sábado, 3 de novembro de 2012

Buscando a Paz

.....Conheceu este lugar quando um colega da clínica a convidou para assistir uma apresentação de Tai Chi, uma arte milenar chinesa que costuma ser realizada nessa floresta. Ficou impressionada com a leveza dos movimentos e com a harmonia e o equilíbrio demonstrados pelos participantes. E aprendeu o caminho. Dizem que não existe acaso, que nada acontece por simples conscidência, mas seja como for, este foi um marco na vida de Clara. Depois desse dia, ela voltou aqui inúmeras vezes, fez deste passeio o seu preferido, e vem, sempre que pode, para renovar as energias aqui, onde o homem e a natureza estão em perfeita harmonia, em total integração. Aqui sente-se em comunhão com tudo que a cerca, como se fizesse parte de algo maior... Gosta de observar algumas pessoas sentadas, em posição de lótus, fazendo meditação, praticando Ioga.... Parece que assimila a paz que emana dessas pessoas. Admira a capacidade que têm de relaxar assim, totalmente... sair da realidade e ir para outros níveis de consciência. Gosta de silêncio, ficar em lugares que permitam estar consigo mesma. Desde criança é assim, introspectiva, temperamento calado e observador. Diziam que vivia no mundo da lua. Na verdade, gostava de ficar quietinha para conversar consigo mesma, ouvir as vozes falarem dentro dela. Ela mesma respondia às perguntas que fazia, precisava de silêncio para ouvir... Ainda agora, muitas vezes sente necessidade de falar sozinha. E aqui, neste bosque encontrou o sossego que precisa para se encontrar consigo mesma.. É como se este pedaço de chão, estas árvores e tudo aqui lhe pertencessem. Seu pequeno mundo de paz em meio a tanta violência que acontece lá fora, assustando as pessoas, as famílias e a sociedade. Aqui sente-se segura, não corre qualquer risco, pode relaxar sem medo. Este é o lado mais calmo do bosque. Poucas pessoas vêm para cá, a maioria prefere o outro lado, onde há bancos para sentar, lugar para fazer refeições e alguns brinquedos onde as crianças se distraem. Sobe calmamente, percorrendo o mesmo caminho, ou melhor, a mesma trilha entre árvores de diferentes espécies e tonalidades. Vai em busca do seu lugar, o cantinho que descobriu há algum tempo atrás bem no meio da floresta, uma clareira com uma imensa araucária, uma espécie de pinheiro que sobressai entre tantos outros. Este passou a ser o seu refúgio. Um tronco caído serve-lhe de banco. Sente como se alguém tivesse vindo antes prepará-lo para ela. Enquanto senta, pensa que este tronco também já foi uma árvore que cresceu e um dia morreu, mas ainda agora continua sendo importante. Não oferece mais sombra mas tornou-se um lugar onde podem descansar os caminhantes.... esta árvore tão antiga é capaz de guardar em si a memória do tempo, pensa enquanto olha ao redor e percebe trilhas abertas por outros que vieram antes dela. Faz alguns exercícios respiratórios e logo uma sensação agradável vai percorrendo o seu corpo e se irradiando até a mente. Sente-se relaxada enquanto respira o ar puro desse lugar meio escondido e por isso mesmo, ainda preservado da ação predatória do homem. Lamenta que tantas pessoas ainda não aprenderam a olhar ao redor de si mesmos, percebem apenas o seu próprio mundo e perdem de vista a Vida que se manifesta na natureza. Lamenta pelos “adormecidos”. Ouve o alegre cantar dos passarinhos que, em bandos, voam de um árvore para outra, alegres, felizes simplesmente, por poder voar. Por viver em contato com outros seres, viver em liberdade. São muitos e de várias espécies, cores e tamanhos...voam livres. Livres como o pensamento de Clara que agora também voa.... Pensa nas pessoas que se esquecem que a liberdade é o anseio não só dos homens, mas de todos os seres vivos. Pessoas que prendem diversas espécies de aves em gaiolas, que mesmo que fossem de ouro continuariam sendo apenas uma prisão. Isto porque “gostam de passarinhos e querem acordar ouvindo o seu canto”. O egoísmo do homem torna-o cego. ........ "Atravessando o Portal do Tempo"

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