A
mente só vai se dissolver através da auto investigação "Quem sou eu?". O
pensamento "Quem sou eu?" destruirá todos os outros pensamentos e
depois destruirá a si mesmo também. Se outros pensamentos surgirem,
devemos perguntar a quem esses pensamentos ocorrem, sem tentar completá-los.
Que
importa quantos pensamentos surgem? Na medida em que cada pensamento
surgir, devemos estar vigilantes e perguntar para quem ele ocorre. A
resposta será "para mim". Se você perguntar "quem sou eu?", a mente então voltará à sua Fonte.
O
pensamento que surgiu também desaparecerá. À medida que você praticar
dessa forma mais e mais, o poder da mente de permanecer em sua Fonte
aumentará.
Embora
os apegos sensoriais, antigos e imemoriais, possam surgir sob forma de
incontáveis tendências mentais, assim como as ondas surgem no mar, todos
eles serão destruídos na medida em que a meditação avançar. Devemos nos
agarrar sem cessar à meditação do Ser, sem duvidar da possibilidade de
erradicar todas essas tendências e de só o Ser permanecer. Por mais
pecadora que uma pessoa possa ser, se ela parar de se lamentar " Ai de
mim que sou um pecador! Como posso eu alcançar a libertação?" e,
abandonando até mesmo o pensamento de que é pecadora, se dedicar
zelosamente à auto inquirição, ela com certeza realizará o Ser (Atman).
Se
o ego estiver presente, tudo o mais também existirá. Se estiver
ausente, tudo o mais desaparecerá. Como o ego é tudo isso, investigar a
sua natureza é a única forma de abandonar todo apego. Controlando a fala
e a respiração, e mergulhando fundo em nós mesmos, como alguém que
mergulha na água para recuperar algo que nela caiu, devemos, por meio de
um insight aguçado, descobrir a fonte de onde surge o ego.
A
investigação, que é o caminho da Sabedoria, não consiste em repetir
verbalmente "eu, eu", mas em buscar, por meio de uma mente profundamente
interiorizada, de onde o "eu" surge. Pensar "Eu não sou isso", "Eu sou
aquilo" pode ajudar, mas não constitui a inquirição em si.
Quando
questionamos dentro da nossa mente "Quem sou eu?" e chegamos ao
Coração, o "eu" sucumbe e imediatamente outra entidade se revela
proclamando "Eu-Eu". Muito embora ela também surja dizendo "eu", não se
trata mais do ego, mas sim da Existência Única, perfeita.
Se
investigarmos incessantemente a forma da mente, descobriremos que não
existe algo chamado "mente". Este é o caminho direto aberto a todos.
A
mente é constituída apenas de pensamentos, e para todos eles a base ou
fonte é o pensamento-"eu". O "eu" é a mente. Se nos voltarmos para
dentro perguntando pela Fonte do "eu", o "eu" sucumbe. Esta é a
investigação da Sabedoria. Onde o "eu" se dissolve, outra entidade
emerge como "Eu-Eu" por conta própria: é o Ser Perfeito.
É
inútil remover as dúvidas. Se esclarecermos uma, outra surgirá e não
haverá fim para elas. Todas as dúvidas cessarão apenas quando quem
duvida e sua Fonte forem encontrados. Procure a Fonte do responsável
pela dúvida e você descobrirá que ele na realidade não existe. Se o questionador cessar, as dúvidas também cessarão.
Como
a Realidade é você mesmo, não há nada a realizar. Todos tomam o irreal
por real. É preciso que você desista de tomar o irreal por real.
A
finalidade de toda meditação ou repetição de mantras é apenas isso -
abrir mão de todos os pensamentos referentes ao não Eu; é desistir de
todos os pensamentos e concentrar-se num só. O objetivo de toda
prática é fazer com que a mente fique unifocada, concentrando-a num só
pensamento e assim excluindo os demais. Fazendo isso, no final até mesmo
esse pensamento único irá embora e a mente se extinguirá em sua fonte.
Quando
inquirimos "Quem sou eu?", o "eu" investigado é o ego. Também é esse
"eu" quem faz a autoinvestigação. O Ser não tem inquirição. É o ego que
faz a investigação. O "eu" sobre o qual a investigação é feita também é
ego. Como resultado da investigação, o ego deixa de existir e
descobrimos que somente o Eu Real existe.
