Minha mensagem é a
prática do amor, da compaixão e da bondade. Estas qualidades são muito
úteis para vivermos nosso cotidiano mais harmoniosamente, e também muito
importantes para a sociedade humana como um todo.
Uma profunda compaixão é a raiz de todas as formas de adoração.
Aonde
quer que eu vá, sempre aconselho as pessoas a serem altruístas e
bondosas. Tento concentrar toda a minha energia e força espiritual na
disseminação da bondade. É o que há de mais essencial.
A bondade é o que
realmente importa. A bondade, o amor e a compaixão combinados são
sentimentos que levam à essência da fraternidade. São os alicerces da
paz interior.
Com sentimentos de
ódio e rancor, é muito difícil alcançar a paz interior. Neste sentido,
as religiões e crenças são convergentes. Em todas as grandes religiões
do mundo, a ênfase é no espírito de fraternidade.
São os inimigos que
verdadeiramente nos ensinam a vivenciar sentimentos de compaixão e
tolerância. As guerras surgem porque não há compreensão do lado humano
das pessoas. Ao invés de conferências e encontros políticos, por que não
convocar as famílias a fazerem um piquenique para que se conheçam
mutuamente, enquanto suas crianças brincam juntas?
Nos tempos antigos,
quando havia uma guerra, o embate era corpo a corpo. O vitorioso entrava
em contato direto com o sangue e o sofrimento do inimigo durante a
batalha. Hoje, as guerras adquiriram uma proporção muito mais horrenda.
Um homem, sentado em uma sala, aperta um botão e mata milhões de pessoas
instantaneamente, sem ao menos ver o sofrimento humano que infligiu. A
mecanização da guerra e a automação do conflitos humanos são, cada vez
mais, uma ameaça à paz mundial.
Sempre acreditei que
a determinação humana e a verdade prevaleceriam sobre a violência e a
opressão. No mundo de hoje, em todos os lugares, há mudanças importantes
ocorrendo, que poderão afetar profundamente nosso futuro e o futuro da
humanidade, bem como nosso planeta. Decisões corajosas por parte de
vários líderes mundiais propiciam a resolução pacífica de conflitos. A
esperança de haver paz, preservação do meio ambiente e uma abordagem
mais humana aos problemas do mundo parece estar mais presente que nunca.
Ninguém pode prever o
que acontecerá em algumas décadas ou séculos, por exemplo, qual o
impacto que o desflorestamento terá sobre o clima, o solo, as chuvas.
Temos muitos problemas porque as pessoas estão centradas em seus
próprios interesses, em ganhar dinheiro e não estão pensando no
bem-estar da comunidade como um todo. Não estão pensando na Terra a
longo prazo, e nos efeitos ambientais adversos sobre o homem. Se nós, da
atual geração, não refletirmos sobre estas questões agora, as gerações
futuras não terão como lidar com elas.
Muitos de nós
juntam-se sob o mesmo sol resplandecente, falando línguas diversas,
vestindo indumentárias diferentes e até mesmo possuindo crenças
distintas. Contudo, nós todos somos idênticos como seres humanos e
individualmente únicos. Desejamos todos, indistintamente, a felicidade e
não o sofrimento.
Mesmo que não
possamos resolver certos problemas, não devemos nos frustrar. Como
humanos devemos enfrentar a morte, a velhice e doenças, que, tal qual um
furacão, são fenômenos naturais que fogem ao nosso controle. Devemos
enfrentá-los, não podemos evitá-los. São sofrimentos que já bastam em
nossa vida. Por que criarmos mais problemas por apego à nossa ideologia
ou porque pensamos de maneira diferente? É inútil e triste! Milhões de
pessoas sofrem com esse tipo de problema. É um verdadeiro desperdício,
visto que podemos evitar o sofrimento adotando uma atitude diferente e
reconhecendo a humanidade à qual as ideologias deveriam servir.
Rancor, ódio, ciúme:
não é possível encontrar a paz com eles. Podemos resolver muitos de
nossos problemas por meio da compaixão e do amor. Só assim nos
desarmaremos e encontraremos a verdadeira felicidade. Uma das maiores
virtudes é a compaixão. A compaixão não pode ser comprada numa loja de
departamentos ou fabricada por máquinas. Ela advém do crescimento
interior. Sem paz de espírito, é impossível haver paz no mundo.
