Não se trata do coração físico, sequer do
coração afetivo e emocional, mas do coração como centro de integração
de todas as faculdades da pessoa; o coração como “centro” do homem –
praticamente todas as grandes tradições da humanidade dão testemunho
disso.
Um dos dramas do homem contemporâneo é
ter perdido o seu coração. Não existe nada entre o cérebro e o sexo; às
vezes apenas uma imensa saudade… mas frequentemente passamos das mais
frias análises aos excessos pulsantes mais levianos. Dessa maneira, o
homem torna-se cada vez mais esquizofrênico, tendo perdido o seu centro
de integração, de “personalização” do seu ser: o coração.
Uma inteligência sem coração não é
realmente humana. Quando os bancos de memória de um computador são
decuplicados, ele torna-se mais “inteligente” do que o homem. A
inteligência sem o coração, “a ciência sem consciência”, ilumina nossas
sociedades com uma luz fria onde o homem “se gela”, se analisa e se
entedia…
Uma sexualidade sem coração não é uma
sexualidade realmente humana, qualquer que seja a quantidade das nossas
intensidades pulsantes, é apenas em uma relação de pessoa a pessoa que o
prazer efêmero pode se transformar em felicidade permanente. “No
verdadeiro amor”, dizia Nietzsche, “é a alma que envolve o corpo.”
É o coração que dá um sentido aos nossos
enlaces, assim como é o coração que pode orientar as descobertas da
inteligência em um sentido positivo à vida da humanidade.
Vivemos na época das luzes néon e dos
cobertores elétricos, das luzes frias e dos calores opacos. Não é
possível se aquecer junto a uma luz néon, não nos iluminamos junto a um
cobertor elétrico. Perdemos a chama que é ao mesmo tempo luz e calor.
“Redire ad cor” – “volta ao teu coração”: as palavras do profeta são
mais atuais do que nunca.
Jean-Yves Leloup
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