Qual
a melhor maneira de se aniquilar o ego? Para cada um o melhor caminho é
aquele que parece mais fácil ou que tem maior apelo. Todos os caminhos
são igualmente bons, na medida em que conduzem ao mesmo objetivo:
dissolver o ego no Eu Real. O que o devoto chama de entrega, aquele que
faz investigação chama de Sabedoria. Ambos estão tentando levar o ego de
volta à Fonte da qual ele surgiu e fazê-lo ser absorvido por ela. Pedir
que a mente mate a si mesma é como fazer do ladrão um policial. Ele irá
com você e fingirá prender o ladrão, mas nada será ganho. Portanto,
volte-se para dentro, veja de onde surge a mente e ela deixará de
existir.
A respiração e a mente surgem da mesma fonte e quando uma delas é controlada, a outra também fica controlada.
De fato, no método investigativo
- no qual, aliás, a pergunta "De onde eu vim?" seria mais correta do
que "Quem sou eu?" - não estamos simplesmente tentando eliminar, dizendo "não sou o corpo, nem os sentidos" e assim por diante, visando alcançar a realidade última, mas sim estamos procurando descobrir onde surge o pensamento-"eu" ou ego dentro de nós. O método contém em si - de forma implícita - a observação da respiração.
Quando observamos de onde o pensamento-eu surge, estamos observando também a fonte da respiração, já que tanto o pensamento-"eu"quanto a respiração provêm da mesma Fonte.
O controle da respiração pode servir como uma ajuda, mas por si mesmo nunca pode levar ao objetivo. Enquanto você o pratica mecanicamente, procure manter a mente alerta, lembrando do pensamento-eu e da busca pela sua Fonte. Então você descobrirá que o pensamento-eu
surge do lugar no qual a respiração desaparece. Eles desaparecem e
emergem juntos. O pensamento-"eu" também submergirá junto com a respiração. Simultaneamente, um outro "Eu-Eu"- luminoso e infinito - emergirá, e será constante e inquebrantável.
Este é o objetivo, o qual recebe diferentes nomes: Deus, Eu Real, Kundalini , Shakti, Consciência, etc.
"Quem
sou eu?" não é um mantra. Significa que você deve descobrir onde em
você surge o pensamento-"eu", que é a fonte de todos os outros
pensamentos. Mas se você achar que o caminho da investigação é difícil
demais, continue a repetir "eu-eu", e isso o levará ao mesmo objetivo. Não há nenhum mal em usar o "eu" como um mantra. Trata-se do primeiro nome de Deus, Eu Sou.
Peço
que veja onde o "eu" surge em seu corpo; mas realmente não é muito
correto dizer que o "eu" surge e dissolve-se no Coração no lado direito do peito. O Coração é outro nome para a Realidade e não está nem dentro nem fora do corpo. Não pode haver nenhum dentro e fora para Ela, já que a Realidade apenas é. Por "Coração" não me refiro a nenhum órgão fisiológico, nenhum plexo de nervos ou qualquer coisa do gênero.
Mas
enquanto a pessoa se identificar com o corpo e pensar ser o corpo, ela é
aconselhada a ver no corpo onde o pensamento-"eu" surge e
volta a se dissolver. Deve ser no Coração, no lado direito do peito.
Todo homem de qualquer raça, língua ou religião, quando diz "eu", aponta para o lado direito do peito para referir-se a si mesmo. Isso é verdadeiro em todo o mundo. Portanto,
esse deve ser o lugar. E observando-se de forma perspicaz o constante
surgimento do pensamento-"eu" no estado de vigília e de seu desaparecimento no sono, podemos ver que surge no Coração no lado direito.
Saiba
primeiro quem você é. Isso não requer escrituras ou erudição. É
simplesmente experiência. O estado de Ser está aqui e agora o tempo
todo. Você perdeu contato consigo mesmo e está pedindo orientação aos
outros. O propósito da espiritualidade é voltar a mente para
dentro. Se você conhecer a si mesmo, nenhum mal poderá lhe acontecer.
Como você me perguntou, eu estou lhe dizendo. O ego só surge agarrando-se a você.
Permaneça no Eu Real e o ego desaparecerá.
Até este momento o sábio estará feliz dizendo: "Eis aí", e o ignorante perguntando: "Onde?".
A regulação da vida, tal como levantar-se em uma hora determinada, tomar banho, praticar repetição de mantras, etc., tudo isso é para quem não se sente atraído pela auto investigação ou não é capaz de fazê-la. Mas para aqueles que podem
praticar esse método, todas as regras e disciplinas são desnecessárias.
Sem dúvida é dito em alguns livros que devemos cultivar uma
virtude após outra e assim nos prepararmos para a Libertação; mas para
os que seguem o caminho da Sabedoria ou da investigação, sua meditação é por si só suficiente para adquirir todas as qualidades divinas."
Sri Ramana Maharshi em Pérolas de Sabedoria: Vida e Ensinamentos
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