domingo, 4 de novembro de 2012

Sobre quem reinais?

... O planeta era minúsculo. Sobre quem reinaria o rei? - Majestade... eu vos peço perdão de ousar interrogar-vos... - Eu-te ordeno que me interrogues, apressou-se o rei a declarar. - Majestade... sobre quem é que reinais? - Sobre tudo, respondeu o rei, com uma grande simplicidade. - Sobre tudo? O rei, com um gesto discreto, designou seu planeta, os outros, e também as estrelas. - Sobre tudo isso? - Sobre tudo isso. respondeu o rei. Pois ele não era apenas um monarca absoluto, era também um monarca universal. - E as estrelas vos obedecem? Sem dúvida, disse o rei. Obedecem prontamente. Eu não tolero indisciplina. Um tal poder maravilhou o principezinho. Se ele fosse detentor do mesmo, teria podido assistir, não a quarenta e quatro, mas a setenta e dois, ou mesmo a cem, ou mesmo a duzentos pores-do-sol no mesmo dia, sem precisar sequer afastar a cadeira ! E como se sentisse um pouco triste à lembrança do seu pequeno planeta abandonado, ousou solicitar do rei uma graça: - Eu desejava ver um pôr-do- sol ... Fazei-me esse favor. Ordenai ao sol que se ponha. . . - Se eu ordenasse a meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformar-se em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem - ele ou eu - estaria errado? - Vós, respondeu com firmeza o principezinho. - Exato. É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar, replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, farão todos revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis. - E meu pôr-do-sol? lembrou o principezinho, que nunca esquecia a pergunta que houvesse formulado. - Teu pôr-do-sol, tu o terás. Eu o exigirei. Mas eu esperarei, na minha ciência de governo, que as condições sejam favoráveis. - Quando serão? indagou o principezinho. - Hein? respondeu o rei, que consultou inicialmente um grosso calendário. Será lá por volta de ... por volta de sete horas e quarenta, esta noite. E tu verás como sou bem obedecido. O principezinho bocejou. Lamentava o pôr- do-sol que perdera. E depois, já estava se aborrecendo um pouco! - Não tenho mais nada que fazer aqui, disse ao rei. Vou prosseguir minha viagem. - Não partas, respondeu o rei, que estava orgulhoso de ter um súdito. Não partas: eu te faço ministro - Ministro de quê? - Da ... da justiça - Mas não há ninguém a julgar! - Quem sabe? disse o rei. Ainda não dei a volta no meu reino. Estou muito velho, não tenho lugar para carruagem, e andar cansa-me muito. - Oh! Mas eu já vi, disse o príncipe que se inclinou para dar ainda uma olhadela do outro lado do planeta. Não consigo ver ninguém ... - Tu julgarás a ti mesmo, respondeu-lhe o rei. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio. - Mas eu posso julgar-me a mim próprio em qualquer lugar, replicou o principezinho. Não preciso, para isso, ficar morando aqui. - Ah ! disse o rei, eu tenho quase certeza de que há um velho rato no meu planeta. Eu o escuto de noite. Tu poderás julgar esse rato. Tu o condenarás à morte de vez em quando: assim a sua vida dependerá da tua justiça. Mas tu o perdoarás cada vez, para economizá-lo. Pois só temos um. - Eu, respondeu o principezinho, eu não gosto de condenar à morte, e acho que vou mesmo embora. - Não, disse o rei. Mas o principezinho, tendo acabado os preparativos, não quis afligir o velho monarca: - Se Vossa Majestade deseja ser prontamente obedecido, poderá dar-me uma ordem razoável. Poderia ordenar-me, por exemplo, que partisse em menos de um minuto. Parece-me que as condições são favoráveis ... Como o rei não dissesse nada, o principezinho hesitou um pouco; depois suspirou e partiu. - Eu te faço meu embaixador, apressou-se o rei em gritar. Tinha um ar de grande autoridade. As pessoas grandes são muito esquisitas, pensava, durante a viagem o principezinho. O pequeno Príncipe

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