domingo, 4 de novembro de 2012

Sobre o Amor

Sabemos pouco do amor, da sua extraordinária ternura e poder. Muito facilmente usamos a palavra "amor"; o militar usa-a, o carniceiro usa-a, o homem rico usa-a, assim como o rapaz e a moça. Mas sabemos pouco do amor, da sua vastidão, da sua imortalidade, da sua profundidade. Amar é ter consciência da eternidade. O relacionamento é uma coisa estranha; muito facilmente caímos na habituação a um relacionamento particular, onde as coisas são tomadas como garantidas, com a situação aceite, não se tolerando qualquer variação; não se considera nenhum movimento em direção à incerteza, mesmo por um segundo. Tudo é de tal modo regulado, tornado “seguro”, bem amarrado, que não há qualquer hipótese de frescor, de um respirar revivificador. A isto, e a muito mais, se chama relacionamento. Se observarmos de muito perto, verificamos que o verdadeiro relacionamento é muito mais sutil, mais rápido que um relâmpago, mais vasto do que a Terra, pois ele é vida. A vida é conflito. Queremos fazer do relacionamento uma coisa grosseira, rígida, manipulável. Deste modo, ele perde a sua fragrância, a sua beleza. Isto surge porque não amamos, e o amor é certamente a maior das coisas, pois nele acontece o completo abandono de nós mesmos. É preciso grande inteligência para um homem e uma mulher se esquecerem de si mesmos, para poderem viver juntos, não se rendendo um ao outro ou não sendo dominados um pelo outro. O relacionamento é a coisa mais difícil da vida. Não sei, mas o amor incendeia-me. É uma chama inextinguível. Tenho tanto disso, que quero dá-lo a todos, e dou. É como um grande rio, que alimenta e rega cada vila e aldeia; ele vai sendo poluído, deságua nele a porcaria do ser humano, mas depressa as águas se purificam a si próprias, e rapidamente segue em frente. Nada pode estragar o amor, pois todas as coisas se dissolvem nele - o bom e o mau, o feio e o belo. O amor é algo que é a sua própria eternidade. O amor é um coisa "perigosa", só ele traz a única revolução que proporciona felicidade. São poucos os que são capazes de amar, e tão poucos os que realmente querem o amor. Amamos segundo as nossas próprias condições, fazendo do amor um coisa de mercado. Temos mentalidade mercantil, mas o amor não é comercializável nem é um negócio de troca. O amor é um estado de ser, no qual todos os problemas humanos se resolvem. Vamos ao poço com um dedal e assim a vida torna-se uma coisa sem qualidade, insignificante e limitada. J. Krishnamurti

Nenhum comentário: