segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Navegar é preciso, por Fernando Pessoa


Navega, descobre tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá.

Admira a Lua, sonha com ela, mas não queira trazê-la para a Terra.

Goza a luz do Sol, deixa-te acariciar com ele. O calor é para todos.

Sonha com as estrelas, apenas sonha, elas só podem brilhar no céu.

Não tentes deter o vento, ele precisa correr por toda a parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.

As lágrimas? Não as seques, elas precisam correr na minha, na tua, em todas as faces.

O sorriso! Esse deves segurar, não o deixes ir embora, agarra-o!

Quem amas? Guarda dentro de um porta-jóias, tranca, perde a chave! Quem amas é a maior jóia que possuis, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira, conserva a vontade de viver, não se chega a parte alguma sem ela.

Abre todas as janelas que encontrares e as portas também. Persegue o sonho, mas não o deixes viver sózinho. Alimenta a tua alma com amor, cura as tuas feridas com carinho.

Descobre-te todos os dias, deixa-te levar pelas tuas vontades, mas não enlouqueças por elas.

Procura! Procura sempre o fim de uma história, seja ela qual for.

Dá um sorriso àqueles que esqueceram como se faz isso. Olha para o lado. Há alguém que precisa de ti. Abastece o teu coração de fé, não a percas nunca.

Mergulha de cabeça nos teus desejos e satisfá-los. Agoniza de dor por um amigo, só sairás dessa agonia se conseguires tirá-lo também.

Procura os teus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura. Arrepende-te, volta atrás, peça perdão!

Não te acostumes com o que não te faz feliz, revolta-te quando julgares necessário. Enche o teu coração de esperança, mas não deixes que ele se afogue nela.

Se achares que precisas de voltar atrás, volta! Se perceberes que precisas seguir, segue!

Se estiver tudo errado, começa novamente. Se estiver tudo certo, continua.

Se sentires saudades, mata-as. Se perderes um amor, não te percas! Se o achares, segura-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.  "O mais é nada".


Fernando Pessoa


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