Se conhecermos e aceitarmos todas as nossas partes,
podemos chegar a essa natureza superior”.
Virginia Satir
O mundo dos sonhos.....
Um sonho antigo vem à lembrança. Um especial que se repetiu em
muitas noites da sua vida. Neste sonho ela, era uma criança de uns nove ou dez anos, e brincava num belo jardim, entre árvores e
plantas floridas. Muitas flores de todas
os tipos e cores. As cores eram diferentes, mais bonitas e luminosas, como se estivessem vivas. Era um lugar desconhecido. Certamente nunca
havia estado ali. O lugar convidava a brincar, correr e sentir o perfume de
tantas flores...e acabou adormecendo aos pés de uma árvore.
Acordou com alguém chamando por
seu nome. Diante dela, um velhinho de
barbas brancas e uma roupa estranha, como uma espécie de camisolão;
e pés descalços. Que figura estranha!
Ah! o olhar era lindo e doce. Havia alguma coisa de diferente nesse
jeito de olhar... Sabe aquele olhar de quem tem todo o conhecimento do mundo,
que sabe tudo da vida? Era assim o olhar
desse “velho”.
“Olhando desse jeito deve ser uma pessoa boa”. -, pensou
enquanto o observava.-
Na cabeça tinha um gorro esquisito e nas mãos trazia uns papéis
enrolados.
“ Parece bom. E esses papéis esquisitos, para que servem?
“Filha, eu sou o seu Mestre! Venho acompanhando você desde tempos
distantes. Estou sempre por perto, mesmo que não perceba. Isto que trago nas
mãos, não são papéis, minha criança, são
rolos de pergaminhos.”
Sobressaltou-se ao ouvir a voz.
“E parece que também é mágico porque sabe ler pensamentos, pensou a
menina”.
- Pergaminhos? Para que serve isso,
pergaminhos?
- Minha criança, servem para escrever.
Aqui estão escritos todos os
conhecimentos do mundo. Isso é a magia. O conhecimento!
- Do Céu e da Terra?
- Exatamente. Todo o saber do
Universo. A Verdade e as Leis.
- Que Leis são essas?
- As Leis que regem a vida e a morte.
Mas isto não é assunto para agora.
Quando chegar a hora, você aprende
- Você trouxe os pergaminhos para mim
- Sim, são seus. Eu os guardei para lhe entregar no momento certo.
Quero que os coloque embaixo do travesseiro sempre
que for dormir. Assim você vai
aprendendo, sem fazer qualquer esforço. Enquanto dorme sua mente inconsciente
vai aprendendo, assimilando e registrando todo o saber acumulado nestes papéis.
E no momento certo, os conhecimentos
estarão ao seu alcance e então você vai saber o que precisa para realizar seu plano de vida.
-
Como você sabe o que eu penso? Você
está sempre aqui por perto?
- Eu conheço todos seus pensamentos, tudo que passa pela sua cabecinha. Sei do
que gosta e do que não gosta, dos seus
sonhos, do que você quer. Sei,
por exemplo, que gosta de brincar nos
jardins e de cuidar da natureza. De contar histórias às bonecas e às crianças
da escola.
- Então pode me ensinar a comunicar com a s fadas?
Falar com elas? – Sei também que gosta de conversar com as fadas e com as
borboletas. Quero que saiba que isso é muito bom, mostra que é uma menina
sensível. Para falar com a natureza, é preciso sensibilidade. Garanto-lhe que as fadinhas, como você as chama, a
escutam e entendem perfeitamente o que você diz. E para
ouvi-las basta ficar em
silêncio, calar as vozes que falam dentro da sua cabecinha. Entende?
É isto você não está fazendo, ficar em
silêncio.
- Mas mandar as vozes se calar é tão difícil....
- Certo...., você tem razão, isto que estou dizendo realmente é a parte mais difícil. Depende de muita
prática, muito exercício, mas você consegue. Depois que aprender isto, vai
descobrir outros meios de fazer contato com outras formas de vida.. Então, repetindo, você fala tudo que quiser, pode contar-lhes suas
novidades mas depois, fica quietinha, em
silêncio. Olhando para as plantas, as flores, sentindo seu perfume, pode admirar os passarinhos, perceber seu
canto...tudo, tudo em silêncio, sem
permitir que os pensamentos façam barulho...
depois, volte a atenção para dentro do seu coração. É aí que você ouve as respostas. Compreende?”
