segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Adolescência e a crise de identidade


Nessa complexa fase do ser humano, vamos olhar dois aspectos principais que geralmente despertam uma crise interior: identidade e autonomia.

O adolescente quer se tornar autor de seus próprios atos e escolhas, e não mais seguir um modelo definido pelos adultos à sua volta… isso pode os tornar meio (ou totalmente) antissociais e tornar suas ações meio rebeldes e não muito racionais.

Podem perder o interesse e se isolar das atividades familiares, buscando muito mais uma integração fora desse ambiente, como grupos de amigos, buscando sua independência – principalmente ideológica, uma afirmação da sua própria identidade.

Acontece que o adolescente começa a se perceber separado da família, começa a perceber que suas ideias e seu caminho são próprios. Nesse processo pode ver as falhas e dificuldades de seus pais como justificativas para a negação de diretrizes – quem é você pra me dizer o que fazer? Não quero ser igual aos meus pais.

Na verdade, os pais deveriam apenas ajudar nesse difícil processo de encontrar o próprio caminho, mas muitas vezes a inconsciência do processo do adolescente e o medo da perdição (se perder no labirinto de processos pelos quais está passando) os fazem impor as diretrizes e querer conduzir as rédeas do jovem, podendo criar um ainda maior distanciamento e rebeldia, fazendo com que aumente sua crise de identidade e surja uma busca por aceitação e reconhecimento em grupos, consciente ou inconsciente.

Os pais, por outro lado, também se tornam cada vez mais inconscientes do processo do adolescente, por esse distanciamento. Eles geralmente mantém uma certa rigidez em relação à percepção do mundo baseada no seu processo particular, não se esforçando muito para adentrar o universo do jovem (ou mesmo, sem tempo para isso). Este recebe fortes influências externas, do processo coletivo, cultural e social, pois ele quer se posicionar perante ao mundo, e para isso, precisa adentra-lo. A grande questão é que essas influências sofrem muitas mudanças de geração para geração. Se não acompanharmos com interesse genuíno o que eles estão vivenciando individual e coletivamente, nos tornaremos antiquados e isso se tornará evidente para eles, aumentando a ainda mais o distanciamento de ideias e percepção do mundo, contribuindo para a negação e isolamento no contexto familiar.

É importante analisar a questão da visão Antroposófica nessa fase do desenvolvimento, onde:

No primeiro setênio (0-7 anos), a essência é o Mundo é Bom.

No segundo setênio (7-14 anos), o Mundo é Belo.

Agora, já nesse terceiro setênio (14 aos 21 anos), o Mundo é Verdadeiro, ou seja, várias facetas não tão belas e boas do mundo e da vida se manifestam como percepção na consciência do jovem. Percebe várias facetas obscuras da sociedade e do ser humano, criando muitas vezes uma negação. Não quero me adequar a isso. Não é isso que eu busco. Eu não aceito isso.

Por exemplo: Uma sociedade que envenena os alimentos, destrói a natureza, governa por interesses e poder, manipula as informações, explora o trabalho das pessoas, favorece grupos elitizados, não se preocupa com o sofrimento humano, uma justiça que é parcial e autoritária entre outros aspectos. Também no âmbito familiar, como maus hábitos e defeitos dos pais, dificuldades no relacionamento entre eles, atitudes imorais, posicionamentos ideológicos de moralidade questináveis e etc…

Além disso, pode se perceber como se estivesse sendo induzido/forçado a trilhar esse caminho, através da educação tanto de casa como escolar – o que, na maioria dos casos, é a mais pura verdade – uma espécie de doutrinação e adestramento para “facilitar” seu caminho de inserção social.

Muitos pais têm um modelo pronto e ideal, e em muitos casos existe uma projeção de sonhos, buscam a realização através dos filhos e não os libertam para seguir seu próprio caminho de realização.

Esse sentimento de não poder fazer suas próprias escolhas, ou de não poder decidir por outra coisa que não a que nos é oferecida ou a que todo mundo faz pode, muitas vezes, gerar uma revolta e uma tendência à alienação. O jovem, que ainda não tem a consciência clara do caminho que quer seguir (aspecto que é fortalecido pelo distanciamento de seu mundo interno durante o processo educacional), pode mergulhar num drama psicológico e buscar a satisfação e realização momentâneas em percepções sensoriais superficiais – prazer!!! (sexo, balada e entorpecentes, comida, relacionamentos, tudo que possa aliviar o alto estresse deste processo). Isso pode acontecer independente de uma aceitação ou não deste caminho pré determinado externamente por seus pais e sociedade.

Meus pais não me entendem e querem me controlar, a sociedade quer me corromper… (ele pode tentar se alienar de tudo isso, mesmo que inconscientemente).

É interessante notar que eles são marginalizados, mas por uma aspecto de consciência. Tanto pelos pais, quanto pela sociedade. O que se espera deles, para que sejam reconhecidos e valorizados é que se adequem e conquistem seu espaço dentro desse modelo que eles estão negando, mas para isso eles devem se tornar inconscientes desses aspectos negativos, ou pior, entrar no jogo conscientemente como agente de todas essas sombras… quando, de fato, deveriam se tornar agentes de transformação social.

O que pode se tornar uma tarefa super complicada para um jovem…


Leonardo Maia

biblioteca virtual de Antoposofia

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