Iluminar-se é dotar-se de luz, a fim de clarear a própria vida.
Iluminar o mundo interior é o mesmo que adicionar energia à luz interna,
chama divina do Criador da Vida, adquirindo a consciência das
potencialidades inerentes ao próprio Espírito.
O ser humano é mais do que imagina e do que percebe que é. Ele tem
mais capacidades do que acredita que possuí. Mesmo as pessoas que ainda
se encontram no início de sua caminhada evolutiva, possuem esse sentido
interior de crescimento, portanto
a potencialidade de realizá-lo. Esse sentido interno que o
direciona a auto-realização chama-se Self. Essa iluminação interna não é
uma simples descoberta de
algo que se encontra escondido, mas se dá no encontro com a
realidade externa. Trata-se de um longo processo de amadurecimento do
Espírito, o qual vai a busca de si mesmo para iluminar-se interiormente,
não mais perdendo seu brilho. Esse processo se dá por etapas que
sintetizamos em quatro para melhor compreensão. São etapas dessa longa,
lenta e necessária caminhada:
a) autoconhecimento, ou o conhecimento de si mesmo;
b) autodescobrimento, ou a descoberta das potencialidades;
c) autotransformação, ou mudança de comportamentos;
d) autoiluminação, ou a manifestação do Espírito, essência divina pessoal.
Essas etapas não são estanques e isoladas. Elas podem ocorrer
simultaneamente e em qualquer época da vida. Geralmente se iniciam na
meia idade, quando alguns processos já foram vividos. Muitas vezes se
iniciam após uma crise de valores ou crise de Vida. Essas etapas levam
várias existências, até que o espírito alcance determinadas conquistas
na evolução. Uma vez alcançado o final do processo, o espírito poderá
escolher onde, com quem e de que forma voltará a uma nova existência.
Diante das crises que propiciam as mudanças é necessário fazer silêncio.
Silêncio para ouvir a voz interior que vem do Self, da intimidade do
Espírito, senhor do processo de encontro com Deus. O silêncio na vida é
como uma meditação para se encontrar a paz de espírito desejada, para
depois recomeçar a caminhar. Ouvir a voz interior é perguntar-se o que
deve fazer em determinada situação, sem apressar a resposta. O processo
de iluminação interior é a descoberta do deus interno, parcela criadora
gerada diretamente por Deus, em nós. Há um Deus, Absoluto, Único,
Criador e Causa de todas as coisas.
Há um deus interno, imagem e semelhança de Deus, descoberto
inicialmente pelas manifestações da Natureza, confirmado pela
necessidade psicológica de sua existência e sentido pela vivência do
amor em plenitude. Iniciar um processo de auto-iluminação é passar a
espiritualizar o próprio olhar sobre o mundo, colocando o amor na
consciência, inundando a razão do sentimento de amorosidade.
Dessa forma, as idéias e raciocínios passam a ser contaminados
pelos sentimentos superiores oriundos do Espírito, dotado de amor e
sabedoria, proporcionando prosperidade e tranqüilidade na vida. Ser
próspero é estar resolvido nas várias dimensões, e isto ocorre quando se
atua no mundo com respeito ao próximo e amorosidade na vida. Quando
atuamos no mundo, quer captando a realidade quer desejando
transformá-la, fazemo-lo segundo condicionantes psíquicos já antes
citados. A esses arquétipos, usando uma linguagem psicológica junguiana,
se acoplam funções psíquicas que enfeixam nossa maneira de perceber e
agir, e que são formas de captação da realidade, as quais, de tanto
utilizarmos, acabam se confundindo com a própria personalidade. Tais
formas de captação são utilizadas de acordo com certos tipos
característicos de indivíduos. As formas ou funções são: pensamento,
sentimento, sensação e intuição. A função pensamento nos permite ver o
mundo de forma lógica e pragmática e as coisas de acordo com sua
utilidade; a função sentimento, ao contrário da anterior, nos leva a ver
o mundo a partir de um sistema valorativo emocional; a
função sensação nos capacita a ver o mundo como ele é de forma
bastante realística, isto é, sensorial, no qual as coisas são como se
nos apresentam; a função intuição nos condiciona a ver a realidade de
forma completa, projetando-a no tempo e no espaço como uma totalidade.
Essas funções psíquicas conseguem particularizar e separar a
realidade de tal forma que acreditamos que o mundo é daquela maneira
que vemos. No processo de iluminação interior deveremos aprender a
utilizar as quatro funções, bem como outras que venhamos a descobrir
durante as etapas. A totalidade do ser humano, isto é, do espírito, não
pode se resumir a seus processos psíquicos. Entendo que a mente ou o
aparelho psíquico, é instrumento do Espírito, portanto apenas expressa
parte dele. A iluminação interior se dará por via desse complexo
funcional, porém não se restringe a ele, nem tampouco se limita à
descoberta de capacidades intelectivas, emocionais ou mediúnicas.
Iluminar-se é, como Espírito, sentir a totalidade criada por Deus e
viver segundo Seus objetivos. É sentir-se como se estivesse fora do
corpo, num determinado lugar.
Num lugar onde não existe ódio, no qual a felicidade é possível,
onde não há crimes, ou guerras, onde não há rancores ou tristezas, onde
as pessoas se entendem, os deveres são seguidos, onde todos têm
oportunidades idênticas, onde vigora a mais perfeita justiça e todos os
direitos são respeitados, onde nenhum mal alcança, onde não há doenças,
onde não existe pobreza nem miséria, onde o forte respeita o fraco e não
há oprimidos, não há minorias nem maiorias, onde as pessoas não entram
em depressão nem têm medos, onde seus anseios são satisfeitos e as
verdades são ditas de forma amorosa, onde não há culpas, onde impera a
fraternidade, não há inveja nem cobiça, onde o amor é o sentimento
máximo, onde as pessoas estão em paz e vivem em plenitude de espírito,
onde se pratica a verdadeira caridade, onde não há traças nem ladrões,
onde as virtudes são exercidas e o bem vigora sempre. Lá, não há tempo
nem espaços vazios, não há condições de sofrimento, tudo é belo e
harmônico, onde a
natureza fez sua morada, onde Deus é cultuado em espírito e
verdade. Este lugar é a consciência do ser espiritual que nós somos,
essência divina criada simples e ignorante para, como uma flecha
arremessada pelo arqueiro, alcançar o alvo da perfeição. Em nós,
Deus habita e fez sua morada. Somos a mônada celeste em busca de
realização. Surgimos do leito profundo e quente dos oceanos em busca da
Terra-Mãe, carentes do encontro com a superfície, na procura do solo
para ancorarmos e, a partir daí, irmos a busca do Universo infinito.
Crescemos sob a influência das forças telúricas da natureza que forjaram
nossa capa protetora do corpo físico. Amoldando-nos às contingências da
natureza, suplantamos os desafios da matéria e das energias envolvidas
no processo de aprimoramento material e espiritual. Somos fruto do nosso
próprio esforço pela conquista do encontro com o Criador. Impulsionados
pelo seu Augusto Amor, desafiando obstáculos sem fim, aprendemos a
distinguir as escolhas necessárias para o conhecimento de Suas leis.
Submetidos ao Seu impulso criador aprendemos a viver e conviver nas
várias espécies vegetais e animais, nos vários reinos da natureza,
formando as capacidades de sentir, pensar e amar, para, finalmente,
alcançarmos a condição de seres iluminados.
Adenauer Moraes, in
Psicologia e Espiritualidade
post em "Portal Arco Iris"
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