Self
Não há dúvida de que a nossa capacidade de lembrar das coisas sustenta nosso sentido de self - nosso "eu mesmo", ou nossa "essência".
Agora, uma pesquisa fornece novas evidências de que essa relação também pode funcionar no sentido inverso.
Ou seja, invocar o nosso senso de "eu" pode influenciar aquilo de que somos capazes de lembrar.
Auto-imaginação
Pesquisas têm mostrado que a auto-imaginação - imaginar algo de uma
perspectiva pessoal - pode ser uma estratégia eficaz para nos ajudar a
reconhecer algo que já vimos antes, ou recuperar lembranças específicas.
E estes efeitos benéficos têm sido demonstrados tanto entre adultos
saudáveis quanto entre indivíduos que sofrem de deficiências de memória,
como resultado de lesões cerebrais.
Isto sugere que a auto-imaginação é uma estratégia promissora para a reabilitação da memória.
Mas nenhum estudo havia investigado o efeito da auto-imaginação sobre
o que é talvez o mais difícil e mais relevante tipo de memória: a
recordação livre - o lembrar-se de algo sem nenhuma referência.
Mateus Grilli e Elizabeth Glisky, da Universidade do Arizona (EUA)
decidiram então fazer isto, colocando a auto-imaginação à prova.
Eles queriam comparar a auto-imaginação com estratégias mais tradicionais que envolvem o sentido do self, a fim de obter uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes que possam estar em ação.
Traços de personalidade
Os pesquisadores recrutaram 15 pacientes com lesão cerebral que levou
a problemas de memória, e 15 participantes saudáveis com memória normal
para participar no estudo.
Os participantes deviam memorizar cinco listas de 24 adjetivos que descrevem traços de personalidade.
Para lembrar de cada traço de personalidade, os participantes foram
instruídos a empregar uma de cinco estratégias: pensar em uma palavra
que rima com o traço (esta foi a referência), pensar em uma definição
para a característica (elaboração semântica), pensar sobre como o traço
as descrevia (semântica auto-referencial), pensar em um momento em que o
traço esteve presente em seu cotidiano (auto-referencial episódico), ou
imaginar-se interpretando aquele traço (auto-imaginação).
Em todos os participantes, saudáveis ou não, a auto-imaginação
melhorou a capacidade de lembrança mais do que qualquer outra
estratégia.
Reabilitação da memória
Este resultado está em consonância com descobertas anteriores de que o
conhecimento sobre eventos específicos do passado é frequentemente
prejudicado em pacientes com lesão cerebral.
E também dá suporte à hipótese dos pesquisadores de que o benefício
da auto-imaginação para pacientes com deficiência de memória pode estar
relacionado à sua capacidade de recuperar o conhecimento a respeito de
seus próprios traços de personalidade, identidade e períodos da vida.
Os pesquisadores acreditam que suas conclusões poderão ter aplicações importantes para a reabilitação da memória.
"Com base nos resultados de nossa pesquisa em laboratório," disse
Grilli, "pode ser possível adaptar a auto-imaginação para ajudar os
pacientes com problemas de memória a lembrar de informações da vida
cotidiana, tais como o que eles leram em um livro ou uma notícia que
ouviram."
Anna Mikulak, em "Diário da saúde"
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