocando a primeira pedra. 
Um homem, que já acompanhava o monge desde o início, ficara espantado com sua persistência. Resolveu então falar com o monge. - O senhor foi expulso do seu mosteiro e traído pelo seu líder, seus pares também o traíram e abandonaram, o senhor foi agredido e teve seu novo mosteiro queimado por pessoas da região que deveriam apoia-lo… e no entanto, continua firme em seu propósito de ajudar. Após tantas traições o senhor não se decepciona com as pessoas? 
O monge respondeu: - Não… Eu não me decepciono, por que eu não espero nada das pessoas. Eu não guardo nenhuma expectativa em relação a elas. Se eu esperasse algo das pessoas, sem dúvida já teria me frustrado muito, e não poderia continuar este trabalho. Mas como nada espero dos outros, jamais me frustro. 
Quanto mais uma pessoa cria expectativas de qualquer tipo, maior é a sua frustração. 
Não esperar nada de outrem é condição essencial para se viver e fazer o bem. 

Autor: Hugo Lapa 
 Espiritualidade para todos

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