Na nossa vida,
cultivar a tolerância é muito importante. Com tolerância, pode-se
facilmente superar as dificuldades. Caso você tenha pouca ou nenhuma
tolerância, ficará irritado com as mínimas coisas. Em situações
difíceis, terá reações extremadas. Em minha vida, já refleti muito a
respeito desta questão e sinto que a tolerância é algo que deve ser
praticado no mundo inteiro, no seio da sociedade humana. Mas, quem nos
ensina tolerância? Pode ser que seus filhos o ensinem a cultivar a
paciência, mas é seu inimigo quem irá ensinar-lhe a prática da
tolerância. O inimigo é seu mestre. Mostre-lhe respeito, ao invés de
ódio. Dessa forma, a verdadeira compaixão irá brotar de seu interior e
essa compaixão é a base de tudo aquilo que você é e acredita.
Bens e compensações
materiais são absolutamente necessários à sociedade humana, a um país, a
uma nação. Ao mesmo tempo, o progresso material e a prosperidade
somente não podem levar à paz interior. A paz interior vem de dentro.
Portanto, nossa atitude perante a vida, perante os outros e
principalmente em relação às nossas dificuldades conta muito. Quando
duas pessoas enfrentam o mesmo problema, atitudes mentais distintas
fazem com que o problema seja de mais fácil resolução para uma pessoa do
que para outra. Desta forma, o que realmente nos diferencia é a
perspectiva interna de cada um.
Se colocarmos os
níveis de consciência mais sutis a nosso serviço, estaremos expandindo
nossa mente. Assim sendo, as virtudes originárias da mente podem se
expandir ilimitadamente.
A compaixão e o amor
são as virtudes mais preciosas da vida. Por serem muito simples, são
difíceis de serem colocados em prática. A compaixão só poderá ser
plenamente cultivada à medida que se reconhece que cada ser humano é
parte da humanidade e pertencente à família humana, independente de
religião, raça, cultura, cor e ideologia. A verdade é que não há
diferença alguma entre os seres humanos.
Sem amor, a
sociedade humana encontra-se em situação difícil. Sem amor, iremos
enfrentar problemas terríveis no futuro. O amor é o centro da vida.
Se
tiver amor e compaixão por todos os seres sencientes, em especial por
seus inimigos, este é o verdadeiro amor e a verdadeira compaixão. O amor
e compaixão, nutridos por seus amigos, esposa e filhos, não são
verdadeiros em sua essência. São apego, e esse tipo de amor não pode ser
infinito.
Insisto em afirmar
que as principais religiões do mundo — budismo, cristianismo, judaísmo,
confucionismo, hinduísmo, islamismo, jainismo, sikhismo, taoísmo,
zoroastrismo — possuem os mesmos ideais de amor, o mesmo objetivo de
beneficiar a humanidade por meio da prática espiritual, e a mesma
determinação de aprimorar seus praticantes como seres humanos. Todas as
religiões pregam preceitos morais para o aperfeiçoamento da mente, do
corpo e da fala. Todas nos ensinam a não mentir, roubar ou tirar a vida
de outras pessoas. A essência de todos os preceitos morais preconizados
pelos grandes mestres da humanidade é o não-egoísmo. Esses mestres
tinham como objetivo remir os praticantes de ações negativas, frutos da
ignorância, e conduzi-los ao caminho do bem.
Se percebemos a
humanidade como sendo una e singular, iremos constatar que as diferenças
são secundárias. Com atitude de respeito e preocupação pelo próximo,
experimentamos a felicidade. Só assim criamos a verdadeira harmonia e
fraternidade. À sua maneira, tente cultivar a paciência. Modifique sua
atitude. As mudanças vêm com a prática. A mente humana tem esse
potencial. Aprenda a treiná-la.
A nossa sombra
interior, a que chamamos de ignorância, é a raiz de todo o sofrimento.
Quanto mais luz houver, menos a sombra se manifestará. A luz é o único
caminho para a salvação, para alcançar o nirvana.
Deve haver um
equilíbrio entre o progresso espiritual e o material. Atinge-se esse
equilíbrio por meio de princípios calcados no amor e na compaixão. O
amor e a compaixão são a essência de todas as religiões, que têm muito a
aprender entre si. O objetivo primordial de todas as religiões é criar
seres humanos mais tolerantes, mais compassivos e menos egoístas.
Os seres humanos são
dotados de uma natureza tal que não deveriam apenas possuir bens
materiais, mas deveriam antes possuir sustento espiritual. Sem o
sustento espiritual, torna-se difícil adquirir e manter a paz de
espírito.
Para cultivar a
sabedoria, é preciso força interior. Sem crescimento interno, é difícil
conquistar a autoconfiança e a coragem necessárias. Sem elas, nossa vida
se complica. O impossível torna-se possível com a força de vontade.
Dalai Lama
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