- É assim, dessa maneira, que a natureza fala com o homem, através do
coração. Mas é preciso fazer silêncio
para ouvir. Isto se aprende com o
tempo...e você tem todo o tempo que precisa para aprender isto e tudo mais que
seu coração anseia. Sabe, filha? Muitas coisas você já sabe, mas não sabe que sabe. Quando chegar o
momento certo e estiver preparada
para lembrar o que precisa ser
lembrado... de onde veio e porque veio, eu voltarei. Pode aguardar, volto
quando estiver pronta para entender a sua missão, a sua tarefa.
Quantas vezes este sonho se repetiu!
E ao acordar, a sensação era sempre
a mesma. Uma mistura de vazio e tristeza, como se sentisse saudade do
velhinho.
- Onde
está o meu amigo sábio? Ele é real ou viverá apenas nos meus sonhos?
Quanto tempo passou perdida nas lembranças do passado?
Despertou da “viagem no tempo” e
assustada viu que havia alguém ao seu lado. Não estava mais só. Ao seu lado um homem a olhava. Como não percebeu a sua chegada? De que
lado teria vindo? Disfarçando a surpresa, sorriu,
cumprimentando a figura idosa com quem agora dividia o “seu banco”. Recebeu como resposta o olhar mais doce e tranqüilo que já havia
visto. Um olhar de tanta ternura que pensou ainda estar sonhando.
Que estranho! Esse homem a
olhava como se a conhecesse, com carinho.. um sentimento diferente. Sentiu-se
emocionada diante desse olhar. Ficou
assim, apenas olhando, sem nada dizer... nem sabia o que dizer a essa pessoa
estranha que a olhava como se penetrasse na sua alma.
A presença daquele homem sentado ao seu lado, no velho tronco caído, aquela aparência e olhar de sabedoria e,
principalmente a energia que ele emitia..., tudo isto trazia-lhe à lembrança,
os sonhos do passado
- Parece que estava muito longe, talvez em outro tempo.... num mundo
infinitamente rico de beleza e magia. E
de conflitos também.
Estas palavras a trouxeram de volta à realidade.
- Quem é este homem? O que sabe de mim e do meu mundo? E este
jeito de olhar? – pensou e sem saber o que dizer, levantou-se.
- “
Não vá ainda, filha! Temos tanto a conversar....”
Filha... Ele a chamou de filha com tamanha intimidade, que a deixou
apreensiva, mesmo assustada.
- Senhor, de onde o conheço? Da
maneira como fala, parece me
conhecer...Perdoe-me mas não lembro de onde .
- “ O tempo faz esquecer, é natural... A mente
esquece, mas o coração não, ele espera
pacientemente o momento certo, mas não esquece os encontros marcados. Nós
marcamos este encontro num outro tempo e em outro lugar...acredite. Finalmente chegou a hora de nos revermos.
Clara estava cada vez mais confusa.
Seu coração lhe dizia que alguma coisa muito especial estava prestes a
acontecer. Talvez isso estivesse relacionado com a expansão da sensibilidade e intuição Sabia quando o
telefone ia tocar, pensava em alguma pessoa que não via há tempos e a
encontrava...Definitivamente, algo ocorria. Mas o que?
Sempre
se impressionava com a capacidade de algumas
pessoas sensitivas ou, como dizem paranormais, de prever acontecimentos.
Claro que isto não tinha nada a ver com ela. Também não era qualquer tipo de
paranormalidade, que a atraía. Algumas
a assustavam com suas adivinhações e com as demonstrações de determinados poderes...Nunca sabia se podia
acreditar, não tinha condições de saber ao certo se eram ou não “do bem”.
E agora surge, não se sabe de onde, esse
homem que consegue ler seus pensamentos.
“ Por que não ouve o seu
coração? Ele não lhe diz que pode
confiar? Por que insiste em fechar os
ouvidos à sua sabedoria interior?. Entregue-se a ela..., com certeza, não se
arrependerá. Deixe que o coração a guie. Você veio até aqui trazida por esta
sabedoria”.
