quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Física Quântica para pensar conceitos quânticos


Segundo o princípio da incerteza, as descrições do ser como onda e como partícula se excluem mutuamente. Embora ambas sejam necessárias à compreensão integral do que o ser é, somente uma está disponível num determinado momento do tempo. Consegue-se medir ou a exata posição de algo (como um elétron) quando ele se manifesta como partícula, ou seu momentum (sua velocidade) quando ele se expressa como onda, mas nunca se consegue uma medida exata de ambos a um só tempo.
A realidade fundamental em si é essencialmente indeterminada, que não há um “algo” nítido e fixo subjacente a nossa existência diária que possa ser conhecido. Tudo da realidade é e continua sendo uma questão de probabilidades. Um elétron pode ser uma partícula, pode ser uma onda, pode estar nesta órbita, pode estar naquela — de fato, tudo pode acontecer.
O relacionamento íntimo, o relacionamento que entra no ser, que influencia e até define sua existência a partir de dentro, é o sine qua non do ser quântico. Do ponto de vista mecânico-quântico, eu sou meus relacionamentos — meus relacionamentos com os subseres dentro de meu próprio ser e meus relacionamentos com os outros, meu relacionamento vivo com meu próprio passado através da memória quântica e com meu futuro através de minhas possibilidades. Sem relacionamentos, não sou nada.
A compreensão profunda do processo de vir a ser e a continuidade de pessoas por esse processo possibilitadas pela memória quântica são visões das mais profundas e abrangentes que a física quântica nos oferece a fim de enxergarmos nossa maneira de ser no mundo. Ela toca o cerne tanto de nosso sentido de nós mesmos enquanto pessoas dentro do tempo como de nossa compreensão de nossos relacionamentos com nós mesmos e com os outros — tanto no tempo quanto além do tempo. Ela nos coloca no mundo, não só aqui e agora, mas para sempre.
Como os elétrons, cada um de nós é uma fonte pontual no tempo e no espaço (nosso aspecto partícula) e ao mesmo tempo um padrão complexo tecido a partir de nosso entrelaçamento com os outros (nosso aspecto onda). Também somos padrões de energia ativa, padrões surgindo de dentro de nós mesmos (nosso código genético, nossa estrutura corporal, nossos sentidos e toda nossa experiência) e de além de nós mesmos (a estrutura e experiência dos outros, muitos dos quais viveram antes de nós e outros que viverão depois). Para cada um de nós não há maneira clara de afirmar onde começa e onde termina esse padrão. “Em meu começo está meu fim”, mas também “em meu fim está meu começo”
Nossa natureza quântica, há uma sujeição natural a meu destino e ao destino do mundo que ajudo a criar através de minhas livres decisões, e um critério objetivo para decidir se determinada escolha foi boa ou má. Se foi uma escolha má, conduzirá finalmente a um mundo inviável, um mundo que não consegue manter uma coerência ordenada. Seus valores e significados desmoronam, e o equivalente moral do caos físico se instala. Talvez eu possa dizer algo como “Está tudo caindo aos pedaços”.
A física quântica, aliada a um modelo mecânico-quântico da consciência, nos proporciona uma perspectiva inteiramente diversa. Uma perspectiva que nos permite ver a nós mesmos e a nossos propósitos como parte integrante do Universo e possibilita que compreendamos o significado da existência humana — compreender por que nós, seres humanos conscientes, estamos no universo material. Se esta perspectiva total pudesse ser plenamente alcançada, ela não substituiria toda a vasta gama de imagens poéticas e mitológicas, as dimensões espirituais e morais da religião, mas forneceria a base física para um quadro coerente do mundo — e onde nos incluímos.
(Extrato do Livro o Ser Quântico – Danah Zohar)

Nenhum comentário: