PAUL BRUNTON: O que é exactamente o Si de que fala? Se aquilo que diz é verdadeiro, deve haver um outro si no homem.
SRI RAMANA:
É possivel ao homem ser possuído por duas identidades, dois "Sis"? Para
compreender a questão é preciso em primeiro lugar que o homem se
analise a si mesmo. Porque de há muito contraíu o hábito de pensar como
pensam os outros, ele jamais encarou o seu Eu
de maneira correcta. Ele não tem de si uma imagem correcta; de há muito
vem-se identificando com o seu corpo e o seu cérebro. Por isso peço-lhe
que leve avante a sua investigação:" Quem sou eu?"
Pede-me
que lhe descreva esse Si verdadeiro. Que se pode dizer? Trata-se
daquilo de que emana o sentimento do Eu pessoal e em que este terá de
desaparecer.
PAUL BRUNTON: Desaparecer? Como é possível a alguém perder o sentido da própria personalidade?
SRI RAMANA: O primeiro e principal de todos os pensamentos, o pensamento mais antigo na mente de qualquer homem, é o pensamento Eu.
Somente após o nascimento desse pensamento poderá nascer qualquer
outro. Somente depois que o primeiro pronome pessoal eu surgiu na mente
poderá aparecer o segundo pronome pessoal tu. Se lhe fosse dado seguir o fio do Eu
até ser reconduzido de volta à sua origem, descobriria que, assim como é
o primeiro pensamento a aparecer é o último a desaparecer. É uma
experiência pela qual se pode passar.
PAUL BRUNTON: Quer dizer que é possível fazer uma tal investigação mental no interior de si mesmo?
SRI RAMANA: Certamente. É possível caminhar para dentro até que o último pensamento, Eu, desapareça gradualmente.
PAUL BRUNTON: Que sobra então? O homem tornar-se-á então inconsciente ou simplesmente idiota?
SRI RAMANA:
Não; pelo contrário, atingirá aquela compreensão que é imortal e se
tornará verdadeiramente sábio, quando tiver despertado para o seu
verdadeiro Si, que é a natureza real de todos os homens.
PAUL BRUNTON: Decerto o sentido do Eu pertence a isso?
SRI RAMANA:
O sentido do Eu pertence à pessoa, ao corpo e ao cérebro. quando um
homem descobre seu verdadeiro Si algo mais se ergue das profundezas do
seu ser e se apossa dele. Essa coisa está por detrás da mente; é
infinita, divina, eterna. Alguns chamam-na o Reino dos Céus, outros
Nirvana e os hindus Libertação. Dê-lhe o nome que desejar. Quando
acontece, o homem na realidade não se perdeu; ao contrário,
encontrou-se.
A menos e até que um homem encete essa busca do
verdadeiro Si, com certeza a dúvida e a incerteza acompanhar-lhe-ão os
passos através da vida. Os maiores reis e estadistas tentam governar os
outros quando no seu íntimo sabem-se incapazes de governar-se a si
mesmos. No entanto, o maior dos poderes está ao alcance do homem que
penetrou na sua máxima profundidade...Que adianta saber tudo o mais
quando não se sabe ainda quem se é? Os homens fogem a esta devassa do
verdadeiro Si, mas existirá outra empreitada igualmente digna de ser tomada a peito?
do livro Ramana Maharshi e o Caminho do Autoconhecimento (pag.21-22). Livro editado pela Pensamento.
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