“ Os homens continuam surdos à
voz do coração, que nunca falha. Por
isto permanecem cheio de dúvidas,
imersos na escuridão e na ignorância. Esquecem de consultar a mente inconsciente
onde guardam todo o conhecimento
acumulado na sua existência. Perdem um tempo precioso com tantas
futilidades...Julgam ser felizes se
alimentando dos falsos prazeres.
Não sabem o que é felicidade, não aprenderam ainda, mas um dia vão
aprender, que há algo mais entre o céu e a Terra do que sequer podem imaginar”.
E continuou no mesmo tom de voz:
“ Felizmente já vemos luz ao
final desse caminho. É verdade que muitos continuam surdos à voz que os
chama e até cegos diante dos acontecimentos que o cercam,
mas muitos outros, já estão descobrindo a verdade, começam a despertar! Como disse, a luz está
se acendendo! ”
“ Você mesma....pense nas inúmeras
vezes que se surpreendeu com pensamentos estranhos, alguns que com
certeza não eram seus... Com conceitos ou preconceitos com os quais nem
concordava. Este é o início deste processo de acordar de que lhe falo:
desenvolver a capacidade de atenção, de perceber o que ocorre dentro e fora de
si. Desse modo, pode ver com
clareza o que é seu e o que não
lhe pertence. Estar atenta a idéias
estranhas que surgem em meio aos seus próprios pensamentos. É deste modo que
prepara para tudo que a espera, para
viver mais intensamente seu presente e caminhar, com segurança rumo ao futuro”.
Enquanto ouvia, Clara pensava no que significava tudo isto que ele
dizia....era bonito lá isso era, mas
muito novo para ela.
- Que homem estranho! Sem dúvida
sabe muitas coisas.... sabe ler pensamentos, sabe o que eu penso....deve
ser um sábio...ou um mágico? . Será que é um desses mestres que dizem
que aparecem na nossa vida quando queremos aprender sobre as coisas ocultas?
Preciso ter cuidado, pode ser um sujeito perigoso..., sei lá quais são suas
intenções.”
Viu o sorriso carinho no rosto
do velho.
“ Tranqüilize-se minha criança.
Permita-me chamá-la assim, pois para mim você é ainda uma criança. No Universo,
as coisas acontecem na hora que devem acontecer, nunca antes e nem depois.
Acredite que não é por acaso que nos encontramos aqui. Na verdade eu tenho
estado por aqui há algum tempo, mas você não me percebeu. Como disse tudo
acontece no tempo certo. E este é o tempo certo. Você tem muitas perguntas que
merecem respostas, como uma criança cheia de
curiosidade... isto é muito bom. Se me permite, convido-a para me
acompanhar até ali adiante, logo ali, a final desta trilha. Lá poderemos
conversar melhor”.
As palavras do velho
despertavam sua curiosidade. Que magia tinha este ser que a olhava tão
docemente e falava desse modo ao seu
coração. De um lado ela ficava assustada, mas de outro.....Não, ele não
oferecia qualquer perigo. Passava uma sensação de confiança, não deixava lugar para qualquer tipo de suspeita a seu
respeito. Clara, num impulso,
levantou-se e segurou a mão que se
estendia na sua direção. A curiosidade
falou mais alto. Afinal, ele poderia ser
um mestre! Um desses que dizem
que aparecem quando queremos aprender
coisas que não estão nos livros.
Lembrou-se do livro que uma amiga lhe deu de presente no último aniversário. Era bem
interessante! Contava a história de um homem que percorreu toda a Índia em busca de um mestre. Já havia andado
por muitos lugares mas, nenhum dos
muitos mestres que encontrou lhe satisfazia. Andou durante anos até encontrar
alguém que seu coração aceitou como Mestre. Capaz de guiá-lo até o conhecimento
de si mesmo. Este mestre falava de amor,
de humildade, de respeito ao próximo...mas falava de um jeito diferente de
todos os outros que conhecera antes, não falava
apenas com palavras, ele todo expressava estes sentimentos. Tão bonita a história deste
homem....Precisou de muita persistência,
mas valeu a pena.
Seu coração bateu mais depressa....E se ela também tivesse a sorte de
encontrar um mestre de verdade? Por
que esse “senhor” não poderia ser um?
Estes pensamentos, mais que curiosidade, criaram expectativa e
ansiedade. Sem relutar, Clara, como uma criança, simplesmente se deixa levar
pela mão do novo amigo. Ele lhe inspira
tal confiança que ela segue tranqüila
pelo caminho de terra e folhas secas
pelo chão.
O dia está especialmente bonito, não há nuvens no céu e o sol brilha em
todo o seu esplendor. Os galhos e folhas
das árvores filtram seus raios impedindo que tornem a temperatura
desconfortável.
Caminham calados durante alguns minutos, pela trilha que sobe por entre
as árvores, e quando esta se
alarga, pode-se ver adiante uma pequena
gruta ou talvez uma construção de pedras toscas, feita há muito tempo
atrás....Alguns pedaços de pedra servindo de degraus permitem acesso à entrada.
Ele pára diante da escada rústica. O
ambiente é de absoluto silêncio, ali não há ninguém além deles e da natureza
“ Sente-se aqui, ao meu lado, nesta pequena pedra”.
A voz do velho trouxe Clara mais uma vez de volta. Ela se pergunta se
não estaria cometendo uma loucura, se deixando
levar assim, como quando criança, pelo mundo da imaginação.
- Devo estar sonhando... eu aqui seguindo um desconhecido, uma figura
que mais parece ter saído de algum livro de histórias infantis ou quem sabe
mesmo, desses contos de magia ou mitologia.
“ Moro aqui, neste cantinho da floresta. Até aqui só vem quem convido
ou eu mesmo trago. Assim ninguém me importuna e não incomodo ninguém. Você é
muito especial, por isso está aqui, conhecendo meu pequeno mundo”.
- Senhor qual é seu nome? Por
que mora aqui, tão isolado? E por que me trouxe até aqui?
O velho sorri diante de tantas perguntas.
“ Calma, filha. Não permita que
a ansiedade se apodere de você..
Convidei você para conhecer este cantinho,
porque aqui podemos conversar tranqüilamente e, como já disse, ainda que não se lembre, nosso encontro estava marcado. Meu nome.... É mesmo importante ter um nome?”
“ Filha, nomes não importam.
Olhe, já tive muitos, poderia
dizer-lhe qualquer um deles, mas não faz diferença como você vai me chamar, eu
ouvirei e vou atendê-la, ainda que não perceba .”
Clara Olhava o velho sem saber o que dizer.
“ Preste atenção: Vou
ensinar-lhe um modo de chamar-me, ou melhor, de comunicar-se comigo, esteja
você onde estiver. Faça deste
jeito: Encoste a ponta do dedo indicador
da mão esquerda na ponta do mesmo dedo
da mão direita. Assim...Agora, que os dois dedos indicadores
estão juntos, bem encostados, leve-os à testa, bem aqui, sobre este ponto que
chamamos de chacra frontal. Isto! Bem, este é o primeiro passo, junte agora as
mãos, deste jeito, como se fosse orar, e leve-as ao peito”.
“ Pense em mim, firmemente, e
sinta dentro do coração a minha presença. Eu ouvirei o chamado. Veja, não
precisa falar nada, faça apenas estes gestos, e pense neste amigo na mente e no
coração. Isto funciona como um código. E
acredite que não falha. E não se
assuste se me encontrar em algum outro lugar, costumo andar por aí”.
- Por que escolheu um lugar tão
deserto para morar? Posso lhe perguntar?
“ Este lugar serve bem para as minhas necessidades. Aqui tenho o
silêncio de que necessito, que me permite
meditar sem ser importunado.
Tenho a água fresca de uma fonte aqui perto e também os seres da
natureza, com quem me comunico. Como já disse este é um lugar especialmente
escolhido para atender as necessidades de um velho como eu”.
- Mas como posso falar-lhe se
não tenho o seu nome?
“ Chame-me de amigo, de irmão mais velho, como preferir”.
- Posso chamar-lhe de Mestre?
“ Não, criança....Este termo deve ser usado apenas com pessoas muito,
muito especiais. Você mal me conhece. Chame este seu amigo de irmão. Isto, irmão. É um bom nome para usar quando
quiser me chamar”.
- Irmão! Está bem, Irmão. Agradeço muito ter me dedicado tanto tempo e
atenção. Foi uma experiência muito
importante para mim, este nosso encontro. Agora preciso mesmo ir.
“ Você está prestes a viver
algumas experiências que haverão de modificar toda a sua vida. A roda está
girando. Esse movimento da roda abre e fecha ciclos da existência. Este ciclo da sua vida está se fechando. Acredite, sua vida vai passar por grandes
transformações. E será muito feliz. Sim. Viverá momentos de extrema alegria e
paz”. Você merece, é a Lei de causa e efeito se fazendo cumprir. Quem semeia
rosas, não colhe espinhos, não é assim?”
“Antes de ir, quero falar-lhe
um segredo. Àquela mesa...aquela do sonho,
era você que estava sentada. Ou melhor, partes de você mesma. Partes
suas que estão em conflito. Que não se entendem entre si, porque todas querem a
primazia de ser mais importantes que as outras. Não sabem ainda, que têm todas
a mesma importância. A criança, a adolescente, a professora... Mesmo a parte crítica tem uma tarefa de grande valor,
porque impede que você faça algo que possa trazer-lhe arrependimento e dor. Todas, absolutamente
todas, têm tarefas igualmente valiosas.
Saber disso é indispensável para o seu
equilíbrio.... Converse com elas, ofereça a cada uma um bonita rosa cor de rosa,
a cor do Amor. Sentindo-se amadas e prestigiadas, não haverá razão para conflitos
ou luta pelo poder. Diga-lhes que as aceita e ama. Verá a Paz se manifestando no seu mundo interno.”
“Este encontro é o primeiro de muitos outros Haveremos de nos
encontrar muitas outras vezes. Até lá,
lembre-se dos gestos que lhe ensinei. Eles farão com que, mesmo distantes,
estejamos sempre em sintonia. Agora,
acompanho você até a sua clareira”.
- Quando nos veremos de novo?
“ Esteja certa que, quando menos esperar, nos encontraremos. Por hora,
lembre-se de fazer os gestos que lhe ensinei. É um sinal. Estes simples gestos
vão permitir que tenha acesso a lembranças e a muitos conhecimentos que já tem
aí na sua mente inconsciente. É como uma senha para acelerar o seu
despertar. Confie neste irmão mais
velho. Na melhor hora eu volto a procurá-la, sei como a encontrar”.
Na clareira se despedem com um gesto e um sorriso nos lábios. Clara
atravessa os caminhos de terra até o lugar onde deixou o carro e desce pela
estrada que a leva até
casa. . Sente-se confusa, mas emocionada enquanto lembra do seu velho
amigo e do modo tão carinhoso com que a olhava, do seu jeito de falar,
Lembra-se de cada palavra dita por ele. Está
cada vez mais confusa, sem saber o que pensar. A cabeça parece rodar.
Antes de voltar para casa, passou pela floricultura e comprou um buquê
de rosas.
Colocou a jarra de flores sobre a cômoda do quarto. Sentou e conversou
consigo mesma. Com suas partes
inconscientes. Ofereceu-lhes as rosas e pediu que as aceitassem com amor. Agradeceu-lhes a boa intenção. Sabia que queriam ajudá-la,
todas queriam a sua felicidade. Cada uma a seu modo, acreditava ter o melhor
instrumento para facilitar a sua vida e todas queriam espaço para se
manifestar. No entanto, esse conflito interno não era bom, estava fazendo mal a
ela. Sugeriu que se dessem as mãos, e unidas, sim poderiam colocar todos os seus
recursos à sua disposição. Ela saberia que podia contar com eles quando
necessitasse.
Foi como se fizesse uma oração. Quando
Clara se comunicou mentalmente
com as suas várias partes em desequilíbrio, uma sensação de paz a inundou.
Estava tranqüila e agradecida ao Irmão que a ajudou a compreender a mensagem do
inconsciente.
- Preciso descansar, sinto-me estranha. A cabeça voltou a doer.
Enquanto se dirige para a geladeira e prepara um suco de frutas, tenta
em vão colocar as idéias em ordem. Depois de um banho morno e relaxante,
vestida com um pijama confortável, deita-se e ajeita o travesseiro daquele
mesmo modo como quando era ainda uma adolescente... Dentro de alguns minutos dorme um sono
repleto de figuras estranhas: de heróis e bruxas, de cavaleiros e princesas, de
plantas e flores que falam, seres que pulam de dentro da água.....imagens que
refletem seu estado de confusão interior.
MCCA
continua...
MCCA
continua...
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