by José Batista de Carvalho
Conta
uma lenda medieval que no país que hoje conhecemos como Áustria, a
família Burkhard – composta de um homem, uma mulher, e um menino –
costumavam animar as feiras de natal recitando poesias, cantando baladas
de antigos trovadores, e fazendo malabarismos para divertir as pessoas.
Evidente que nunca sobrava dinheiro para comprar presentes, mas o homem
sempre dizia a seu filho:
-
Você sabe por que a sacola de Papai Noel não se esvazia nunca, embora
haja tantas crianças neste mundo? Porque embora ela esteja cheia de
brinquedos, às vezes existem coisas mais importantes para serem
entregues, os chamados “presentes invisíveis”. Em um lar dividido, ele
procura trazer harmonia e paz na noite mais santa da cristandade. Onde
falta amor, ele deposita uma semente de fé no coração das crianças. Onde
o futuro parece negro e incerto, ele traz esperança. No nosso caso,
quando Papai Noel vem nos visitar, no dia seguinte estamos todos
contentes de continuarmos vivos e fazendo nosso trabalho, que é de
alegrar as pessoas. Jamais esqueça isso.
O
tempo passou, o menino transformou-se em rapaz, e certo dia a família
passou diante da imponente abadia de Melk, que acabara de ser
construída. O jovem pela primeira vez manifestou sua vocação escondida,
que era tornar-se padre. A família entendeu e respeitou o desejo do
filho. Bateram na porta do convento, foram acolhidos com amor pelos
monges, que aceitaram o jovem Buckhard como noviço.
Chegou
a véspera do natal. E justamente naquele dia, um milagre especial
aconteceu em Melk: Nossa Senhora, levando o menino Jesus nos braços,
resolveu descer à Terra para visitar o mosteiro.
Orgulhosos,
todos os padres fizeram uma grande fila, e cada um postava-se diante da
Vigem, procurando homenagear a Mãe e o Filho.
No
último lugar da fila o jovem Buckhard aguardava ansioso. Seus pais eram
pessoas simples, e tudo que lhe haviam ensinado era atirar bolas para
cima e fazer alguns malabarismos.
Quando
chegou sua vez, os outros padres quiseram encerrar as homenagens,
porque o antigo malabarista não tinha nada de importante para dizer, e
podia desmoralizar a imagem do convento. Entretanto, no fundo do seu
coração, também ele sentia uma imensa necessidade de dar alguma coisa de
si para Jesus e a Virgem.
Envergonhado,
sentindo o olhar reprovador dos seus irmãos, ele tirou algumas laranjas
do bolso e começou a jogá-las para cima e segurá-las com as mãos,
criando um belo círculo no ar, igual ao que costumava fazer quando ele e
sua família caminhavam pelas feiras da região.
Foi
só neste instante que o Menino Jesus começou a bater palmas de alegria
no colo de Nossa Senhora. E foi para ele que a Virgem estendeu os
braços, deixando que segurasse um pouco a criança, que não parava de
sorrir.
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