continuação
Ovo, lagarta, crisálida e borboleta… Que belo e
misterioso processo!
A lagarta morre, vira crisálida, a crisálida arrebenta
pelas costas e finalmente, sai a borboleta, com suas asas todas úmidas e
embrulhadinhas! Depois que as asas secam ao sol, a borboleta está pronta para
voar! Essa maravilhosa transformação ocorre dentro do mistério da crisálida,
onde tudo está fechado, sem nenhuma porta, sem janelas, um local silencioso que
mais parece um laboratório, coberto por uma camada que parece matéria plástica
chamada quitina. A quitina é uma espécie de celofane que a natureza criou.
Quando olhamos para a crisálida, parece que ali não está ocorrendo nada…
Silenciosa por fora e numa atividade tremenda por dentro! Dia e noite por
semanas inteiras…
Quem está trabalhando ali dentro?
A vida… O principio vital do ovo passou para a lagarta,
que passou para dentro da crisálida, que passará para a borboleta… Podemos
dizer que o principio vital é a alma da borboleta. É uma alma em quatro corpos…
Este é um símbolo maravilhoso para a evolução da alma!
No princípio, todos nós somos parecidos com uma lagarta.
O homem profano, materialista, que só se preocupa com as coisas do corpo, que
só pensa em comer, comer e divertir-se, que não possui ainda nenhuma consciência
de que possui a alma é o que podemos chamar de estado da lagarta. A lagarta é o
símbolo do homem profano: ele não tem nenhuma consciência da sua alma e vive no
mundo da horizontalidade. A lagarta não sabe nada de que vai ser uma borboleta,
ela só quer comer, digerir, é o homem materialista. O grosso da humanidade ainda está no estágio de lagarta. A lagarta
é o homem ego que não possui nenhuma consciência de sua alma, do seu eu, da sua
realidade espiritual e que vive somente paras as coisas materiais e para a
satisfação dos seus instintos degenerados. Alguns deles deixam de ser lagarta,
mas não são muitos – a maioria morre como lagarta, nem mesmo chegando ao estado
de crisálida.
Quando é que o homem deixa de ser lagarta e passa a ser
crisálida?
É quando depois de muito tempo como lagarta, passa a
sentir uma inquietude interna que o chama a ser outra coisa. A lagarta, no fim
de sua vida, passa a ter um pressentimento de que está na hora de terminar a
sua atual maneira de viver como lagarta. Então ela vai a direção à morte, morre
como lagarta, se transforma num pequeno ataúde, algo parecido como um esquife,
joga fora a sua pele de lagarta, fecha-se ao redor de si, se enclausura como
num tipo de meditação.
Quando fazemos meditação, não olhamos para fora da
janela, ficamos num local com as portas fechadas, com as luzes apagadas e em
estado de profundo silêncio. Muitos, por ainda estarem no estágio final da
lagarta, ainda não são capazes de fazer meia hora de profundo silêncio físico,
mental e emocional. Somente quando se transformam em 100% crisálida é que
conseguem fazer este silêncio absoluto e imobilidade completa. Você nunca vê
uma crisálida fazendo barulho ou movimento. Não: ela está ensimesmada,
completamente concentrada dentro de si num pequeno espaço…
E o que é que nós fazemos quando estamos em estado de
crisálida, isto é, em estado de meditação? Não fazemos nada? Não… Fazemos muita
coisa! Não fazemos nada por fora, mas fazemos muito por dentro. A meditação não
é um estado de passividade, é um estado de tremenda atividade sem ruído e
movimento. Muitos pensam que atividade é correr de lá para cá, fazer barulho…
Isso não é atividade, isso é afobação.
Atividade dinâmica é aquela que não se manifesta por
fora, mas se realiza por dentro.
A crisálida está numa tremenda atividade dinâmica, não
numa atividade ruidosa por fora que é do ego. A crisálida é o símbolo do Eu sem
o ego que se pergunta: Que sou eu?
Na meditação nós não sabemos nada sobre o nosso corpo… O
corpo da lagarta não existe, não sabemos nada dos nossos sentidos…Não vemos,
não ouvimos, não falamos, não pensamos e não queremos nada. É um estado de
absoluta passividade dinâmica. Passiva por fora – ativa por dentro. Temos
consciência, mas não temos palavras e nem pensamentos. Acabou-se o ego, permanece
somente o Eu plenamente vivo e consciente de nós.
No silêncio da crisálida se devem formar todos os órgãos
da borboleta.
No silêncio da meditação se devem desenvolver todos os
órgãos do nosso espírito, da nossa alma.
O que para o inseto é a borboleta, isto para nós é a
alma. A borboleta representa muito bem a espiritualidade, por que ela é leve,
vive na luz, vive nas alturas, não come quase nada, apenas bebe de vez em
quando uma gotinha de néctar do cálice das flores… Pousa nas flores, mas geralmente
não pousa na terra. A lagarta sempre rasteja pela terra enquanto a borboleta
voa pelo ares.
A transição do ego para o Eu espiritual se faz durante o
período da crisálida, da meditação.
A natureza nos deu este exemplo maravilhoso da
transcendência do homem ego profano, através do homem místico, rumo ao homem
cósmico. A borboleta representa o homem plenamente realizado. A crisálida é o
principio, a iniciação para esta realização. A lagarta não começou nem a
iniciação, muito menos a autorealização.
Podemos comparar o período anterior à iniciação e
anterior a autorealização, com a lagarta. Depois, na iniciação, nós viramos
crisálida, desprezando todas as coisas materiais só tratando das coisas
espirituais. É o período da mística isolacionista espiritualista. A crisálida
se isola completamente do mundo exterior, é exatamente como o místico da
caverna, da solidão… Ele não quer saber nada do mundo externo e só pensa em
Deus, Eus e Deus. Come somente o necessário para não morrer. A crisálida não é
o estado definitivo, por que depois da crisálida vem a borboleta que representa
o homem cósmico, o homem crístico, o homem integral que nunca mais vai voltar a
ser lagarta, mas que entra em contato com todas as pessoas bem como com todos
os elementos da natureza. Este é o estágio final da evolução do homem.
Estágio de ovo.
Estágio de lagarta, do homem profano.
Estágio da crisálida, do homem místico, isolado não
querendo saber nada do mundo externo.
Estágio de borboleta, do homem crístico, cosmificado.
A lagarta não pode se reproduzir, não pode se
imortalizar, pois não tem sexo. A borboleta já possui sexo ou masculino ou
feminino. A imortalidade deste inseto depende do último estágio: se a lagarta
não virar borboleta, sua espécie morre. A divisão do sexos acontece dentro da
crisálida.
Na natureza não existe imortalidade pessoal, individual,
mas existe imortalidade racial. Todos os seres infra-humanos se imortalizam na
espécie e não no individuo. Para poder ocorrer a imortalização da espécie se
faz necessário a união dos sexos. Na humanidade ocorrer um processo diferente,
pois o próprio individuo pode imortalizar-se. Isto é um privilégio da raça
humana.
continua....
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