sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
Soltar as Amarras da Personalidade – Osho
Publicado por M. Manuela dos Santos Oliveira em 8 janeiro 2016 às 10:23 em OSHOBack to OSHO Discussions
Respeite mais intensamente o seu coração.
Pois através do seu coração surge a única luz que pode iluminar a vida e torná-la clara a seus olhos.
“…Só uma coisa é mais difícil de se conhecer – o seu coração. Antes que as amarras da personalidade sejam soltas, o profundo mistério do eu não pode começar a ser visto. Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará, de modo algum, à sua compreensão. Só então, e jamais antes, você poderá apreendê-lo e governá-lo. Só então, e jamais antes, você poderá usar todos os seus poderes e devotá-los a um trabalho valioso.”
A coisa fundamental a ser entendida é que você não pode conhecer sua própria natureza, seu próprio coração, seu próprio ser, por causa de sua personalidade, por causa de uma entidade falsa que você criou ao seu redor. Vivemos encerrados dentro de personalidades. As personalidades são falsas. Elas são, simplesmente, máscaras, fachadas a serem mostradas aos outros. Mas esse hábito torna-se tão arraigado que você se esquece completamente de sua face original. Mostrando suas falsas faces aos outros, aos poucos você se identifica com elas e começa a pensar que elas são as suas faces. Então, sua face original, sua face real, permanece oculta.
O que quer que você faça, como quer que você aja, seja o que for que você diga, lembre-se sempre de ver se isso vem de seu coração ou de sua personalidade. Distinga claramente. Isso lhe será de grande auxílio na busca interior.
Quando você diz a alguém: “Eu te amo” – de onde estão vindo estas palavras? De onde? Qual é a sua origem? Estão vindo do seu coração? Seu coração está realmente repleto de amor? Ou estão vindo meramente de sua personalidade, de sua face falsa? Você as está dizendo apenas de um modo polido, como uma formalidade, uma etiqueta, ou as está dizendo para expressar algo mais?
Você pode desejar o corpo de alguém, pode desejar sexualmente alguém, mas você diz: “Eu te amo.” Essa afirmação não passa de uma simulação. Seria melhor se você dissesse, “Desejo você sexualmente, mas não existe amor. Seu corpo me atrai, me seduz, mas não existe amor. Pode ser que o amor aconteça, mas por enquanto ele não existe. Estou apenas interessado em seu corpo.”
Mas se alguém disser que é somente o seu corpo que o atrai, você não quererá essa pessoa. Você se esquivará! Dirá: “Que absurdo você está dizendo?” A face falsa precisa estar presente. Só então o corpo pode ser dado ou tomado.
Assim, você continua a cultivar a sua personalidade. Quando se sente magoado, triste interiormente, mesmo assim, você continua a sorrir. Considere se o seu sorriso é apenas um sorriso pintado em seus lábios, um exercício dos lábios ou se ele nasce lá dentro e se espalha pelos lábios. A fonte se encontra em algum lugar lá dentro, ou não há nenhuma fonte, e ele é apenas um sorriso pintado? Quando você sorrir, observe o seu sorriso e poderá saber se ele é falso ou real.
Quando alguém está triste, ou sofrendo, por ter perdido um amigo, a namorada, o marido ou a esposa, aproxime-se dele. Você se mostrará triste e pesaroso. Lembre-se, e observe profundamente em seu interior, se essa tristeza é real, ou se você está apenas aparentando-a enquanto no fundo está enfadado, tentando descobrir uma desculpa para ir embora, ou está pensando em outras coisas e não está de modo algum interessado na pessoa: em seu sofrimento, em sua mágoa. Fique observando isso e conhecerá duas camadas diferentes em seu interior. A camada falsa é a personalidade.
A palavra “personalidade” é muito significativa. Ela se origina da palavra grega persona. Persona significa “máscara”. Nos dramas gregos, os atores usavam máscaras, faces falsas. Essas faces falsas eram chamadas personae. E foi dessa palavra que se originou a palavra “personalidade”. Ela é perfeita. Significa que você está agindo com uma face falsa. Ela não é você. Você está se ocultando por trás da face falsa, porque não pode revelar a sua verdadeira face.
Não estou dizendo para você sair por aí mostrando sua verdadeira face por toda parte. Não é necessário. Em alguns lugares, a persona é necessária. Mas deve ficar claro que, nesses casos, trata-se da persona, não se trata de você. Interiormente, você precisa saber quando está representando e quando é verdadeiro. Você não deve se deixar enganar por sua representação! Não deve se identificar com a sua representação! Eu sei que as faces são necessárias. De outro modo, seria difícil viver em sociedade, muito difícil. De certo modo, as faces são boas. Elas facilitam, servem para lubrificantes. E numa grande sociedade, com tantas pessoas, você não precisa revelar sua realidade por toda parte.
Alguém se encontra com você pela manhã. Você se sente incomodado com esse encontro. Você pensa: “Por que tenho de ver esse homem esta manhã? Sua presença pode estragar todo o meu dia.” Mas, exteriormente, você sorri e diz: “Bom-dia. Fico feliz em vê-lo.” Interiormente, você não está de modo algum feliz!
Contudo, no que se refere à educação, não há nada de errado nisso. Não seria adequado dizer ao homem: “Sinto-me totalmente infeliz. Você estragou a minha manhã. Sua presença é uma ameaça. Receio que, pelo fato de tê-lo visto, meu dia esteja arruinado.” Isso não seria adequado. Desnecessário. Iria perturbar desnecessariamente o outro homem. Não há necessidade disso.
Mas você precisa saber o que é uma máscara e o que é real. Precisa estar ciente daquilo que está acontecendo dentro. O que acontece no interior é o seu ser real e o que acontece na superfície é apenas uma utilidade social. Se você pode fazer uma distinção nítida entre você e sua personalidade, então a personalidade torna-se como uma roupa. Você pode abandoná-la a qualquer momento e ficar nu.
Se você pode abandoná-la, isso significa que você está tão preso a ela que não consegue distinguir-se dela, separar-se dela; não há nenhuma distinção. Essa distinção é necessária para que pelo menos em seu quarto, em seu banheiro, você possa colocar sua personalidade de lado e tornar-se real; pelo menos em meditação, você pode jogar sua personalidade fora e tornar-se real. Ali ela não é necessária.
A meditação não é social. Ela não diz respeito a ninguém mais; só diz respeito a você mesmo. Assim, nenhuma máscara é necessária; você pode ser autêntico. Mas você não pode ser autêntico porque não conhece a distinção. Até mesmo ao meditar, eu sinto que você está fazendo muitas coisas falsas.
Freud se consciencializou – quando iniciou a psicanálise ele ainda não havia se consciencializado disso, mas, aos poucos, percebeu que os pacientes diziam coisas que não eram verdadeiras, apenas para deixá-lo feliz, para confirmar suas teorias porque, quando Freud ficava feliz, eles também ficavam felizes – somente depois de vinte anos de psicanálise foi que ele se consciencializou de que o que os pacientes diziam não era verdadeiro.
Por exemplo: Freud diz que o sexo é a raiz de toda perturbação mental. Os pacientes iam vê-lo e contavam-lhe a respeito de suas perturbações. Então eles revelaram que o sexo era a raiz de suas perturbações. Freud pensava que suas teorias estavam sendo confirmadas por centenas e centenas de exemplos. Só mais tarde, ele se consciencializou de que muitos de seus pacientes estavam mentindo, apenas para deixá-lo feliz, para confirmar sua teoria.
Às vezes, eu sinto a mesma coisa. Quando digo: “Fique louco!” – e você fica louco, sei que você está fazendo isso apenas para me deixar feliz. Mas não há necessidade. Eu já sou muito feliz! Não há necessidade. Não faça nada que não seja verdadeiro, pelo menos em sua meditação – porque ela só diz respeito a você.
Tillich disse, em algum lugar, que a religião é algo que diz respeito ao indivíduo, é um assunto totalmente pessoal de cada um consigo mesmo. Ela não diz respeito a ninguém mais. A religião é individual; portanto, durante a meditação, você não precisa se preocupar com mais ninguém, nem mesmo comigo. Seja verdadeiro. Jogue fora suas máscaras. Qualquer coisa autêntica o ajudará a mover-se para dentro, qualquer coisa não verdadeira o ajudará a mover-se para fora.
Essa é a razão pela qual Shankara chama o mundo de ilusão. Quanto mais você se move para fora de si mesmo, tanto mais você se move na ilusão; e quanto mais você vai para dentro, mais você se move na realidade. Sua personalidade é a porta para a ilusão, para um mundo irreal de sonhos. Livre-se dessa parte, livre-se completamente dessa ponte. Pelo menos na meditação.
Não estou lhe dizendo para ser autêntico ao comportar-se na sociedade. Você ficará em dificuldades. Se tiver vontade de fazê-lo, pode fazê-lo, mas não estou pedindo isso; não me responsabilize. A sociedade lhe criará problemas. Ela não quer as suas faces verdadeiras; quer as suas faces falsas.
Mas, no que se refere à sociedade, não há nenhum problema quanto à isso. Use uma face falsa quando se dirigir para fora, mas quando se dirigir para dentro livre-se completamente dessa face. Não permaneça identificado com ela, não a carregue para dentro. Um dia poderá vir no qual você se tornará tão forte que até mesmo na sociedade você gostará de se comportar com sua face verdadeira, mas isso depende de você. Primeiro olhe para dentro e, pelo menos momentaneamente, coloque de lado sua personalidade.
Pois, através de seu coração, surge a única luz que pode iluminar a vida e torná-la clara a seus olhos.
“…Só uma coisa é mais difícil de se conhecer – o seu coração. Antes que as amarras da personalidade sejam soltas, o profundo mistério do eu não pode começar a ser visto.”
A personalidade age como uma barreira e a luz de seu coração não pode chegar até você. Desfaça-se da personalidade, mesmo que momentaneamente, temporariamente, e a luz o inundará, e você penetrará num mundo diferente: o mundo do coração.
“Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará, de modo algum, à sua compreensão.”
Você precisa se colocar de lado: sua personalidade, seu ego.
”Enquanto você não sair do caminho, ele não se revelará, de modo algum, à sua compreensão. Só então, e jamais antes, você poderá apreendê-lo e governá-lo. Só então, e jamais antes, você poderá usar todos os seus poderes e devotá-los a um trabalho valioso.”
E enquanto você mesmo não entrar em profundo contato com o âmago do seu coração, não poderá fazer nada que seja bom, que seja valioso. Não poderá prestar nenhuma ajuda a ninguém. Tudo o que você fizer, mesmo que seja com boa intenção, criará o mal, porque aquele que faz o mal é ignorante. O que você faz não é importante. Mais importante é quem você é.
Se você é ignorante, se vive em total escuridão – se a luz do coração não penetrou em você, ainda não o preencheu – você pode ter boas intenções, boa vontade, mas tudo o que fizer resultará em mal, porque nada de bom pode vir de um coração escuro. Assim, não tente prestar nenhuma ajuda a alguém, a menos que você tenha alcançado a luz interior. Então, toda a sua vida tornar-se-á uma ajuda. Não haverá mais necessidade de fazer disso um dever; você não ajudará mais a alguém por mera obrigação. Então, a ajuda fluirá espontaneamente de você.
E quando a ajuda se torna espontânea, isenta de qualquer noção de dever, quando ela se torna amor, você não pode fazer outra coisa senão ajudar; quando não há a preocupação de fazer os outros felizes, quando, na verdade, ocorreu o contrário: você está tão feliz que agora a felicidade transborda de você e atinge os outros – só então tudo o que você fizer terá bons resultados.
Se você está repleto de luz, de felicidade, o bem acontece, sem que qualquer boa vontade se faça necessária. Contudo, boa vontade em demasia, sem que haja luz interior, pode ser perigosa aos outros. As pessoas que se ocupam em ajudar os outros, sem possuírem qualquer sadhanainterior, criam muito mal. Toda a sociedade está sofrendo por causa dessas pessoas maléficas que se põem a ajudar os outros sem terem, de algum modo, realizado sua própria luz interior. Lembre-se disto: a primeira coisa é a sua própria auto-realização. Ajudar os outros é secundário. E não pense que, por ajudar os outros, você pode se realizar. É realizando-se que você poderá ajudar os outros, e não o contrário.
“É impossível ajudar os outros antes de ter alcançado algum conhecimento de si próprio. Quando você tiver aprendido as primeiras 21 regras e tiver penetrado no Saguão do Saber com seus poderes desenvolvidos e sua inteligência liberada, então você descobrirá que há em seu interior uma fonte da qual nascerá a fala.”
“…Essas palavras estão escritas só para aqueles que podem ler o que escrevi tanto com o sentido interior como o exterior.”
Lembre-se disto. É impossível ajudar os outros antes de ter alcançado algum conhecimento de si próprio. Resista à tentação de ajudar os outros. Será desastroso, a menos que você tenha algum conhecimento de si próprio. Não tente ser um guru, não tente prestar nenhuma ajuda, porque você causará danos, criará mais problemas. Não se esqueça de que você não pode ajudar, não pode orientar ninguém, a menos que tenha alcançado a luz interior. Quando a luz interior está presente, a ajuda, a orientação, fluirá de você.
Resista à tentação. A tentação é enorme porque o ego se sente muito satisfeito. Alguém lhe pede um conselho. Você é tentado a dar o conselho sem saber o que está fazendo, sem estar consciente de que não sabe. Se alguém lhe pergunta se Deus existe, você não é suficientemente forte para dizer: “Eu não sei.” Você diz alguma coisa. Ou diz: “Sim, Deus existe. Sou um crente” – ou então “Não, Deus não existe. Sou um descrente” – mas, em ambos os casos, você deu a sua opinião. Em ambos os casos, você confirmou algo que não sabe.
Lembre-se disto: trata-se de um ponto básico, muito importante a qualquer buscador espiritual: confirme aquilo que você sabe realmente. Se não sabe, é melhor dizer: “Não sei.”
Uma vez perguntaram a Albert Einstein: “Qual a diferença entre ciência e filosofia?”
Sua resposta foi uma das mais sábias. Ele disse: “Se você procurar um cientista e lhe fizer uma centena de perguntas, para noventa e nove dessas perguntas ele lhe dirá: ‘Não sei.’ Apenas a uma delas ele dirá: ‘Eu sei.’ Contudo, acrescentará: ‘Mas trata-se apenas de um conhecimento relativo. Amanhã ele pode mudar. Não é absoluto.”
“Se você procurar um filósofo e lhe fizer uma única pergunta, ele lhe dará uma centena de respostas. E com absoluta convicção de que essas são as respostas corretas. Se alguém der alguma outra, será escorraçado. O filósofo dirá: ‘Ele está errado!’.”
É por isso que a filosofia não leva a parte alguma. Respostas e respostas e respostas não levam a parte alguma. Tantas respostas para não responder nem mesmo a uma única pergunta. Falta o fundamental: o filósofo não é bastante forte para dizer: “Não sei.”
O cientista é mais forte. Ele pode dizer: “Não sei.” E mesmo quando ele diz: “Eu sei” – acrescenta: “Até o momento isto é considerado verdadeiro. Mas nada posso dizer quanto ao amanhã. As coisas podem mudar, muitos fatos novos podem se tornar conhecidos e então a verdade terá de ser reajustada.”
Eu gostaria de dizer que a ioga também é uma ciência; não é uma filosofia. A meditação é uma ciência; não é uma filosofia. Lembre-se disto: não dê nenhuma orientação a ninguém, a menos que você tenha algum conhecimento, alguma experiência. E, mesmo nesse caso, não deixe de dizer aos outros que “essa é a minha experiência. Pode não ser assim para você. É a maneira pela qual eu cheguei a isso. Seu caminho pode ser outro; isto pode não se mostrar verdadeiro para você. Portanto, não siga o meu conselho cegamente. Você pode experimentá-lo. É uma experiência aberta.”
Então você pode ser de alguma ajuda. De outro modo, poderá criar perturbações. Não se deixe levar pelas tentações. Não aconselhe, a menos que saiba realmente. Não oriente. Primeiro, seja um discípulo; não tente ser um mestre. Um dia você será um mestre. Quando tiver se tornado um discípulo total e completo, o mestre emergirá de você. Mas não antes desse momento, não antes desse tempo. Aguarde. O tempo virá.
Por: Osho – A Nova Alquimia
Via: Metamorfose – Centro de Desenvolvimento Integral – http://www.centrometamorfose.com.br/
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